Petrucia Camelo

FOLCLORE

Petrucia Camelo 20 de agosto de 2024

Agosto, mês do folclore; mas, nesse sentido, o que ainda se tem a comemorar no Brasil? E em Alagoas, nas escolas e nas universidades, o que se faz a respeito dessa data, para não apagar de vez a tênue chama desse conhecimento cultural? Talvez, as escolas tentem, de alguma forma, rememorar a criatividade dos mestres do tradicionalismo do folclore, mas, para garantir essa iniciativa, não se conta e nem se tem a presença de mestres e não há mais mestres!

E ainda mais, apesar dos esforços, dos registros de folcloristas como os estudos do Prof. Pedro Teixeira de Vasconcelos, sabe-se que não se pode debelar a força do convívio com novas propostas trazidas pelo desenvolvimento e pela tecnologia. Mas, sabe-se que não é salutar esquecer o tradicionalismo.

Ah! terceiro mundo, continuas sendo o primo pobre, importando a cultura do primo rico, copias até o folclore, deixas de lado a personagem tradicional brasileira o saci Pererê, ovacionado por tantas gerações, para festejar, também no dia 31 de outubro, o “Halloween”, o “Dia das Bruxas”, celebração popular da cultura importada.

Deixas as danças populares brasileiras regionais, como o coco de roda e o pastoril, lindos e inocentes, que sempre foram bem aceitos por incontáveis gerações, com suas vestimentas comportadas, de chita e de seda bordadas, babados e fitas coloridos e sedosos, dançando em meio a canções populares, musicalizadas que faziam o pessoal do bairro valorizá-los, participando, cantando e aplaudindo entusiasticamente, para pouco a pouco incorporar outros elementos que diferem do tradicionalismo, compostos, de danças estilizadas, anônimas, em termos de criatividade popular, advindos da periferia geralmente apresentados no centro da cidade, intencionalmente direcionados pelo governo municipal voltados para a concorrência com direito a prêmios.

Sabe-se bem que a cultura popular brasileira é composta de conhecimentos não oficiais aprendidos fora dos currículos escolares, originados, muitas vezes, no passado criados e transmitidos às gerações seguintes, em frente à trempe de pedras, contendo, sobre ela, a panela de barro, enfumaçada de tanto cozinhar o feijão do dia, que, na hora certa era degustado com farinha e pimenta, amassado com as mãos, formando bolo.

Onde estavam a enxada a tinir no chão, o fogo de trempe, a panela de barro e a caneca de café, lá estava o aprendizado popular, criativamente compondo toadas, histórias, lendas, danças, etc. Sabia-se quem eram os mestres, e a fama que ia longe, respeitados, queridos, aplaudidos e festejados.

A cultura popular reflete a sociedade onde se vive originalmente: não era de salão, era advinda do alpendre dos terreiros da casa-grande, ou oriunda do campo, da zona da mata, da caatinga, de conversas sobre o dorso de montarias, fazendo suportar o gibão sob o sol escaldante ou a chuva fria molhando a sela e os arreios; era de tiragem de conta do corte da cana; da senzala, da beira dos rios, das lavadeiras estendendo as roupas nos lajedos, das histórias de pescador; das conversas de barracão, entre um trago e outro, intercalados, por cusparadas. Câmara Cascudo escreveu: é a cultura popular tornada normativa pela tradição.

Em especial, a cultura popular, tendo como base o folclore com seu tradicionalismo, realmente agoniza abrindo espaço as manifestações populares que se prendem a outros interesses, em particular à sobrevivência. O conhecimento popular está estagnado no passado, tornou-se presa de páginas amarelecidas pelo tempo.

Agora, o conhecimento popular adquirido não encontra porto na descendência dos mestres: ele se perdeu na poeira das subidas das encostas das favelas; ele desconhece totalmente o sopro da beleza cultural ritmada dos antepassados, quer seja na dança, no canto, na culinária, nas ervas da medicina popular, e nas demais manifestações populares do tradicionalismo.