Enio Lins
Insistindo na Educação como prioridade permanente
“Após 'fundo do poço' na pandemia, nível de alfabetização de crianças volta a subir: 56% aprenderam a ler e escrever na idade certa” é a chamada de reportagem publicada n’O Globo/G1, ontem, e assinada por Emily Santos. A matéria tem como pano de fundo a divulgação dos resultados do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, realizada na terça-feira, pelo Ministério da Educação.
SAINDO DO ATOLEIRO
Segundo a reportagem, os números divulgados “refletem o desempenho de crianças de 6 e 7 anos que estudam na rede pública” e os estados campeões nessa lista foram o Ceará, com 85%, Paraná (73%) e Espírito Santo (68%) com os “maiores percentuais de alunos com níveis de escrita e leitura adequados para a idade”. Alagoas cravou 44%, mantendo a saga, desde 2015, de lutar contra a histórica última colocação nos levantamentos sobre alfabetização. Com esse índice (igual ao de Tocantins), a educação alagoana – nesse programa – superou os Estados de Amapá (42%), Bahia (37%), Rio Grande do Norte (37%), e Sergipe (31%). É um avanço, mas muito mais investimentos precisam ser feitos nessa área, mantendo a política governamental alagoana traçada há nove anos, de investimentos crescentes em Educação.
UNIÃO PELA EDUCAÇÃO
Em linhas gerais, a Constituição define que os municípios cuidam da educação infantil e do Ensino Fundamental 1, enquanto os governos estaduais e o do Distrito Federal respondem pelo Ensino Fundamental 2 e pelo Ensino Médio. Salienta o site todospelaeducacao.org.br que “a União, por sua vez, fica com função de coordenação financeira e técnica dessa orquestra, ao mesmo tempo em que conduz as universidades federais” e chama a atenção para a “existência de várias áreas cinzentas no atual sistema” – mais deixemos esses tantos tons de cinza para depois. Vamos ficar, por ora, no antagonismo bicolor: Alfabetização x analfabetismo. Aí entra o papel essencial de uma aliança real entre município, estado e governo federal em programas que garantam o maior número possível de pessoas sabendo ler e escrever corretamente, pois existem jovens e adultos longe do ABC, além das crianças desassistidas em idade escolar.
PAPEL DOS MUNICÍPIOS
Pela mais recente avaliação do IBGE, na análise dos dados do Censo 2022, Maceió é a cidade brasileira (entre os municípios com mais de 500 mil habitantes) com maior número de pessoas analfabetas (8,4%), ficando no último lugar depois de Jaboatão dos Guararapes (PE), com 7,2%; Teresina (PI), com 7,1%; Feira de Santana (BA) e Natal (RN), ambas com 6,6%. Nas demais faixas populacionais, apenas duas outras cidades alagoanas são destaques negativos: Traipu e Estrela de Alagoas, com 32,7% e 34,2% – respectivamente – de moradores sem saber ler nem escrever, ocupam o penúltimo e antepenúltimo posto, no segmento entre 10 mil e 50 mil habitantes. Em todas as demais faixas populacionais, não figuram municípios de Alagoas nas cinco piores posições. Nem nenhum aparece nas cinco melhores colocações, lógico. Mas a situação da capital alagoana exige uma parceria entre a prefeitura e o governo do Estado para reverter esse quadro. Trabalhar em separado, por questões partidárias, é uma tolice.
OBTUSIDADE POLÍTICA
Nesse quadro preocupante, onde tanto Alagoas como Maceió ocupam as últimas posições entre os Estados e os municípios (com mais de 500 mil habitantes), causa grande preocupação o entendimento de que em ano eleitoral seria um delito investir mais em Educação. Considerando que no Brasil temos eleições de dois em dois anos, essa pretendida não-expansão do dispêndio com programas educacionais, alternada entre municípios e estados, se constituirá num imenso desastre para toda a sociedade.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.