Enio Lins
Qual terrorismo é o mais letal no mundo contemporâneo?
Uma série de atentados, usando aparelhos de comunicação conhecidos como “pagers” e “walkie-talkies”, em vários locais do Líbano, nos dias 17 e 18, deixa evidente o avassalador poder e a gigantesca superioridade das organizações terroristas israelenses em relação às suas congêneres no resto do mundo.
PRECISÃO MORTAL
Uma série explosões em pagers e walkie-talkies mataram 14 (supostos integrantes do Hezbollah) e feriram um grande número de pessoas, segundo o divulgado até o fechamento desta coluna. Conhecidos no Brasil como “bipes”, pagers são equipamentos de pequeno porte que transmitem textos curtos, e estão em desuso desde o aparecimento dos celulares, nos anos 90. Walkie-talkies são aparelhos de rádio que transmitem voz em círculos fechados. A mídia tem levantado hipóteses várias para tentar explicar como isso teria sido operacionalizado. Mas, quaisquer que tenham sido as técnicas usadas, os fatos reafirmam a supremacia absoluta israelense no campo do terrorismo mundial.
ANTECEDENTES
Não é a primeira vez que Israel é apontado como único suspeito de assassinatos – à distância – de seus adversários políticos. Nem é novidade a explosão de aparelhos de comunicação nas orelhas de alvos preferenciais dos israelenses. A primeira ocorrência desse modo de matar foi registrada há 28 anos, quando o telefone móvel de Iahia Aiach, vulgo “Engenheiro”, explodiu na cara dele, decapitando-o, conforme noticiado no Brasil em 6 de janeiro de 1996, pela Folha de São Paulo, reproduzindo matéria da Agência Reuters. “Engenheiro” era considerado pelo governo israelense como o “maior terrorista palestino” e sua detonação levou a uma pergunta que nunca calou - como Israel conseguiu colocar uma minibomba num objeto pessoal de um militante inimigo que vivia escondido e cercado por seguranças?
RESPOSTAS ÓBVIAS
Para colocar explosivos em um objeto pessoal de alguém envolvido com atentados, é indispensável que outro alguém, de inteira confiança da vítima, faça isso. Isto vale para o celular-bomba que fez voar a cabeça de Iahia Aiach (em 1996) e vale para os equipamentos que estão explodindo nos rostos de pessoas em Beirute. Na terça-feira, o G1 noticiou: “O que se sabe é que eles [os pagers] passaram a ser usados depois que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pediu a seus combatentes, especialmente os que estão na linha de frente na fronteira sul do Líbano com Israel, que parassem de usar smartphones, porque o país vizinho poderia rastrear os aparelhos”. Não resta dúvida de que as organizações de resistência árabes/palestinas estão bichadas, infiltradas de agentes israelenses até a medula. Contra tal evidência ululante se alevantam uma série de “explicações técnicas”, todas irrelevantes: a infiltração e a impunidade são os principais trunfos israelenses no campeonato do terror. Tecnologia, neste caso, é detalhe.
TERRORISMO É TERRORISMO
Tamanha desenvoltura israelense é, indubitavelmente, o principal elemento motivador da escalada da violência na região, pois ensina para suas vítimas que o terror seria a única forma de resposta. A maior parte da mídia ocidental é abertamente cúmplice desse processo sangrento, ao rotular – conforme exigência sionista – quem luta contra a ocupação israelense como “terrorista”, enquanto silencia sobre o terror praticado por Israel desde os anos 40. Se bombas e assassinatos contra Israel é terrorismo, é terrorismo também as bombas e os assassinatos a favor de Israel. É preciso dar um basta a tamanha hipocrisia que concede carta branca para aberrações deste tipo.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.