Enio Lins
Para qual futuro aponta o resultado das eleições 2024 em Maceió?
JHC não só ganhou com facilidade a reeleição como superou as expectativas do percentual da vitória, avaliado pelas derradeiras pesquisas antes do pleito como na faixa dos 75%, e saindo das urnas com 83,26% dos votos. Um triunfo indiscutível, elevando-o à condição de grande cacique na política alagoana.
COMPETÊNCIA PESSOAL
Mesmo considerando as vantagens usufruídas por JHC por conta do acordo com a Braskem e pelo apoio de Arthur Lira & grupo, deve-se reconhecer sua capacidade política e seu talento pessoal no trato com as redes sociais. A vitória do prefeito instagramável reafirma a relevância no cyberespaço para quem quer que almeje um lugar ao sol nos sinuosos areais da opinião pública. Comenta-se que, em uma conversa recente com um de seus poderosos aliados, cujo grupo se sentia pouco atendido pelo prefeito nas arrumações pré-eleição municipal, foi questionado se – com essas atitudes personalistas – estaria disposto a seguir caminho sozinho, sem contar no futuro próximo com tão privilegiadas alianças; João Henrique Caldas teria respondido ao interlocutor: “sim, posso seguir sozinho, me elejo só com isso aqui”, e desembainhou o celular. Fato ou boato, faz todo sentido. JHC não ganhou nenhuma ruga de preocupação quando esmagou as pretensões de Lira e demais insatisfeitos quando escolheu, monocraticamente, Rodrigo Cunha para seu vice, expondo seu objetivo estritamente pessoal de liberar a vaga no senado para sua mãe, Eudócia Caldas.
BRASKEM NO COMANDO
Economizando muitas linhas a este texto, recomendo a leitura de artigo do historiador e analista político Geraldo de Majella, publicado no site 082 Notícias, ontem, cujos título já diz quase tudo: “Como a Braskem garantiu a reeleição de JHC”. Destaco que, como resultado circunstancial dessa blindagem foram excluídas do debate eleitoral 2024 as denúncias gerais sobre o uso dessa montanha de dinheiro, e a denúncia específica sobre a operação de compra do Hospital do Coração, temas muito importantes relegados à condição de implicâncias. Mas o nó cego desse acordão está no porvir, quando as consequências do acertado forem se consolidando contra a cidade de Maceió e, neste item, é problema ainda mais grave o resultado para a Câmara Municipal, mas aí é tema para um próximo comentário. O fato é que segue agora mais incerto, mais envolto nas brumas da desinformação, o futuro da atividade da Braskem, assim como o que será mesmo feito com cerca de 20% da área urbana da cidade.
CENÁRIO A SEGUIR
Com esse resultado da eleição 2024 em Maceió, que novos cenários se descortinam para Alagoas em 2026? As obviedades apontam para JHC candidato à governador, entregando a prefeitura para Rodrigo Cunha, e avançando numa parceria com Arthur Lira, este candidato à senador. Parece evidente. Mas nem sempre a política segue rotas evidentes. Verdade é JHC ocupando a privilegiada posição de escolher entre várias alternativas para a disputa daqui a dois anos. No milenar jogo de Xadrez, o enxadrista não faz duas jogadas sucessivas. Joga e espera a vez depois do adversário jogar – mas nesse tabuleiro alagoano dos nossos dias, se considerarmos a partida aberta para as eleições gerais de 2026, e 2024 como mero lance, JHC, depois da jogada em que reconquistou a torre da prefeitura, terá de jogar novamente, mesmo que não seja imediatamente. Está na berlinda. Mais que os prováveis adversários, são seus aliados que estão de butuca nele desde domingo.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.