Enio Lins
Um dia de festa e força para a democracia representativa
Neste domingo, 6, iremos às urnas. Quem tem um mínimo de noção sobre o valor da participação popular nos processos decisórios, vai de bom gosto; quem desdenha da cidadania se amua, defende teses ou de extrema-direita (“o sistema está infestado de comunistas!”), ou de extrema-esquerda (“é um processo burguês de dominação!”), ou de extremo-centro (“é tudo ladrão!”).
CONFESSO QUE VOTEI E FUI VOTADO
Voto desde 1976. Jamais faltei às urnas. Uma vez fui até mesário, e muitas vezes exerci o honroso posto de fiscal. E, compungido, confesso ao pé do altar da Democracia: nalgumas vezes fui votado. Não muito. Das três oportunidades, duas não tinham a eleição como meta (1990 e 1994), mas uma era pra valer (1988) e valeu, apesar de ganhar pelo pau do canto – como bem definiu, e me chamou a atenção, pela magreza de votos, o saudoso João Amazonas. Assim, essas maltraçadas linhas têm sentido testemunhal, em defesa do ato de votar, e de aplauso para a tecnologia brasileira do voto eletrônico. Para o caso de você não ter paciência parar seguir lendo, adianto: VOTE! Jamais renegue esse direito, pois ele deu muito trabalho para ser mantido em vigor. E, depois da Urna Eletrônica, seu voto não corre riscos.
NOS TEMPOS DO “VOTO AUDITÁVEL”
Quem não viveu o voto impresso, “auditável”, não faz ideia do que era. Entre votar na cédula de papel e esse voto aparecer no mapa final da apuração existia um longo, penoso e vulnerável caminho. No dia da eleição, as tentativas de fraude (muitas executadas com sucesso para os fraudadores) eram inúmeras, desde a “formiguinha”, ou “corrente”, muito difícil de detectar, até as “urnas emprenhadas”, que resultava numa urna contendo muito mais votos que o número de eleitores inscritos nela. Existia ainda, vez por outra, a devastadora fraude nos mapas de apuração. Além disso, a coação direta sobre o eleitor assumia formas variadas de “auditoria” feita pelo coronelismo comprador de voto, como o “voto carbono”, e outros formatos de comprovar ao agente coator que “votou certo”. O trabalho de fiscalização era árduo e, mais das vezes, perigoso.
ESCÂNDALOS DO PASSADO
No Brasil, o velho vício mundial da fraude eleitoral foi aprofundado durante a ditadura militar entre 1964 e 1985, período no qual leis eleitorais casuísticas mudavam as regras de acordo com o humor do ditador de plantão, sempre para abrir novos caminhos para a coação e manipulação da vontade popular. Naquele período autoritário, o escândalo mais célebre ocorreu em 1982 e foi armado para roubar a vitória de Leonel Brizola (PDT) ao governo do Rio de Janeiro. Conhecido como “Caso Proconsult”, o esquema fraudulento atuava na contabilização dos votos, que eram somados por uma empresa associada a colaboradores do regime que tinha como presidente da República o general Figueiredo. Essa denúncia encontrou eco em parte da grande mídia (a censura prévia já havia sido derrotada), repercutindo fora do país e impedindo que a roubalheira tivesse sucesso. No período da redemocratização, mas ainda usando o voto impresso no papel, a ocorrência de maior repercussão nacional se deu em Alagoas, nas eleições de 1990, quando cenas dantescas – como a constatação de dólares colocados como “miolo” em sanduíches entregues a escrutinadores – foram amplamente registras pela mídia brasileira, cujos repórteres se deslocaram até Maceió para cobrir o carnaval de adulterações durante a longa e tortuosa “apuração auditável”. Repito: isto mudou, acabou, com o advento da Urna Eletrônica. Insisto: VOTE! Vote com consciência e em total segurança de que seu voto será contado de forma correta, isenta.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.