Enio Lins
Tribuna Corrupção e atraso político nas eleições na América do Norte
Nos Estados Unidos, Musk está oferecendo US$ 1 milhão por dia para eleitores que aderirem à campanha de Donald Trump, através do auditável “AmericaPAC”. A brasileira Jovem Pan, em postagem no dia 21, noticiou: “O sorteio será restrito a residentes de estados considerados estratégicos para o pleito, como Pensilvânia, Geórgia, Nevada, Arizona, Michigan, Wisconsin e Carolina do Norte. O primeiro vencedor, identificado como John Dreher, recebeu seu prêmio em Harrisburg, na Pensilvânia”. Os PACs (Political Action Committee) são células de captação e distribuição de dinheiro para uso eleitoral. No caso, esse comitê foi criado pelo proprietário do X para cabalar votos para Trump, e – segundo a Wikipedia – “até setembro de 2024, Musk foi o único doador do PAC, totalizando cerca de US$ 75 milhões”. E existe quem acredite ser a compra de votos uma marca exclusiva das “republiquetas de bananas do Terceiro Mundo”.
EIXO DO ATRASO
Nas idas e vindas próprias em quaisquer processos eleitorais, Trump havia crescido pouco, em termos de intenção de votos, com a ocorrência da “bala que triscou a orelha” (e matou de verdade um de seus apoiadores), e perdido força com a indicação de Kamala Harris para a competição pela Casa Branca. Estava em baixa. Mas, segundo a mídia internacional e as pesquisas americanas, Donald tem recuperado competitividade, crescendo nos chamados “Estados Decisivos” e em manchas retrógradas como o “Cinturão da Bíblia”. Esse cinto teocrático engloba nove Estados sulistas de raízes conservadoras e racistas, de maioria protestante, e ninho de teses fundamentalistas como a defesa de governos e leis sob a orientação das “escrituras sagradas”. Oklahoma, Arkansas, Mississipi, Louisiana, Tennesse, Geórgia, Alabama, Carolina do Norte (onde acontece resistência significativa ao conservadorismo) e Carolina do Sul compõem o eixo do atraso onde Trump teve sólida vantagem nas eleições anteriores e segue avançando neste ano.
ESTADOS DECISIVOS
Não existe, na prática, a eleição direta para presidente dos Estados Unidos da América. O nome ganhador da Casa Branca é decidido, ao fim e ao cabo, por um colégio eleitoral de 538 membros, onde votam delegados escolhidos pelo resultado do voto popular, direto, em cada Estado. Historicamente, a decisão final de quem ocupará a presidência tende a se concentrar nos chamados “Estados Decisivos”, locais onde o eleitorado está mais dividido e possuem número expressivo de delegados ao Colégio Eleitoral. Essa listagem varia de eleição para eleição e, neste pleito presidencial de 2024, sete Estados estão sendo considerado definidores: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. Assim, nessa área oscilante, Musk botou pocando pra comprar votos, apostando em desequilibrar e definir a eleição.
DECISÃO DA MINORIA
Como se sabe, pelo estapafúrdio método americano, a candidatura que tiver a maioria dos votos diretos em cada Estado, mesmo que seja por um voto, leva todos os delegados estaduais para o Colégio Eleitoral (Maine e Nebraska são exceções, onde funciona uma complexa divisão das delegações). Na história das eleições presidenciais americanas, por cinco vezes, ocorreu a eleição de presidentes que tiveram menos votos diretos, populares, que seus concorrentes. Em 2016, Hillary Clinton teve, nas urnas, três milhões de votos a mais que Donald Trump, mas foi ele quem ganhou a presidência dos Estados Unidos, com 304 votos dos delegados no Colégio Eleitoral, contra 227 dela. Querem repetir a dose, custe o que custar.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.