Enio Lins

O mundo “mais pior” desde ontem, depois das eleições americanas

Enio Lins 07 de novembro de 2024

Na madrugada de ontem (4:31no horário do Brasil), num resort de luxo em Palm Beach, quando as projeções garantiam o voto republicano de 267 dos 270 delegados necessários para eleger o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump se autoproclamou vitorioso. Da Flórida falando para o mundo, anunciou a volta dos velhos tempos. 

RETROCESSO RETUMBANTE

Por volta das 7:40 da manhã (horário do Brasil), as projeções confirmavam uma superioridade incontestável. Neste 2024, Donald fez de pato todo mundo, ganhou ganhando, e elegendo a maioria na Câmara e no Senado. Agora, é hora do planeta se preparar para a marcha-à-ré prometida durante a campanha. Protecionismo como nunca dantes, perseguições aos migrantes, restrições às minorias, mais esmagamento dos interesses financeiros sobre os interesses sociais etc. Se vislumbra um Big Stick, o Grande Porrete de Theodore Roosevelt em formatação Inteligência Artificial estilo Elon Musk. Mas como “a vida é uma caixinha de surpresas”, é bom manter a atenção redobrada, especialmente no cenário da política internacional.

DIPLOMACIA E CIVILIDADE

Menos de 90 minutos depois da confirmação da vitória trumpista, Lula parabenizou o eleito: “Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, postou o presidente brasileiro às 8:56 AM. Em 2020, quando Joe Biden venceu a parada, o então ocupante do Palácio do Planalto achou melhor jair enviando seus cumprimentos somente depois de um mês do resultado americano ter sido anunciado... Ao fim e ao cabo, passada a fase da retórica, se faz necessário voltar vestir os trajes pragmáticos. Sem ilusões, pois com as medidas protecionistas comentadas por Trump (aumentos de tarifas de importação para todos os produtos que entram nos Estados Unidos, subida essa acompanhada por taxas extras contra países e/ou governos que ache antipáticos) é hora de muito mais jogo de cintura no trato comercial. Quanto às relações políticas, indubitavelmente existirá uma maior área de atrito, mas de intensidade incerta. Do lado de cá, ao Sul da Casa Branca, Lula mexeu a pedra dele na hora certa. Vamos ver a jogada do galego do Norte, sem pressa nem aperreio.

“ÉPOCA DE OURO” PROMETIDA 

Em sua fala da madrugada, em Palm Beach, Trump reafirmou sua promessa de devolver aos Estados Unidos sua “época de ouro”. E, nessa toada, todas as análises listam duas ações imediatas esperadas pelo eleitorado trumpista: 1) Prosperidade econômica (queda da inflação, redução dos preços e oferta de mais emprego); 2) expulsão de milhões de imigrantes (considerados como “ladrões” de empregos e de oportunidades). O resto, de início, é conversa para boi dormir – mas, é previsível que, face a dificuldades em cumprir rapidamente essas duas grandes promessas, Donald se volte para outros itens conservadores (pautas moralistas, ações armadas no exterior) como tapa-buracos. Óbvio que “apenas” esses dois pontos estratégicos (mais economia e menos migrantes) provocarão enormes reflexos no resto do mundo, pois para os Estados Unidos ficarem ainda mais ricos, outros países terão de ficar mais pobres; e o retorno forçado de centenas de milhares de pessoas para sua terra natal se anuncia como uma tragédia social de grande porte. Enfim, o mundo piorou de ontem para hoje. Mas a luta continua. Para quem aposta na humanidade, é levantar-se, sacodir a poeira e dar a volta por cima.