Enio Lins
Migrantes: um drama humano que já foi sinônimo de sucesso
Tema recorrente de Trump em suas campanhas eleitorais, a migração é uma tragédia contemporânea cuja dramaticidade não se pode ignorar. Donald, em sua peroração eleitoral (pela terceira vez) busca votos do vasto segmento anti-imigração com um discurso de ódio, racista, tipo Ku Klux Klan. E, ninguém se iluda, encontra eco em imigrantes que se consideram, ou querem se sentir, seguros nos Estados Unidos – através da adesão e colaboração com o inimigo autodenominado “nativo”.
SOLUÇÃO E PROBLEMA
Migrar é uma característica de quase todas as espécies, inclusive a humana. É consenso, há muito tempo, sobre as incríveis andanças dos Homo Sapiens, aparecidos na África, há 300 mil anos, e que de lá emigraram para ganhar o mundo. E os humanos modernos não se aquietam parados no mesmo campo por muito tempo, e botam pra andar. Nem sempre pacificamente. É andando e matando, como não cantam as canções. A migração foi uma solução desde tempos imemoriais, com a descoberta e exploração de novos territórios, garantindo a sobrevivência, espalhando e perpetuando a nossa espécie, mas... Esse benefício migratório carregou consigo vários malefícios. Os aclamados livros “Armas, Germes e Aço”, de Jared Diamond; e “Sapiens”, de Yuval Harari, apresentam fatos amplamente comprovados, evidências e suspeitas da ação destruidora dos humanos em suas peregrinações, seja contra seus semelhantes, seja contra praticamente todos os demais seres vivos. Nunca foi simples nem angelical a migração humana. E hoje segue sendo, cada dia mais, mais problema que solução – e caldo de cultura para todo tipo de desumanidade.
QUADRO AMERICANO
É a migração contemporânea um desafio que tem provocado respostas racistas e autoritárias, diferenciando migrantes entre “do bem” e “do mal”. Há muito tempo, os suprematistas americanos usam o filtro WASP (sigla em inglês para branco, anglo-saxão e protestante) para distinguir quem é bem-vindo ou não. Mas a porteira originalmente aberta para os povos brancos de origem germânica/britânica e evangélicos sempre deixou algumas brechas para judeus de origem europeia e para muçulmanos com dinheiro no bolso. Assim, a régua do racismo norte-americano distingue Donald Trump (filho de uma migrante escocesa) de Kamala Harris (filha de uma migrante indiana e, ainda por cima, de pai negro e jamaicano). Para o suprematismo, ele é do bem, ela é do mal. Ele capricha em maldades para confirmar e ampliar sua força branca, e ela tem de se virar em mil para compensar a “mancha” racial. Mas, em termos geográficos americanos, ambos são filho e filha de ventres estrangeiros.
DRAMA CRESCENTE
É problema, sim, a onda migratória para os Estados Unidos. É um dilema alimentado pela própria propaganda estadunidense (histórica e enganosa) como a “terra da liberdade e da oportunidade” e pelas consequências de sua política imperialista, expressas aqui nos compromissos – involuntários – com as populações desalojadas por suas permanentes guerras impostas ao resto do planeta. Essa multidão de refugiados, em verdade, é o maior, mais urgente, e mais dramático problema para o qual os Estados Unidos não têm propostas adequadas. E não está sendo abordado eleitoralmente. Por exemplo: onde abrigar os milhões de palestinos expulsos de suas terras pelo apoio irrestrito dos norte-americanos aos israelenses? Tanto Donald Trump quanto Kamala Harris passam ao largo dessa dívida real, tragicamente americana, contraída frente a todas as populações desalojadas por culpa das iniciativas geopolíticas da Casa Branca.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.