Enio Lins

Para o bem ou para o mal, a frente ampla política segue indispensável

Enio Lins 09 de outubro de 2024

Bem ou mal são conceitos antagônicos, superficial e dogmaticamente usados, e por aí se esbaldam sofismas, do tipo “homens de bem” como sinônimo de desumanidade e desonestidade. Mas, bondosamente ou maldosamente, pode ser rótulo útil como provocação. Lanço mão disso para começar esse texto, sem rodeios, em defesa da frente ampla na política como conceito bom, para o bem (dos fracos e oprimidos, como se dizia antigamente).

QUEM MAIS AVANÇOU?

Essa rotulagem antípoda, travestida ou não em formatos intelectualizados, se expressa na maioria das análises superficiais sobre os resultados eleitorais. São exercícios interessantes, capazes de produzir até efeitos inteligentes numa dicotomia Lula x Jair, mas na maioria dos casos escorrega em falsas conclusões. Ah, sim: Lula e Jair, cada qual a seu modo, entendem a importância da construção de frentes. Lula, a lenda da esquerda, tem buscado ampliar a partir de um partido-símbolo, o PT, desmistificando o radicalismo; Jair, o mito da direita, tenta se espalhar sem ter um partido para chamar de seu, apostando no extremismo como algo místico. Antes disso tudo, sem medo de errar, pode-se afirmar que a preponderância histórica é conservadora no Brasil (e em boa parte do mundo) e nossa realidade de um país formado com base no escravagismo, e no elitismo, não mudou tão radicalmente a ponto de, nestas eleições (nem nas próximas), a maioria das prefeituras brasileiras penderem para a esquerda, ou centro-esquerda. Pergunta: Com esse perfil conservador brasileiro, como é que Luiz Inácio Lula da Silva está em seu terceiro mandato como presidente da República? Resposta: além de seu carisma pessoal, Lula tem aplicado uma orientação de frente política- eleitoral (bem ampla, por sinal).

LIÇÃO ENTENDIDA?

Tal ensinamento não tem sido compreendido por parte do espectro democrático que vai do centro à extrema-esquerda. E quanto mais se avança no lado do coração, mais se nota a velha estreiteza que Lênin chamou de “doença infantil do comunismo”. Lula, brilhantemente, segue investindo pesado na política de ampliação, desde sua opção por José de Alencar para vice, em 2002, o que não por coincidência, reflete em sua primeira eleição para a presidência da República; e sua escolha pessoal de Alckmin para vice em 2022 (atropelando e abortando a disputa canhota pela vaga antes das primeiros pretendentes se mexerem) é um diploma de pós-doutorado. Entretanto, parte significativa da esquerda, no quesito “sabedoria política”, ainda está na cartilha do ABC, e só consegue (e olhe lá) ler a palavra “frente ampla” se ela for escrita em torno de um nome de seu próprio partido. Para a disputa neste ano, Lula, novamente, deu uma aula, ao definir, pulando por cima da estrutura petista, o nome de Boulos para a prefeitura paulistana (e enfrentou reações internas). Pensem bem: a esquerda iria para o segundo turno na Paulicéia Desvairada se PSOL e PT lançassem suas candidaturas próprias?

CÁ ENTRE NÓS

Falando sobre Maceió 2024, a opção por um candidato do MDB não foi digerida por boa parte das militâncias esquerdistas e centro-esquerdistas, o que muito facilitou a vida do candidato do PL, o qual, por sua vez, entendeu tão bem o conceito da amplitude que fez refletir sua eleição numa bancada amplíssima, reunindo, formal e informalmente, siglas e posicionamentos ideológicos de todos os matizes entre a extrema-direita e o centro. E agora, José (e Maria)? É hora de correr para 2026! E a política de alianças segue no centro das atenções. Será o elemento definidor, mais uma vez, seja para o bem, seja para o mal.