Enio Lins
O sal da terra, o sal que enterra
Matéria publicada pela Tribuna Independente na sexta-feira, 6, focou numa ação da Defensoria Pública sobre a Braskem. O repórter Ricardo Rodrigues entrevistou o defensor público Ricardo Melro e pesquisou o tema a fundo, trazendo elementos para novas reflexões sobre o velho problema da exploração do sal-gema em Maceió.
QUESTÕES SIMPLES
Na base do questionamento da Defensoria está a revisão dos valores pagos a título de danos morais às famílias desalojadas dos bairros em risco de afundamento. Diz a reportagem: “A ação foi impetrada na quarta-feira (4/9), endereçada ao juiz federal da 3ª Vara Federal de Alagoas. Nela, a Defensoria acusa a empresa de impor acordos abusivos, a exemplo da ‘venda casada’, para indenizar de forma linear as famílias vítimas do afundamento de solo, que residiam nos bairros afetados pela mineração em Maceió. Segundo o defensor público Ricardo Melro, a ação pode render cerca de R$ 5 bilhões, em indenizações pagas pela Braskem”.
QUESTÕES ABERTAS
Além da necessidade de melhor avaliar, e rever, este item relativo às indenizações por danos morais, outras tantas demandas seguem a descoberto neste drama das minas de sal-gema exploradas desde os tempos da Salgema. Uma das principais assombrações a exorcizar neste imbróglio diz respeito ao acordo firmado entre a Braskem e a Prefeitura de Maceió, donde se deduz que a empresa seria anistiada de todos os males causados, e premiada com a posse todos os imóveis públicos (praças, escolas, ruas, calçadas, parques...) nos perímetros afetados pelo risco de dolinamento. Por esse acerto, a prefeitura maceioense teria embolsado R$ 1,7 bilhão. Mais um desastre, se isso for assim mesmo. Rever esse contrato também é prioridade urgentíssima.
QUESTÕES COMPLEXAS
Outro item a ser abordado racionalmente, e não emocionalmente, é a importância da Braskem para a economia alagoana. Qual a contribuição da empresa hoje e qual seu papel para o futuro? Certo é que a extração do sal-gema jamais deverá ser retomada nas bases irresponsáveis que foram feitas durante meio século. Mas quais os critérios para o porvir? Afinal o empreendimento não se resume à mineração, existe a planta industrial original e uma série de outras fábricas que dependem dessa unidade central localizada (também irresponsavelmente) no Pontal da Barra. Se a empresa for expulsa de Alagoas, qual o nível de compromisso que restará para com o Estado e para com a população prejudicada? Esses não são questionamentos simples e nenhuma das muitas respostas possíveis pode desconsiderar o prejuízo histórico, de terra arrasada, causado pela empresa.
DEFENSORIA EM CAMPO
Considerando todas essas variáveis, a Defensoria Pública entra em campo no momento certo, atuando como mais uma linha de defesa da população prejudicada por acordos que não refletem a profundidade dos danos sofridos por quem foi obrigado a vender suas propriedades e como bem aponta a reportagem, foram vítimas de “acordos injustos, que desconsideraram a gravidade dos danos psicológicos causados a elas, que incluem depressão, ansiedade e até suicídios. Há relatos que comprovam pelo menos 11 óbitos por suicídio”. Ao aplaudir esta ação, cabe reivindicar que seja igualmente questionado judicialmente o acordo entre a Braskem e a prefeitura de Maceió, pois nos termos conhecidos desse acerto, a capital alagoana teria definitivamente enterrado sua autonomia enquanto poder público frente a uma empresa privada, e premiado essa empresa com uma verdadeira sesmaria urbana, somando ao desastre ambiental um desastre administrativo de históricas proporções. Defensoria Pública, avante!!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.