Enio Lins

O audiovisual nacional segue em cartaz

Enio Lins 21 de junho de 2024

Anteontem, em evento realizado no Rio de Janeiro, o presidente Lula anunciou que o governo federal vai investir R$ 1,6 bilhão no segmento audiovisual, mirando a produção de filmes e séries brasileiras e o desbravamento de áreas no território do streaming. Uma grande iniciativa, em sequência a uma política de acertos nesse setor. Muito bom.

ESFORÇO HISTÓRICO

Não é de hoje que o Brasil tenta encontrar o seu roteiro nesse cenário. O Dia Nacional de Cinema, festejado anteontem, marca a data em que as primeiras imagens em movimento capturadas no nosso país foram exibidas. “Uma vista da Baía da Guanabara”, filmagem realizada pelo migrante italiano Affonso Segretto, teve sua avant première na sede do carioca Jornal do Commercio em 19 de junho de 1898. Num detalhe, 35 anos depois, em 1933, outro pioneiro italiano, Guilherme Rogatto, apresentaria o primeiro longa-metragem alagoano, “Casamento é negócio?”, com o declarado objetivo de viabilizar a atividade cinematográfica como alternativa econômica de porte em Alagoas (e as cenas sugerem o turismo como atividade associada).

MERCADO CULTURAL

Paris, 28 de dezembro de 1895: os irmãos Lumière apresentam, pela primeira vez, um invento deles, chamado Cinematógrafo, “de grátis” para um público de umas 30 pessoas no Grand Café. E abalou corações e mentes. “A chegada do trem na estação” era o título do trabalho de Louis e August (na língua nativa deles, “L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat”) e durava 42 segundos – foi o gozo precoce mais famoso, e mais lucrativo, do mundo. A próxima exibição já teve bilhete vendido por 1 franco, e o novo produto se espalhou rapidamente pelo mundo, como fogo morro acima ou água morro abaixo. No Brasil, ao contrário do “pá-pufe!” do trem dos Lumière na França, a indústria cinematográfica, como vários outros empreendimentos capitalistas, sempre teve problemas para andar por conta própria sem precisar de um empurrãozinho do erário pro motor pegar.

CENA BRASILEIRA

Longa-e-tortuosa-metragem tem sido a história do cinema no Brasil. Me permitam ir usando o termo “cinema”, mas daqui a pouco uso “audiovisual”. Velhos hábitos vernaculares. Nessa senda cinematográfica, em resumo, o principal é identificar se o filme está andando pra frente. Está sim, e bem, especialmente desde a retomada do investimento público federal nos idos de 1994, depois de cinco anos de asfixia. Para citar apenas um exemplo, a produção pernambucana “Baile Perfumado” (Lírio Ferreira e Paulo Caldas), de 1995, valeu cada centavo do recurso público nela depositada, multiplicando-se, por seus resultados, em novos projetos, gerando renda, empregos e – fator essencial – ajudando a descentralizar a indústria audiovisual. O sucesso do Baile confirmou o acerto da visão do “turco” Benjamim Abraão, que no começo dos anos 30 intuiu o Nordeste como cenário apropriado para rentáveis negócios cinematográficos.

LUZ, CÂMERAS, MICROFONES, AÇÃO!

Aplausos para o governo Lula por cumprir seu papel no filme em tela. E cumpre bem! Agora o foco está sobre a turma do audiovisual. O desempenho de cada personagem neste lado de cá, do trabalho real, é a única garantia para a continuidade dessa política governamental acertada e focada. Os resultados precisam desmentir – com fatos, fotos e prêmios da crítica e do público – as sempre renovadas acusações contra o financiamento artístico-cultural. Não bastam palavras, teses. Os produtos resultantes desses investimentos são os únicos argumentos válidos nesse campo de batalha. Mãos às obras, gente.