Enio Lins
Não sossega nunca o crime organizado especializado em fraude eleitoral
Historicamente, o grande objetivo dos corruptores eleitorais é saber quem votou em quem. Até 1932, no Brasil se praticava o voto auditável, à descoberto. Era o “bico-de-pena”, onde, mais das vezes, o votante só assinava a folha de eleitores, pois o voto já havia sido escrito antes. Quando o rigor pelo voto secreto se acentuou, aí pelos anos 60, a fraude ocorria através de manobras como “voto formiguinha” ou “voto corrente”, “voto carbono”, sem falar nas “urnas emprenhadas”. O trabalho de fiscalização era árduo, minado por dificuldades de todos os tipos, infrutífero nos grotões, onde o coronelismo nem se preocupava em esconder os cabos e canos das armas de seus cabos eleitorais.
DITADURA, O CALDO DE CULTURA
Antigos procedimentos viciados, fraudulentos, ganharam enorme força durante o período ditatorial iniciado em 1º de abril de 1964. Cassando o direito do voto direto para instâncias executivas como a presidência da República, governos estaduais (entre 1965 e 1982), prefeituras de capitais e municípios de “segurança nacional” (entre 1968 e 1984), o Regime Militar autorizava votação para o Congresso Nacional, assembleias estaduais e câmaras municipais, como forma de aparentar alguma normalidade. Votações essas marcadas por forte pressão armada e larga corrupção. Várias modalidades de manipulação foram intensamente praticadas. O objetivo, sempre, era “auditar” o voto alheio, mantendo o eleitorado no cabresto. O vulnerável voto no papel seria mantido, por falta de outra opção, mesmo de pois da reconquista da Democracia, em 1985, até que a tecnologia avançasse para um processo efetivamente seguro.
VIVA O VOTO ELETRÔNICO!
Todas essas velhas formas de fraude eleitoral foram sepultadas com a introdução das urnas eletrônicas, em 1996, levando a delinquência política à loucura. O desenvolvimento das câmeras nos celulares deu um flash de ilusão aos criminosos, pois a filmagem do momento da votação era prova segura a ser cobrada pelos compradores de voto. Numa resposta eficiente, a proibição de fotos e vídeos no ato de votar detonou essa esperança do sistema corruptor. Mas os fraudadores profissionais não sossegam nunca. Depois do fracasso da campanha contra as urnas eletrônicas e pela imposição do “voto impresso auditável”, alardeada entre 2018 e 2022, o crime organizado insiste em ampliar sua dominação sobre o eleitorado mais vulnerável nas áreas urbanas sob controle das milícias e do tráfico, conforme recentemente constatado no cenário carioca.
VIVA A JUSTIÇA ELEITORAL!
Noticiado pela Agência Brasil, a justiça eleitoral do Rio de Janeiro determinou, no começo deste mês, “a alteração de 53 locais de votação em dez municípios do estado, por questões relativas à segurança (...), pelo fato de esses locais de votação estarem sujeitos a ações do crime organizado”. Ouvido pela reportagem, Alan Fernandes, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explicou: “o principal risco é o impedimento de comparecimento em determinadas zonas eleitorais. Em lugares que são dominados pela violência, pelo crime organizado, existem casos em que as pessoas são impedidas de comparecer ao local de votação, a depender do interesse político daquela facção. O segundo problema, nesses locais de votação, é a coação aos eleitores para que eles votem em determinado candidato de preferência daquele grupo armado”. Muito bem, TRE/RJ, bote quente nesses bandidos. E ao resto do Brasil resta estar atento e forte ao que acontece nas quebradas cariocas, pois a bandidagem local sempre copia os parças.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.