Enio Lins

Patetices, racismos e outros perigos na campanha dos Estados Unidos

Enio Lins 12 de setembro de 2024

Na periferia do primeiro debate entre as duas candidaturas à Casa Branca, detalhes bizarros da campanha presidencial americana foram trazidos ao público, expondo particularidades e fragilidades socioculturais ianques. Como ao longo da história dos Estados Unidos, o racismo continua no centro das atenções, com fakes news e teorias da conspiração mantendo amplo destaque, influenciando o eleitorado mais preconceituoso e/ou ignorante do país tido como o “mais desenvolvido do mundo”.

RACISMO ENTRANHADO

Apenas há 60 anos, em 2 de julho de 1964, é que a segregação racial foi formalmente abolida no território americano, quando o presidente Lyndon Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis. Até então as leis locais permitiam que vários estados permanecessem legalmente racistas. Em 1961, foi necessária a intervenção direta do presidente John Kennedy, enviando forças armadas para garantir a matrícula do primeiro estudante negro na Universidade do Mississipi, James Meredith. Nos grandes tumultos provocados pelos racistas brancos contra a entrada de um negro num centro de ensino superior até então exclusivo para brancos, foram assassinadas duas pessoas e 190 agentes policiais ficaram feridos. Assim, a eleição de Barack Obama, em novembro de 2008, como presidente dos Estados Unidos – 40 anos depois do assassinato (por um supremacista branco) do mais conhecido líder negro americano, o pacifista Martin Luther King Jr.– é um tremendo marco histórico, mas o racismo segue vivo e influente por lá.

SEM MEDO DO RIDÍCULO

Há semanas o amplo e fundo submundo das redes sociais americanas está em ebulição por conta de uma fake news. Mentira tosca, apontando para inspiração “negra, africana e mulçumana” na mudança da bandeira do estado de Minnesota. Sobre essa coisa, relata a BBC: “A teoria sugere que Tim Wilz, governador de Minnesota, mudou recentemente a bandeira do seu Estado para se parecer com a bandeira da Somália. Ambas exibem estrelas e diferentes tons de azul em seu design. Não há nenhuma evidência que sugira que seja este o caso”. Tim Wilz é o candidato vice-presidente de Kamala. As duas bandeiras, como se pode facilmente constatar, não têm nada a ver, nem no tom do azul, nem na estrela (Minnesota com oito pontas e a Somália na tradicional de cinco pontas). Diz mais a BBC: “A PeakMetrics, empresa de dados americana, informou que narrativas de conspiração associando Tim Walz à Somália foram amplamente compartilhadas no X (antigo Twitter) durante todo o verão no hemisfério norte”. Ah, Elon está nessa... não é à toa que Donald anunciou que teria Musk, caso seja eleito, em seu futuro desgoverno.

BRIGA PESADA

Obviamente a eleição americana interessa ao resto do mundo, pois os Estados Unidos seguem sendo a maior potência militar e econômica do planeta, mantendo suas tropas espalhadas nos quatro cantos do mundo, participando direta ou indiretamente de todos os conflitos em terra, mar e ar. Digladiam-se pela Casa Branca, nesta eleição de 2024, como sempre, os dois únicos partidos com presença real na política estadunidense, ambos posicionados à direita. Como sempre, os programas e propostas são semelhantes, mas as ideias mais reacionárias estão concentradas, historicamente, no nome do Partido Republicano. O milionário Donald Trump é, indubitavelmente, quem representa o maior perigo de ascensão da extrema-direita, e em sua versão mais tresloucada (apesar de sua posição sobre a OTAN ser mais correta e mais corajosa que a da democrata Kamala). Enfim, entre fake news e outras baixarias, o mundo espera o resultado da eleição presidencial estadunidense com ansiedade e temor.