Enio Lins
Plano Diretor como Norte e mote para o voto no domingo
Depois de amanhã os municípios brasileiros escolherão quem ocupará suas prefeituras e Câmaras Municipais, num processo envolvendo 5.568 cidades. É a eleição-base, onde – por sua capilaridade – se verifica a maior proximidade entre quem vota e quem é votado. Seja na megalópole São Paulo, superpovoada por 11.451.999 habitantes, seja na pequenina Serra da Saudade, em Minas Gerais, com seus 833 moradores, o voto é pedido de forma mais direta, especialmente para a vereança. De todos os municípios brasileiros, apenas dois não terão eleições neste domingo: Brasília e Fernando de Noronha, urbes cujas eleições acompanham as datas estaduais e não municipais.
DISTRITO FEDERAL
Como sabemos, o Distrito Federal tem status especial; é meio município, meio estado, ou nem uma coisa nem outra. Desde os tempos imemoriais que se considerou o status “municipal” algo “menor” para ser a capital nacional, e o endereço dos Poderes Constituídos foi rotulado como “distrito”, numa cópia atravessada da condição da cidade de Washington, DC, capital dos Estados Unidos. Brasília, indubitavelmente, é uma cidade; apenas acha que é estado, e elege governador e deputados distritais, quando, na verdade, são prefeito e vereadores. Brasília, o município real, obviamente, é o melhor exemplo de Plano Diretor entre todas as cidades brasileiras.
FERNANDO DE NORONHA
Já o arquipélago de Fernando de Noronha herdou a conceituação de “área de segurança nacional” do tempo dos militares. Com a redemocratização, virou um “distrito estadual” pernambucano, apesar de estar distante 545 km do Recife e apenas a 360 km de Natal; o porquê não ser vinculado ao Rio Grande do Norte é algo que nem o Google sabe, mas o insular território tem um prefeito chamado de “administrador-geral”, nomeado pelo governador de Pernambuco depois do nome ser aprovado pela Assembleia Legislativa, e elege pelo voto direto seus “conselheiros distritais” (vereadores). No arquipélago, as questões da ecologia e da defesa nacional são o Norte para o Plano Diretor.
PLANOS DIRETORES
Mesmo com várias mudanças vernaculares que têm maquiado a denominação “Plano Diretor” ao sabor dos modismos, o conteúdo é o mesmo: um conjunto de normas e leis orientadoras da ocupação do solo. O planejamento urbano é uma necessidade de primeira ordem, multiplicada pelo acúmulo histórico da falta total ou parcial dessa atividade básica. Em Maceió, por exemplo, a ausência de qualquer planejamento urbano, desde a sua fundação até os anos 80/90, é ferida difícil de sarar. Chaga aberta, pois o Plano Diretor da capital alagoana, aprovado em meados de 1990, apesar de naturalmente defasado três décadas depois, sofreu alterações inexplicáveis que reintroduziram o caos urbanístico na cidade com, por exemplo, a liberação da altura dos prédios na orla e ocupação anárquica do Litoral Norte. E, além da queda, coice: sobreveio a gravíssima tragédia urbana da desocupação (e uso futuro) da vasta área sobre as minas da Braskem.
EDILIDADE ESSENCIAL
Ressalte-se ser a formulação, aprovação e fiscalização do Plano Diretor de uma cidade missão própria da Câmara Municipal. É questão legislativa. Não é atribuição executiva, embora, óbvio, a prefeitura precise participar do processo. Mas é o poder legislativo municipal a instância própria e constitucional para se debruçar sobre essa questão estratégica e que tem a ver com a vida de toda a municipalidade. Assim, antes de votar, procure saber quem, dentre as candidaturas à vereança, tem propostas– e quais – para o novo plano diretor de sua cidade.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.