Enio Lins
A esperança que vem da luta
No domingo a humanidade festejou por ter barrado a erupção da desumanidade na França, impedindo que a extrema-direita herdeira de Vichy conseguisse a maioria das cadeiras na Assembleia Nacional. Uma grande vitória, sem dúvida! Mas o problema não está resolvido, nem o êxito consolidado.
AVANÇO DA DESUMANIDADE
Com base na expressiva vitória no primeiro turno das eleições parlamentares francesas, a extrema-direita festejou antecipadamente o ganho da maioria das cadeiras do Palais-Bourbon. O universo neonazifascista vibrou no resto do mundo com a perspectiva desse retrocesso se confirmar no segundo turno, pois o impressionante avanço nessas eleições se dava em sequência ao crescimento da ultradireita na votação para o Parlamento Europeu. Desastre esse que levou o presidente da França, Emmanuel Macron, a convocar novas eleições nacionais, num gesto de alto risco destinado a sacudir o lado saudável do país, pois o lado podre francês estava em feroz ebulição e ameaçando a estabilidade. Macron provou que estava certo, mas pagou um preço bem alto.
EQUÍVOCOS NA ÁREA
Pode e deve ser comemorado o resultado das eleições francesas de 2024: a extrema-direita foi derrotada em seu projeto de ganhar a maioria do parlamento e formar um novo governo de Vichy. Vitória importantíssima, sim. Mas é erro primário supor uma derrota acachapante ou mesmo um refluxo político e eleitoral dos herdeiros de Pétain & Laval, pois essa ultradireita capitaneada por Marine Le Pen consolidou sua marcha assustadora e foi o grupo que mais cresceu na Assembleia Nacional da França entre as eleições de 2022 e 2024, abocanhando mais 55 cadeiras, pulando de 88 para 143 representantes no Palais-Bourbon. A Nova Frente Popular, de esquerda, principal responsável pela espetacular virada, cresceu em 33 cadeiras, passando de 149 parlamentares para 182, num avanço significativo. Emmanuel Macron e seu partido “Juntos”, perderam nada mais nada menos que 82 lugares (!), caindo de 250 para 168 deputados. Deve ser considerado também o baque do grupamento de centro-direita “Republicanos”, reduzido em 16 cadeiras, de 61 para 45. Assim, como esses números comprovam, não se pode menosprezar, muito menos ignorar, o ascenso da extrema-direita.
FRENTE INDISPENSÁVEL
Mais uma vez está provada a necessidade imperiosa da política de frente única, da frente ampla contra a ultradireita – na França e no resto do mundo. No mesmo dia em que o segundo turno das eleições fazia tremer o solo francês, o circo da direita mais extremada, em sua versão latrina-americana, montava seu picadeiro no Balneário Camboriú, em Santa Catarina (área onde existem mais células neonazistas no Brasil), para o espetáculo dos palhaços destros Jair & Milei, provocando o êxtase de numerosa plateia patriotária. Dias antes, nos Estados Unidos, Trump (exagerando nas mentiras) atropelou um sonolento Biden no primeiro debate das prévias presidenciais, enquanto a Suprema Corte de direita resolveu lhe anistiar, graciosamente, pela tentativa de golpe em 6 de janeiro de 2021. O mundo continua em perigo. Mas, nesses agitados dias, a resistência venceu e não foi só na França: o povo britânico deu um chute nos governantes conservadores que tomavam conta do Reino Unido há 14 anos.
E a luta continua! Abaixo a ultradireita em todos os cantos da terra!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.