Enio Lins

Qual terrorismo é o mais letal no mundo contemporâneo?

Enio Lins 19 de setembro de 2024

Uma série de atentados, usando aparelhos de comunicação conhecidos como “pagers” e “walkie-talkies”, em vários locais do Líbano, nos dias 17 e 18, deixa evidente o avassalador poder e a gigantesca superioridade das organizações terroristas israelenses em relação às suas congêneres no resto do mundo.

PRECISÃO MORTAL

Uma série explosões em pagers e walkie-talkies mataram 14 (supostos integrantes do Hezbollah) e feriram um grande número de pessoas, segundo o divulgado até o fechamento desta coluna. Conhecidos no Brasil como “bipes”, pagers são equipamentos de pequeno porte que transmitem textos curtos, e estão em desuso desde o aparecimento dos celulares, nos anos 90. Walkie-talkies são aparelhos de rádio que transmitem voz em círculos fechados. A mídia tem levantado hipóteses várias para tentar explicar como isso teria sido operacionalizado. Mas, quaisquer que tenham sido as técnicas usadas, os fatos reafirmam a supremacia absoluta israelense no campo do terrorismo mundial.

ANTECEDENTES

Não é a primeira vez que Israel é apontado como único suspeito de assassinatos – à distância – de seus adversários políticos. Nem é novidade a explosão de aparelhos de comunicação nas orelhas de alvos preferenciais dos israelenses. A primeira ocorrência desse modo de matar foi registrada há 28 anos, quando o telefone móvel de Iahia Aiach, vulgo “Engenheiro”, explodiu na cara dele, decapitando-o, conforme noticiado no Brasil em 6 de janeiro de 1996, pela Folha de São Paulo, reproduzindo matéria da Agência Reuters. “Engenheiro” era considerado pelo governo israelense como o “maior terrorista palestino” e sua detonação levou a uma pergunta que nunca calou - como Israel conseguiu colocar uma minibomba num objeto pessoal de um militante inimigo que vivia escondido e cercado por seguranças?

RESPOSTAS ÓBVIAS

Para colocar explosivos em um objeto pessoal de alguém envolvido com atentados, é indispensável que outro alguém, de inteira confiança da vítima, faça isso. Isto vale para o celular-bomba que fez voar a cabeça de Iahia Aiach (em 1996) e vale para os equipamentos que estão explodindo nos rostos de pessoas em Beirute. Na terça-feira, o G1 noticiou: “O que se sabe é que eles [os pagers] passaram a ser usados depois que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pediu a seus combatentes, especialmente os que estão na linha de frente na fronteira sul do Líbano com Israel, que parassem de usar smartphones, porque o país vizinho poderia rastrear os aparelhos”. Não resta dúvida de que as organizações de resistência árabes/palestinas estão bichadas, infiltradas de agentes israelenses até a medula. Contra tal evidência ululante se alevantam uma série de “explicações técnicas”, todas irrelevantes: a infiltração e a impunidade são os principais trunfos israelenses no campeonato do terror. Tecnologia, neste caso, é detalhe.

TERRORISMO É TERRORISMO

Tamanha desenvoltura israelense é, indubitavelmente, o principal elemento motivador da escalada da violência na região, pois ensina para suas vítimas que o terror seria a única forma de resposta. A maior parte da mídia ocidental é abertamente cúmplice desse processo sangrento, ao rotular – conforme exigência sionista – quem luta contra a ocupação israelense como “terrorista”, enquanto silencia sobre o terror praticado por Israel desde os anos 40. Se bombas e assassinatos contra Israel é terrorismo, é terrorismo também as bombas e os assassinatos a favor de Israel. É preciso dar um basta a tamanha hipocrisia que concede carta branca para aberrações deste tipo.