Enio Lins
Comentando o pós-convenções eleitorais em Maceió – capítulo um
Data vênia dos profissionais em prognósticos eleitorais, vamos aqui cometer umas linhas sobre o panorama do imediato pós-convenções partidárias para a definição das alianças e nomes para as candidaturas à prefeitura da capital alagoana. Começaremos com JHC. Afinal, é o titular da cadeira e (há quatro anos) em campanha para ficar.
CONFIRMANDO O PREVISTO
Em convenção conjunta realizada no dia 1º de agosto, os partidos Podemos e Liberal homologaram os nomes de João Henrique Caldas e Rodrigo Cunha como candidatos a prefeito e vice, respectivamente. Como até a desinteligência artificial sabe, entre as convenções e o registro das atas muitas coisas podem acontecer – mas, indubitavelmente, é bem difícil alguma pedra ser mexida neste tabuleiro. Como se dizia antanho, é prego batido e ponta virada. Até prova em contrário, no octógono particular, interno ao bloco situacionista na prefeitura de Maceió, JHC nocauteou todos seus parceiros desejosos do posto de vice.
ARTHUR LIRA NO BOLSO?
Até a convenção, a única dúvida a pairar no ar era se Arthur Lira – o parlamentar mais poderoso no Brasil nestes dias – iria engolir a maçaranduba que JHC avisou, com bastante antecedência, que iria lhe meter goela abaixo. A confirmação do nome de Rodrigo Cunha para o cobiçado posto de vice-prefeito na chapa da reeleição é um desafio, quase uma afronta, pois fecha a porta do poder real na prefeitura de Maceió para o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, forçando-o a negociar cargos de comissão como qualquer mortal (exatamente no momento mais delicado de sua força política, a poucos meses do fim de seu mandato presidencial). Experiente, Arthur fez de conta que era uma mera ximbra e engoliu uma jaca inteira. Sorrindo. E, certamente, anotou isso na coluna “deve” de seu livro-caixa. Sem prazo para cobrança.
2026 COMO OBJETIVO
Para os Caldas e os grupos e subgrupos que lhes orbitam, o segundo mandato para JHC é coisa certa. Os ajustes políticos-eleitorais conduzidos pelo prefeito não têm a prefeitura de Maceió como alvo principal – o objetivo está em 2026. E os Caldas têm jogado como se fossem os donos da bola, do gramado e das camisas (apoiados na caneta municipal e em R$ 1,7 bilhão da Braskem, são mesmo), forçando mais que articulando. Daí, repetindo o óbvio ululante: Ao puxar Cunha para a vice, no caso de vitória, Dona Eudócia ganha dois anos como senadora efetiva e proeminência para ser candidata a uma das duas vagas senatoriais em disputa, numa campanha turbinada pelo filho JHC como postulante ao governo do Estado. Não é ilegal, nem imoral, mas exige habilidade na articulação e não força de imposição. E falam por aí num tripé familiar onde o Doutor JAC (ou JHC 2) tentaria novamente uma vaga na câmara federal (o projeto Caldas em Marechal Deodoro 2024 deu chabu, mas comprovou que o apetite segue grande).
CENÁRIO 2024
Mesmo com a tonitruante campanha do “já ganhou”, todo mundo sabe que favoritismo não garante vitória. Existe chão a percorrer, e toda estrada na política é minada. À JHC está sendo colocada a responsabilidade extra, por conta de sua própria crença e de seus apoiadores, de ganhar no primeiro turno e de forma acachapante – para cacifar o projeto 2026. Daí o estresse com as candidaturas (leia-se Rafael Brito) que possam ameaçar o que consideram líquido e certo. O incômodo e nervosismo explicitados através dos endereços “jotaagacistas” nas redes sociais por conta da ampliação das forças em torno da candidatura do MDB, comprovam que o candidato à reeleição, o favorito natural, está inseguro. E, no fundo, tem lá sua razão de ser esse temor.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.