Enio Lins
Na acirrada disputa pela Casa Branca, os democratas contra-atacam
Apesar de não ser surpresa, causou enorme impacto a desistência de Joe Biden em tentar a reeleição como presidente dos Estados Unidos. Esse gesto era ansiado pelos apoiadores e temido pelos adversários. Todas as pesquisas apontavam um declínio evidente de Biden frente a Trump, apesar da desvantagem não ser definidora, oscilando em torno de 3%. Entretanto, uma (hoje velha) pesquisa divulgada em maio de 2023, indicou que seis entre 10 americanos tinham “preocupação com a capacidade de Biden ser presidente”. Consulta esta realizada em março do ano passado, apenas um mês depois de ser anunciada a disposição do presidente em concorrer a novo mandato.
DEBATE DESASTROSO
Nesse cenário desfavorável, o primeiro debate feriu gravemente a candidatura Biden, mostrando um Joe perdido no espaço, repetindo-se nas confusões de nome e datas, e incapaz, sequer, de rebater uma única das muitas mentiras ululantes disparadas por um Donald loquaz, cínico e agressivo como sempre. Pesquisa realizada pelo New York Times, através do Instituto Sienna, após esse confronto (travado em 27 de junho), mostrou que a desvantagem de Biden dobrou em relação às pesquisas anteriores, alcançando 6%, cravando 49% a 43% de intenções de voto a favor do candidato do Partido Republicano. Era a manifestação evidente do decrescimento do atual presidente junto ao eleitorado, comprovando a impossibilidade de reversão das fragilidades pessoais expostas durante quatro anos de mandato. Começavam aí as pressões para sua desistência à reeleição.
ORELHA FURADA
Apesar de ter tido impacto insignificante nas pesquisas feitas depois dos tiros, é um fato significativo a orelha sanguinolenta de Trump, supostamente trespassada por um tiro no atentado de 13 de julho. Destaque-se o instigante fato desse atentado a favor da candidatura de Trump ter sido cometido por um atirador ligado ao Partido Republicano no comício do Partido Republicano na Pensilvânia – evento que resultou em dois mortos, um deles o acusado (identificado como Thomas Crooks, de 20 anos). Esse acontecimento trágico ocorrido entre republicanos está sendo, desde então, fartamente utilizado eleitoralmente contra os democratas como peça de marketing (vide o “curativo” viralizado nas orelhas da militância trumpista). A tendência, tal qual observada no atentado a favor da candidatura de Jair Messias, no Brasil, em 2018, é a vitimização do candidato ser exaustivamente instrumentalizada na reta final da disputa pelo voto.
REAÇÃO À ALTURA
Neste momento delicado da campanha americana, a mudança do nome democrata na disputa pela Casa Branca é – desculpem a comparação - um tiro certeiro no coração das táticas trumpistas. A guerra pelo voto volta a se equilibrar nos Estados Unidos, em desfavor da direita mais extremada e mais espalhafatosa reunida em torno de Donald Trump.
Apesar da disputa seguir indefinida e das diferenças entre republicanos e democratas serem cosméticas, Trump é uma grande referência internacional para a extrema-direita (embora, ressalte-se, em relação à OTAN ele tenha se posicionado com mais acerto que seus adversários). Em termos gerais, a atitude estratégica, humanista, neste tempo de resistência à ascensão neofascista no mundo, é enfrentar – sem quaisquer vacilações – o suprematismo, racismo e reacionarismo representado pelo ideário trumpista.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.