Enio Lins
Musk: Ideologia não é o X da questão, mas sim dinheiro e impunidade
Sobre a midiática decisão do bilionário Elon Musk encerrar as atividades de seu ex-Twitter em solo brasileiro, a BBC assim noticiou: “Todos os cerca de 40 funcionários do X (ex-Twitter) no Brasil foram surpreendidos na manhã deste sábado (17/8) com uma reunião online de emergência. O convite foi enviado na madrugada e quem viu a tempo e entrou na reunião pela manhã, acabou demitido. Assim o escritório da rede social no Brasil, que já não tinha uma sede oficial há cerca de dois anos, encerrou suas atividades”. Bingo: fechou o que estava fechado.
MUITO BARULHO PARA QUE?
Como bem a BBC disse, o ex-Twitter já havia dado fim às suas atividades sediadas em território brasileiro há muito tempo. As supostas 40 demissões só tiveram efeito na conta corrente de quem recebeu o bilhete azulzinho, pois o X segue operando normalmente, seja na veiculação das mensagens, seja na monetização, como facilmente constatado até ontem. Em verdade, tal como a reportagem aponta, o ex-passaralho azul, operado por controle remoto há anos, voa acima da legislação vigente, faturando e garantindo impunidade às quadrilhas digitais que infestam o cyberespaço. Mas, até quando?
FORA-DA-LEI REAL
Estar acima das leis é o objetivo central dessa turma. E nem se fala em nova legislação específica para os meios digitais. A meta de Elon X é estar fora do alcance da lei ordinária que possa punir pelos velhos crimes de calúnia, difamação, injúria, formação de quadrilha e outras modalidades previstas no Código Penal. O “direito de mentir” e a “liberdade de desinformação” rendem fortunas como todo investimento ilegal e antiético, e os tais “gabinetes do ódio” vão além do ideológico, são negócios tão lucrativos quanto criminosos. Mas o sinal vermelho para esses meliantes foi aceso quando o ministro Alexandre de Moraes, segundo reportagem do El País, em 13/03/2023, na condição de relator dos processos sobre fake news no STF, levantou a hipótese de regulamentar o impulsionamento e monetização de conteúdos na Internet – aí magoou fundo.
ELE QUER DINHEIRO
Nessas atitudes furibundas de Musk, em ataques apopléticos ao ministro Alexandre Moraes e ao STF, culminando com o “fechamento das operações no Brasil”, estão contidas duas necessidades urgentíssimas: chamar a atenção para seu canal de mídia, e recuperar espaços perdidos na captação de recursos. Diz-nos o Valor Econômico, citando relatório da Data Reportal: “os dados publicados nas próprias ferramentas de planejamento de anúncios do Twitter mostram que o número de usuários que os profissionais de marketing poderiam alcançar com anúncios no Twitter no Brasil diminuiu 2 milhões (-8,4%) entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. Além disso, o alcance potencial do anúncio no país também recuou 2,2 milhões (-8,9%) entre o início do ano passado e o deste ano”. A diatribe do multimilionário espalhafatoso nada tem de emocional, nem exclusivamente ideológico. É um urro fisiológico de um animal viciado na impunidade e em lucros fáceis e rápidos, e que entrou em pânico face a iminência de responder na justiça por seus delitos e de ganhar menos dinheiro. Conforme declarou o ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do STF, “Em cada país se aplica a lei daquele país. Está no Brasil, tem que cumprir as regras do direito brasileiro”. Ponto. E por mais que o chefão fuja, sempre sobra algum laranja em território nacional para responder perante o Código Penal, e sempre restarão formas de fechar as torneiras do dinheiro para atividades delituosas– basta aplicar a lei.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.