Enio Lins
Um avanço, sim, mas a distribuição de grana pública está sob controle?
Enfim o impasse em torno das famigeradas “emendas pix” foi resolvido, numa vitória parcial do Poder Judiciário. Um avanço, mas que não pode ser confundido com uma resolução à altura do problema – ainda existente – da deformação prática da bela teoria da democratização orçamentária, ou outro nome que venha a ter esse tipo de interferência do Poder Legislativo nas atribuições do Poder Executivo. Sem dúvida, ficou menos pior do que o descalabro até então existente.
STF DECIDINDO CERTO
Por unanimidade de seus membros (11x0), no dia 16 de agosto, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter as restrições definidas pelo ministro Flávio Dino para o pagamento de emendas parlamentares, envolvendo as emendas pix (dinheiro enviado por deputados e senadores diretamente para as contas das prefeituras e dos estados de suas preferências, sem transparência) e as emendas impositivas (que o governo federal é obrigado a executar até o fim de cada ano). Em resumo, o STF reafirmou os princípios constitucionais ao determinar que a execução desses repasses precisa cumprir os critérios legais de divulgação, transparência e rastreabilidade. A anarquia na utilização desses recursos havia se estabelecido desde 2019 – no popular, a coisa estava “banda-voou”, numa atrofia generalizada em benefício do clientelismo mais radical, do desregramento contábil, e em prejuízo da execução das prioridades nacionais (atribuição governamental).
REAÇÃO PARLAMENTAR
Esse freio de arrumação deixou a maioria dos parlamentares em pânico e as presidências da Câmara e do Senado gritaram contra essa decisão (óbvia e constitucional) do Supremo Tribunal Federal. Ameaçaram rebelar-se. Uma primeira retaliação foi antecipada, no dia 14 de agosto, com a derrubada, pela Comissão Mista de Orçamento, de MP que autorizava a recomposição orçamentária de R$ 1,3 bilhão para o Poder Judiciário e para o Conselho Nacional do Ministério Público – era a resposta à decisão individual, emitida naquela mesma data, pelo ministro Flávio Dino. O STF, dois dias depois, unanimemente, sacramentou a decisão de Dino, onde o ministro afirmava que “orçamento impositivo não deve ser confundido com orçamento arbitrário e que não é compatível com a Constituição Federal a execução de emendas ao orçamento que não obedeçam a critérios técnicos de eficiência, transparência e rastreabilidade” e estabelecia um prazo de (até) 30 dias para Executivo e Legislativo prestarem as informações. O fisiologismo tremeu, esperneou e partiu para o contra-ataque.
NEGOCIAÇÃO E FUTURO
Na terça-feira, 11, foi realizada a reunião entre os Poderes Constituídos para um entendimento. Assinaram a lista de presença ministros do STF, inclusive seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso; o presidente da Câmara, Arthur Lira; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; e o representante do presidente da República, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (acertadamente, Lula saiu de cena para concentrar o protagonismo no Poder Judiciário). Findo o encontro, o STF informou que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário “chegaram a um consenso de que as emendas parlamentares serão mantidas, mas deverão respeitar critérios de transparência, rastreabilidade e correção”. Parada ganha pela Justiça, porém a novela não acaba aí, e outros capítulos certamente virão, pois o apetite pelas facilidades de liberação e dificuldades de visualização das verbas do tipo “pix” não se restringe a deputados e senadores.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.