Enio Lins

“Olha pra aquele balão multicor, como no céu vai sumindo”

Enio Lins 13 de junho de 2024

No calendário católico, hoje é dia de Santo Antônio, bebemorado ontem, saudado na véspera conforme as tradições cristãs herdadas do judaísmo. Viva Santantonho! Como noutros santos períodos festivos, para não esquecer nossas raízes, conversemos novamente sobre os ritos e as belezas dessas festas e crendices, muitas das quais vão sumindo, se descaracterizando com o passar dos tempos.

SANTANTONHO

Não se sabe direito a data de nascimento de Santo Antônio (António, na fonética lusitana), mas se estima 15 de agosto de 1195, em Lisboa. Foi batizado como Fernando de Bulhões, mas não há certeza sobre o sobrenome. Ao se tornar religioso mudou de nome. Dizem os hagiólogos (estudiosos de santos) que ele brilhou como “teólogo, místico, asceta, orador e grande taumaturgo”. Taumaturgo é pessoa versada em mágicas. Chama a atenção a rapidez de sua canonização, em maio de 1232, pelo Papa Gregório IX, finalizada em apenas 11 meses depois de sua morte. António morreu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, daí Fernando de Bulhões ser chamado Santo Antônio de Pádua, mas em sua terra natal é conhecido também como Santo António de Lisboa.

SANTO CASAMENTEIRO

Santo Antônio assumiu a missão de ocupar o lugar a deusa Juno como padroeiro dos casamentos. Repetindo o de conhecimento público (mas pouco divulgado e até mesmo escondido), Juno era a deusa-cônjuge de Júpiter, e como esposa legítima do (infiel) deus-supremo, era a divindade que apadrinhava os casamentos na mitologia greco-romana. Crença muito forte, era exercida cotidianamente através de uma série de sortilégios, meios onde Juno se comunicava em linha direta com pretendentes ao casório, seja escrevendo a letra inicial do nome do noivo/noiva com pingos de vela numa bacia d’água, seja através de outros aplicativos (por aqui foi popular se enfiar uma faca numa bananeira e ler na mancha resultante a letra inicial do futuro noivo – ou noiva); sobre o entendimento brasileiro desta tradição, recomenda-se assistir ao filme “Marvarda Carne”, de André Klotzel. Juno era deusa tão querida que as celebrações dedicadas a seu culto nem mudaram de nome, e seguem sendo chamadas de Festas Juninas. Foi necessário a Igreja Católica escalar três santos (Antônio, João e Pedro) para ocupar seu espaço. Ah, sim: o mês de junho tem esse nome em homenagem a ela.

HORA DE FESTEJAR

No paganismo, as celebrações eram festanças mesmo. Bebida, comida, música e dança marcavam as comemorações aos deuses e deusas. E rolava namoros também, pois amor e sexo eram considerados formas legítimas de oração. Informa o site calendarr.com: “Apesar de hoje estar embasado num forte teor cristão, a origem das festas juninas é pagã. No mês de junho é o final da primavera e começo do verão no hemisfério norte, e o dia 24 é próximo do solstício de verão nesse hemisfério. Era essa a ocasião em que os povos promoviam festas para pedir fartura nas colheitas”, enquanto o site brasilescola.com.br localiza essas pândegas juninas “nos rituais dos antigos povos germânicos e romanos. Os povos que habitavam as regiões campestres, na antiguidade ocidental, prestavam homenagens a diversos deuses aos quais eram atribuídas as funções de garantir boas plantações, boas colheitas, fertilidade etc. Geralmente, tais ritos (que possuíam caráter de festividade) eram executados durante a passagem do inverno para o verão, que, no centro-sul da Europa, acontece no mês de junho”.

Olhem para o céu, onde esse balão multicor não pode sumir. Comam, bebam, namorem à vontade: Juno e Santantonho garantem que não é pecado.