Enio Lins
A fogueira tá queimando/ Em homenagem à eleição
Cantou Luiz Gonzaga: “A fogueira tá queimando/ Em homenagem a São João/ O forró já começou/ Vamos gente, rapapé nesse salão”. Agora, encerradas as festas juninas, é que as labaredas vão subir nas campanhas municipais. Em Maceió o quadro está morno, capaz de gerar ilusões a torto e à direita (expressão cuja norma culta indica ser “a torto e a direito”, aqui usada como reza a compreensão popular: “à esquerda e à direita”). À destra, se acredita numa vitória fácil do atual prefeito; a canhota acha que várias candidaturas é o melhor caminho. O fato, inegável, é que apenas a fogueira de JHC está crepitando, solitária – e há muito tempo. As várias oposições ainda juntam madeira e escolhem os locais para acender o lume.
FAVORITISMO USUAL
Desde quando recriada no Brasil, pela Emenda Constitucional nº 16, em 1997, a reeleição para mandato consecutivo no Poder Executivo tem consagrado como regra a vitória de quem se candidate estando no poder. Existem exceções, raras. Negar o favoritismo de quem concorra aboletado na cadeira de prefeito é obtusidade, assim como é tolice supor sua invencibilidade, pois a política é a arte de quebra de paradigmas – e o recente pleito presidencial prova a capacidade das forças de oposição derrotarem uma candidatura favorita à reeleição. Comemorar pesquisas também é besteira, pois essas mostram apenas um corte no tempo e indicam tendências, mas a inteligência política sabe usar muito bem as estatísticas para reverter uma maré desfavorável.
CENÁRIOS MACEIOENSES
Na capital alagoana, endereço mais significativo para as disputas municipais no Estado, o quadro político segue claro na mesma polarização: de um lado Caldas e Lira, do outro lado Paulo Dantas e Calheiros. Numa posição estratégica, até agora fora do ringue, pontua Marcelo Victor, presidente da Assembleia Legislativa. Nas últimas semanas, o movimento mais importante nesse cenário é a possibilidade de dissensão no grupo situacionista municipal, pela insatisfação da equipe Arthur Lira com a colocação de uma cunha no meio do processo de escolha do vice. No lado oposicionista, a reafirmação da separação entre PT e MDB não chega a ser uma novidade, nem tem o potencial negativo de um racha entre JHC e Lira, mas é algo a ser observado. Até agora, a tendência dessas fissuras, em cada grupamento, é não desaguarem em rompimentos irreversíveis, mas...
TENDÊNCIAS ULULANTES
Como sempre, desde quando se intercalam as eleições municipais e estaduais, as peças movem-se pelo poder da eleição estadual. É esse interesse, o da vitória para o governo do Estado e para a Assembleia Legislativa, o motivo central das arrumações político-partidárias nas disputas pelas prefeituras. Todas as principais lideranças em Alagoas (e nos demais Estados) se posicionam em 2024 pensando em 2026, e as prefeituras – especialmente as das capitais – jogam o mesmo papel, de degrau intermediário fundamental para o patamar mais importante, a ser decidido dois anos depois. Os atritos internos em cada grupo refletem essa condição, a ocupação de espaços para a disputa seguinte e, nesse sentido, uma querela aparentemente secundária hoje pode se consolidar como ruptura real com efeito imediato. Toda tensão é verdadeira e toda atenção é pouca neste momento – tudo pode acontecer, inclusive nada. Inúmeras são as alternativas e, em Maceió, a parada não está definida por antecipação. Tem muita lenha para ser colocada nas fogueiras e muito rapapé para acontecer nesse salão.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.