Enio Lins
Que fazer, senão torcer para o cordão azul americano?
Em sua diversificada e atabalhoada forma de eleger quem ocupará a presidência da República, os Estados Unidos vão, em sua esmagadora maioria, às urnas no dia 5 de novembro. Mas a eleição já começou com a coleta dos sufrágios de quem quis votar antecipadamente, como foi o caso do cidadão Joe Biden, atual inquilino da Casa Branca, que votou na segunda-feira, 8, em New Castle, Estado de Delaware. Pelo menos um voto Kamala já tem – teria, pois só vai poder computar depois do término do processo, quando quem vencer naquele Estado vai levar os votos de todos os três delegados delawarianos. O número de delegados varia de Estado para Estado. Califórnia, por exemplo, vai ao Colégio Eleitoral com 54 votos para um único nome chamar de seus.
QUE MUDA O QUE?
Em verdade pouco muda qualquer que seja a criatura eleita para a Casa Branca, pois os interesses hegemonistas dos Estados Unidos são os mesmos há dois séculos, quando uma estratégia neoimperialista foi desenhada, em 1823, pela Doutrina Monroe, apresentando o governo americano como o defensor da “liberdade” nos países alheios. Sob a presidência de Theodore Roosevelt, entre 1901 e 1909, essa política imperial foi explicitada, com menos palavras adocicadas, pela Doutrina do Grande Porrete, onde as intervenções militares foram assumidas como iniciativa legítima, embora isso já fosse perfeitamente visível durante a guerra contra a Espanha pelo controle de Cuba (1895/1898). Esse sentimento de “dono do mundo”, entretanto, tornar-se-ia avassalador durante a II Grande Guerra Mundial, turbinado pelo desempenho notável das forças armadas americanas na luta contra o Eixo, e pelo fato de que (fora Pearl Harbour) nenhuma bomba caiu sobre o território estadunidense, o que garantiu um crescimento impressionante de sua economia naquele período de tremendo desastre em todas as demais potências envolvidas. Assim, quem quer que pegue o volante, não poderá, por mais que queira, levar o veículo para outros trilhos. Em termos gerais, as eleições americanas não mudam nada (ou quase nada) para o mundo sob o peso do dólar e das armas ianques, mas alguns detalhes específicos contam, sim, e podem salvar vidas.
KAMALA X TRUMP
Considerando cosméticas as diferenças programáticas (estratégicas) entre Kamala Harris e Donald Trump, é importante prestar atenção aos detalhes. Afinal, vivemos numa área considerada quintal dos Estados Unidos pelos americanos do “neo big stick”. E, justiça seja feita, o governo Joe Biden se negou a apoiar a aventura do golpe bolsonarista antes, durante e depois do 8 de janeiro de 2023... Então vamos lá, digo logo meu “voto”: Kamala é menos pior que Trump, no somatório das maiores e menores maldades entre ela e ele. Por incrível que possa parecer, Donald (como já escrito aqui antes) tem uma posição muito melhor que Harris no quesito OTAN (defendendo a redução dos investimentos naquela aliança militar). E, em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, Donald tem sido mais Putin que Zelensky. No quesito “genocídio contra os palestinos”, ambos são favoráveis aos massacres israelenses, e quando o terrorista Bibi Netanyahu visitou os Estados Unidos (em julho deste ano) foi recebido com honras por Joe Biden, Kamala Harris e Donald Trump. Em relação aos migrantes, ao meio-ambiente e direitos humanos (questões raciais, sociais e LGBTQIA+...), entretanto, Kamala Harris vence de goleada Donald Trump. Isto posto, considerando o grande risco de Trump vencer a eleição, resta torcer pelo cordão azul americano, pois Dona Kamala é muito menos pior.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.