Enio Lins
Falso dilema das oposições na eleição pela prefeitura de Maceió
Em nossa edição de ontem, a Tribuna noticiou o adiamento da decisão do PT sobre a candidatura da legenda, via Federação Brasil Esperança, para a prefeitura de Maceió. O que muda nesse cenário, e o que ensina essa situação indefinida? Mudar mesmo, pouco muda, em termos de tendências eleitorais, se as siglas oposicionistas estarão unidas numa mesma candidatura ou repartidas em várias opções. Inalterável segue o fato do enfretamento de uma candidatura situacionista favorita, bem-posicionada, pois – insistindo no mesmo ponto – a mera condição da reeleição, por si, beneficia quem esteja no poder, conforme garante a legislação muito camarada. E mais vantagens foram acrescidas a esse balaio.
VANTAGENS REAIS, EM REAIS
Além dessa regalia básica, o atual prefeito de Maceió, antes mesmo da campanha ser oficialmente iniciada, se posiciona com R$ 1,7 bilhão de distância à frente de todas as demais candidaturas. Este é o valor pago (em pagamento) pela Braskem pelo acordo com o município para obter a anistia do crime ambiental dos bairros em afundamento. Essa bagatela, depositada no cofre municipal cuja chave está em poder do candidato à reeleição, fornece um fôlego extraordinário ao prefeito-candidato. Ignorar essas vantagens da situação e desvantagens da oposição é amadorismo. Isso tudo já foi dito e repetido aqui, e está escrito novamente apenas para manter esticado o fio da meada.
MOVIMENTOS TÁTICOS
Rigorosamente, a principal novidade neste cenário foi a reunião entre o governador Paulo Dantas, o deputado Paulão e o pré-candidato petista, Ricardo Barbosa. Realizada no dia 1º de julho, essa conversa foi reportada pela Tribuna com o título “MDB e PT pacificam pré-candidaturas”. Avanço muito importante em termos estratégicos, reforçando as costuras entre as duas principais siglas parceiras no governo alagoano e no governo federal. Ponto para Paulo Dantas por ter articulado o encontro e feito a proposta de paz entre aliados que começavam a se estranhar numa briga interna destinada a não ter vencedores. Ao selar o compromisso de unidade no segundo turno, definiu-se a estratégia unitária capaz de comportar táticas conflitantes no primeiro turno. Esta é a questão principal, lembrando que levar a disputa para a segunda votação significa remar contra a maré e, portanto, precisa acolher todo tipo de alternativa.
ESTRATÉGIA CORRETA
Evitar que as diferenças de metas em 2024 entre as siglas parceiras venham a comprometer esta aliança para 2026 deve ser a principal meta para todas essas forças. Daqui a dois anos estarão em jogo, como sabemos, as majoritárias (estaduais e nacional). Este é o sentido da reunião de 1º de julho, entre MDB e PT, com anuência do PV, PCdoB e PSB e demais forças que compõem a frente ampla progressista que está no Poder Executivo alagoano. Em resumo, é legítima tanto ao MDB quanto ao PT a tática de terem candidaturas próprias para a disputa municipal, assim como legítimo é o esforço de juntar essas duas siglas numa única candidatura. E da mesma forma são corretas as táticas das siglas parceiras em criarem alternativas flexíveis no voto para prefeito dentro do espectro da grande aliança estadual, objetivando melhores condições eleitorais para suas candidaturas à Câmara Municipal (batalha tão ou mais importante quanto a conquista da prefeitura). O Norte precisa ser, sempre, a estratégia e não as táticas (necessariamente variadas, e muitas vezes conflitantes) – esta é a principal lição advinda do entendimento de 1º de julho. O resto é lucro.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.