Enio Lins

Tribuna Corrupção e atraso político nas eleições na América do Norte

Enio Lins 23 de outubro de 2024

Nos Estados Unidos, Musk está oferecendo US$ 1 milhão por dia para eleitores que aderirem à campanha de Donald Trump, através do auditável “AmericaPAC”. A brasileira Jovem Pan, em postagem no dia 21, noticiou: “O sorteio será restrito a residentes de estados considerados estratégicos para o pleito, como Pensilvânia, Geórgia, Nevada, Arizona, Michigan, Wisconsin e Carolina do Norte. O primeiro vencedor, identificado como John Dreher, recebeu seu prêmio em Harrisburg, na Pensilvânia”. Os PACs (Political Action Committee) são células de captação e distribuição de dinheiro para uso eleitoral. No caso, esse comitê foi criado pelo proprietário do X para cabalar votos para Trump, e – segundo a Wikipedia – “até setembro de 2024, Musk foi o único doador do PAC, totalizando cerca de US$ 75 milhões”. E existe quem acredite ser a compra de votos uma marca exclusiva das “republiquetas de bananas do Terceiro Mundo”. 

EIXO DO ATRASO 

Nas idas e vindas próprias em quaisquer processos eleitorais, Trump havia crescido pouco, em termos de intenção de votos, com a ocorrência da “bala que triscou a orelha” (e matou de verdade um de seus apoiadores), e perdido força com a indicação de Kamala Harris para a competição pela Casa Branca. Estava em baixa. Mas, segundo a mídia internacional e as pesquisas americanas, Donald tem recuperado competitividade, crescendo nos chamados “Estados Decisivos” e em manchas retrógradas como o “Cinturão da Bíblia”. Esse cinto teocrático engloba nove Estados sulistas de raízes conservadoras e racistas, de maioria protestante, e ninho de teses fundamentalistas como a defesa de governos e leis sob a orientação das “escrituras sagradas”. Oklahoma, Arkansas, Mississipi, Louisiana, Tennesse, Geórgia, Alabama, Carolina do Norte (onde acontece resistência significativa ao conservadorismo) e Carolina do Sul compõem o eixo do atraso onde Trump teve sólida vantagem nas eleições anteriores e segue avançando neste ano. 

ESTADOS DECISIVOS 

Não existe, na prática, a eleição direta para presidente dos Estados Unidos da América. O nome ganhador da Casa Branca é decidido, ao fim e ao cabo, por um colégio eleitoral de 538 membros, onde votam delegados escolhidos pelo resultado do voto popular, direto, em cada Estado. Historicamente, a decisão final de quem ocupará a presidência tende a se concentrar nos chamados “Estados Decisivos”, locais onde o eleitorado está mais dividido e possuem número expressivo de delegados ao Colégio Eleitoral. Essa listagem varia de eleição para eleição e, neste pleito presidencial de 2024, sete Estados estão sendo considerado definidores: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Assim, nessa área oscilante, Musk botou pocando pra comprar votos, apostando em desequilibrar e definir a eleição. 

DECISÃO DA MINORIA 

Como se sabe, pelo estapafúrdio método americano, a candidatura que tiver a maioria dos votos diretos em cada Estado, mesmo que seja por um voto, leva todos os delegados estaduais para o Colégio Eleitoral (Maine e Nebraska são exceções, onde funciona uma complexa divisão das delegações). Na história das eleições presidenciais americanas, por cinco vezes, ocorreu a eleição de presidentes que tiveram menos votos diretos, populares, que seus concorrentes. Em 2016, Hillary Clinton teve, nas urnas, três milhões de votos a mais que Donald Trump, mas foi ele quem ganhou a presidência dos Estados Unidos, com 304 votos dos delegados no Colégio Eleitoral, contra 227 dela. Querem repetir a dose, custe o que custar.