Enio Lins
Patetices, racismos e outros perigos na campanha dos Estados Unidos
Na periferia do primeiro debate entre as duas candidaturas à Casa Branca, detalhes bizarros da campanha presidencial americana foram trazidos ao público, expondo particularidades e fragilidades socioculturais ianques. Como ao longo da história dos Estados Unidos, o racismo continua no centro das atenções, com fakes news e teorias da conspiração mantendo amplo destaque, influenciando o eleitorado mais preconceituoso e/ou ignorante do país tido como o “mais desenvolvido do mundo”.
RACISMO ENTRANHADO
Apenas há 60 anos, em 2 de julho de 1964, é que a segregação racial foi formalmente abolida no território americano, quando o presidente Lyndon Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis. Até então as leis locais permitiam que vários estados permanecessem legalmente racistas. Em 1961, foi necessária a intervenção direta do presidente John Kennedy, enviando forças armadas para garantir a matrícula do primeiro estudante negro na Universidade do Mississipi, James Meredith. Nos grandes tumultos provocados pelos racistas brancos contra a entrada de um negro num centro de ensino superior até então exclusivo para brancos, foram assassinadas duas pessoas e 190 agentes policiais ficaram feridos. Assim, a eleição de Barack Obama, em novembro de 2008, como presidente dos Estados Unidos – 40 anos depois do assassinato (por um supremacista branco) do mais conhecido líder negro americano, o pacifista Martin Luther King Jr.– é um tremendo marco histórico, mas o racismo segue vivo e influente por lá.
SEM MEDO DO RIDÍCULO
Há semanas o amplo e fundo submundo das redes sociais americanas está em ebulição por conta de uma fake news. Mentira tosca, apontando para inspiração “negra, africana e mulçumana” na mudança da bandeira do estado de Minnesota. Sobre essa coisa, relata a BBC: “A teoria sugere que Tim Wilz, governador de Minnesota, mudou recentemente a bandeira do seu Estado para se parecer com a bandeira da Somália. Ambas exibem estrelas e diferentes tons de azul em seu design. Não há nenhuma evidência que sugira que seja este o caso”. Tim Wilz é o candidato vice-presidente de Kamala. As duas bandeiras, como se pode facilmente constatar, não têm nada a ver, nem no tom do azul, nem na estrela (Minnesota com oito pontas e a Somália na tradicional de cinco pontas). Diz mais a BBC: “A PeakMetrics, empresa de dados americana, informou que narrativas de conspiração associando Tim Walz à Somália foram amplamente compartilhadas no X (antigo Twitter) durante todo o verão no hemisfério norte”. Ah, Elon está nessa... não é à toa que Donald anunciou que teria Musk, caso seja eleito, em seu futuro desgoverno.
BRIGA PESADA
Obviamente a eleição americana interessa ao resto do mundo, pois os Estados Unidos seguem sendo a maior potência militar e econômica do planeta, mantendo suas tropas espalhadas nos quatro cantos do mundo, participando direta ou indiretamente de todos os conflitos em terra, mar e ar. Digladiam-se pela Casa Branca, nesta eleição de 2024, como sempre, os dois únicos partidos com presença real na política estadunidense, ambos posicionados à direita. Como sempre, os programas e propostas são semelhantes, mas as ideias mais reacionárias estão concentradas, historicamente, no nome do Partido Republicano. O milionário Donald Trump é, indubitavelmente, quem representa o maior perigo de ascensão da extrema-direita, e em sua versão mais tresloucada (apesar de sua posição sobre a OTAN ser mais correta e mais corajosa que a da democrata Kamala). Enfim, entre fake news e outras baixarias, o mundo espera o resultado da eleição presidencial estadunidense com ansiedade e temor.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.