Enio Lins

Dias de perdas sentidas na Comunicação alagoana

Enio Lins 20 de agosto de 2024


“Agosto, mês do desgosto”, reza a filosofia popular, refletindo uma superstição que dizem ser universal – mas tal efeito, rimado, só em língua portuguesa. Crendices de lado, este agosto tem sido de particular desgosto para a Comunicação. No universo alagoano, sentiram-se, em três dias seguidos, três despedidas locais, e mais uma nacional – sem contar um astro internacional do cinema e pauta permanente em toda e qualquer mídia. Vamos aqui a algumas linhas sobre quem viveu e trabalhou em Alagoas – Antônio Ezequiel, Walmar Buarque e Simone Mazoni. Sílvio Santos, por seu papel nas mídias brasileiras, e por ser personagem recheado de mitos, tentaremos no sétimo dia. Alain Delon, quem sabe, noutro dia qualquer.

SIMONE MAZONI

Não era jornalista, mas Simone foi um dos pilares para a empresa familiar de comunicação criada pelo jornalista Esdras Mazoni, seu marido, formando com ele uma dupla indissociável também na manutenção de um periódico que um dos sinônimos da imprensa autônoma alagoana. Mazoni, por sua vez, é referência como jornalista e empreendedor de mídia que se fez por conta própria, enfrentando todos os obstáculos a partir de um investimento pessoal na sofrida e arriscada modalidade da mídia impressa, a Revista Municipal. Criada por Esdras, a RM tornou-se a mais conhecida publicação periódica voltada para os municípios alagoanos, projeto que se viabilizou o sustentáculo de Simone, há décadas, e com muito sucesso. Ela faleceu no dia 16, sexta-feira. Que o incansável Mazoni tenha forças para seguir adiante com seu trabalho, sem interrupções.

WALMAR BUARQUE

Era carioca do ramo alagoano dos Buarque, onde brilha a obra e a presença imortal de Aurélio. Vivia em Maceió há mais de 40 anos, e aqui marcou época como comunicador inovador e polêmico, a partir do antológico – e acelerado – programa radiofônico “Brilho da Cidade” (alusão óbvia à “farinha mágica”). Iniciado no começo dos anos 80 na Rádio JH FM, abriu espaço para artistas, ecologistas, “bichos-grilos” em geral, e para a esquerda (antes da legalização dos partidos canhotos); posteriormente, levou sua verve para a Gazeta FM, sempre tendo a contestação como orientação nas pautas sobre costumes e política. Walmar se aventurou também como produtor musical, blogueiro, comentarista de TV, e Youtuber (no canal “Cafofo da Notícia”). Mas problemas renais encerraram prematuramente, no sábado, dia 17, sua provocadora presença nas mídias. Em verdade, radicalmente irrequieto em vida, só agora irá descansar e ter paz.

ANTÔNIO EZEQUIEL

Foi um alagoano de raiz autenticamente popular, nascido em Palmeira dos Índios. De origem humilde, enfrentou todas as dificuldades, sempre com coragem e determinação, mas nem sempre saiu ileso. Formado em Jornalismo pela UFAL, onde se destacou no movimento estudantil, dedicou-se profissionalmente ao rádio e assessorias de imprensa. Foi ator de teatro, participando de diversas trupes, nas produções do saudoso teatrólogo Pedro Onofre, trabalhando em peças como “Mundaú, Lagoa Assassinada”, ao lado de Chico de Assis e outros monstros sagrados da dramaturgia em Alagoas. Fez poesia. Era desenhista de talento, mas com o passar do tempo foi se afastando dos lápis e das canetas, assim como se distanciou dos palcos. Militante orgânico e combativo de esquerda, teve filiação inicial no PCdoB, com destacada atuação sindical. Vítima de problemas hepáticos, se foi aos 71 anos, no domingo, dia 18.

Meus tributos para Simone Mazoni, Walmar Buarque e Antônio Ezequiel.