Enio Lins

Uma imagem alvissareira como esperança de renovação

Enio Lins 17 de outubro de 2024

Noticiada discretamente, a homenagem prestada por Lula à memória de Eduardo Campos, quando do ato de inscrição do nome do ex-governador de Pernambuco no Livro de Heróis da Pátria, tem em si um conteúdo importante a ser destacado: a necessidade das forças democráticas (arco que vai do centro à esquerda) de renovarem suas lideranças.

LULA DE OLHO NO FUTURO

Na foto de foco centralmente familiar, e com Renata Campos segurando uma criança de colo, desperta atenção a presença de três jovens de grande destaque na política contemporânea: João Campos (Prefeito do Recife, 29 anos) e Pedro Campos (Deputado Federal por Pernambuco, 23 anos), filhos de Eduardo e Renata, e Tábata Amaral (Deputada Federal por São Paulo, 29 anos). Luiz Inácio, o Lula velho de guerra, ululantemente, aposta no amanhã, sabedor do curto tempo restante para sua presença no cenário como principal (único, na verdade) bastião eleitoral das forças democráticas no Brasil. Por mais que se apure a vista em torno do presidente da República, hoje, não se enxerga, para amanhã, daqui a dois anos, uma figura democrática que possa ser candidatura viável para a faixa presidencial. E daqui a seis anos?

PÓS-LULA, O DESAFIO

É-se necessário ir além da obviedade de constatar ser indispensável novas lideranças serem produzidas, criadas (e não esperar surgirem de repente). Passa da hora de exercitar um olhar mais amplo, especialmente por quem se considere de esquerda, para as opções reais – com viabilidade eleitoral – na luta contra a extrema-direita. A ultradireita segue exibindo força desmesurada e parindo, a cada eleição, novas figuras deletérias e, infelizmente para o porvir brasileiro, morbidamente obesas de votos. Deste recente pleito, por exemplo, deveria atrair mais estudos e análises o desempenho da direita mais extremada na disputa pelas vereanças. Por exemplo, o vereador mais votado no Brasil, em 2024, foi um bolsonarista chamado Lucas, de 26 anos, que amealhou 161.386 sufrágios, e cujo currículo se resume a ser agressivo contra os adversários e ter sido estagiário no gabinete do vereador paulistano Fernando Holliday. Dos 10 nomes mais votados para as câmaras municipais em todo país, apenas três são de esquerda (dois do PSOL e um do PT). O PL, atualmente frequentado pelo inominável ex-capitão, foi o partido mais votado para as câmaras municipais em 10 das 26 capitais, e com nomes jovens, em sua maioria. No item “maior destaque nacional”, nas disputas pelas prefeituras, o título foi para o ultrabolsonarista Pablo, candidato de primeira viagem, em São Paulo.

VISÃO AMPLA

Não é muito diferente à destra, ao centro, e à canhota: A resistência às novas lideranças é um traço histórico. Infelizmente. No caso das forças democráticas brasileiras, é de urgência urgentíssima uma flexão nesta lamentável tradição. Especialmente à esquerda está colocada a tarefa de não só se renovar, mas de avançar na construção de frentes mais amplas e ter a disposição de se engajar, verdadeiramente, em campanhas de nomes que não sejam de sua própria sigla. Devo dizer que uma pulga mordeu minha orelha ao ouvir que 50 mil votos foram anulados na capital paulista pela digitação do 13 no lugar do 50. Sei não, viu? Quero crer que Lula, ao conferir pompa e circunstância a uma solenidade em torno de um político de outro partido que não o seu, cujo nome se renova numa juventude expressiva, pujante nas urnas noutra sigla, está apontando para a necessidade de menos exclusivismos e mais amplitude em termos partidários. Quero crer.