Petrucia Camelo

O ESCRITOR

Petrucia Camelo 23 de julho de 2024

Tem-se aí a data de 25 de julho, dia dedicado ao escritor. As datas comemorativas são essenciais para exaltar os valores, trazendo à memória do presente os fatos consagrados. Essa característica humana talvez seja uma resistência do inconsciente para que o tempo não apague o que realmente tem valor.

E sem querer definir o indefinível, pode-se arriscar a dizer que é o escritor aquele que, de forma autônoma, desenvolve o pensamento e o registra no sentido da palavra, que aprendeu a caminhar em escala ascendente, como se estivesse lançando fora transparências ao vento, desnudando, reinventando, auxiliado pelo que traz no âmago e em sua cultura intelectual.

E para o escritor desenvolver o talento da arte de escrever, mesmo sem poder fazer um ajuste completo de sua obra, tal é a roupagem desse universo, dá-lhe maior legitimidade conjugando esforços, estudo, pesquisa, se não correria o risco de apresentá-la como se fosse o exterior de um belo cântaro, mas vazio por dentro, ou mesmo uma casca ressequida de um saboroso fruto.

O ser humano dedicado a escrita, é conservado a despeito de todas às adversidades, pois marca as letras com o seu estilo, ele não foge às origens e deixa ver o que advém do subconsciente e, tendo à mão o que influência a construção da sua criatividade, apresenta o que defende como arte.

O escritor, ao deixar transparecer com clareza o conteúdo de suas narrativas, leva os seus escritos a chamar para si a atenção do leitor, as palavras têm de corresponder muito bem com as perspectivas do leitor; para evitar possíveis incompreensões até mesmo pela frustração da incoerência. Aqui cai bem lembrar o pensamento de Nietzche: a serpente, quando não pode mudar de pele, morre, da mesma forma que os espíritos que não podem se transformar...

Tendo a acompanhá-lo os recursos de sua identidade, animando o cortejo, somando a sua experiência, não utiliza os resultados apenas de forma pedagógica, o que o tornaria pedante e estaria apresentando o enfadonho traçado de um plano descrito, que não vem ao caso. O escritor retira das situações reais o fictício, apresentando o novo, utilizando velhas e conhecidas palavras.

Mas, para deixar fluir o talento, o escritor a princípio deixa-se ficar como se fosse uma erupção vulcânica, a expelir lavas que descem pela montanha formando um rio de fogo, destruindo o que é rotineiro, próprio, arraigado.

Apesar da grosseira comparação, o escritor, tocado por sua sensibilidade e pela consciência de sua cultura intelectual, processa o talento, conduzindo e ordenando os seus pensamentos a receber aparas, mas expondo-o de forma uniforme para interior e exterior de sua obra, deixando na passagem imagens de apoio ao conhecimento.

O escritor apresenta a criatividade de sua obra, salvo, às vezes passa neutralidade, mas nunca apresenta um estado amorfo, porque sempre tem algo a sugerir, e a oferecer como mensagem para doar ao leitor, que de acordo com a sua capacidade, vê-la com imagens diferenciadas, nas quais reconhece a si mesmo, tomando parte da obra.

E é claro, o escritor, sem trazer normas imperativas e nem absolutas nada quer descobrir. É notório que a obra do autor tem a intenção de apenas sugerir. Às vezes, a interpretação dada aos seus escritos faz realmente como as lavas: queima todo um sistema de formas e leis para fazer com que renasçam das cinzas.

Pode-se, ainda, acrescentar que o escritor não é todo aquele que escreve; sendo assim não se precisaria do talento, e muito menos do conhecimento, e nesse ofício hão de se considerar as categorias literárias; e o que o autor apresenta não deve ser analisado pelo número de obras publicadas; não faz sentido o número; às vezes, basta uma obra para o autor ser consagrado, e o sucesso é inacessível a milhares de outros que escrevem, mas que apenas esboçam a vontade de vencer a cruzada fervorosa do talento para escrever.