Enio Lins

Um velho tema sempre na ordem do dia

Enio Lins 24 de maio de 2024

“Quem é Deus? A diversidade filosófica e religiosa” foi o enunciado da mesa redonda que lotou o Auditório João Sampaio, do CESMAC, na quarta-feira, 22. Tamanha foi a procura que foi aberta uma nova sala para receber o público extra, que acompanhou a discussão por transmissão simultânea. A iniciativa teve o pioneirismo de incluir o pensar ateu entre os pronunciamentos, coisa inédita por aqui. O debate pode ser assistido na íntegra pelo Youtube, no link https://www.youtube.com/live/GD3csIYtXGQ?si=OGt45D_oNcDwT-fS

TEMA ANTIQUÍSSIMO

Desde que a humanidade passou a registrar seus pensares, a questão da fé foi colocada. Platão (427 a.C. – 348 a.C.) avançou na filosofia da religião, isso 500 anos antes de nossa era. Mas, muito antes disso, há 3 mil anos a.C., os pensadores hindus já elucubravam sobre as divindades, e o faraó Akhenaton, que reinou no Egito entre 1.351 a.C. e 1.334 a.C., filosofou sobe o tema e determinou a substituição dos cerca de dois mil deuses egípcios por uma única divindade (Aton). Pense num tema antigo! E desde o início, filósofos ateus – como Tales de Mileto (624 a.C. – 546 a.C.) e Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.) – discordaram de todo esse criacionismo.


TEMA ATUALÍSSIMO

Independente das crenças, e dependendo das crenças, os mais antigos conceitos sobre deuses estão presentes, vivos e se bulindo, em pleno Século XXI. E nesse ano da graça de 2024, se mata e se morre usando a fé em deus como se pode testemunhar no presente conflito entre sionistas e palestinos. E cá, no Brasil, preconceitos religiosos seguem sendo fartamente utilizados como arma de ataque (circulam postagens de vários “influencers” apontando como causas da tragédia gaúcha “a prática de macumbas” e a “alta quantidade de ateus” no Rio Grande do Sul. Lógico que, simultaneamente, a maioria das crenças desempenha papel altamente positivo, seja na luta contra as guerras, seja na solidariedade a todas as pessoas que sofrem em qualquer parte do mundo.

DEUS É ALAGOANO?

Nosso tradicional ufanismo talvez tenha sido o primeiro a produzir a pérola “Deus é brasileiro”. Consigna usada à larga na cultura popular, inclusive como título de filme de Cacá Diégues, cujas locações se deram, majoritariamente, nas paradisíacas paisagens alagoanas, que antes haviam inspirado o jornalista paraibano Noaldo Dantas a escrever um pequeno e delicioso texto intitulado “O dia em que Deus criou Alagoas”. O território alagoano tem uma longa história sobre as religiões, como o alegado sacrifício do Bispo Dom Pero Fernandes Sardinha (versão oficial da qual discordo), em 1556, a “Quebra de Xangô”, em 1912, o assassinato do Beato Franciscano, em 1954 – e muito mais. Enfim, é um dos melhores lugares do mundo para discutir esse tema universal.

APLAUDINDO

Parabéns ao CESMAC, nomeadamente ao Reitor João Sampaio, ao Vice-Reitor Douglas Apratto Tenório, ao Pró-Reitor Rodrigo Guimarães, à Pró-Reitora Acadêmica Adjunta Cláudia Medeiros, e a toda equipe daquela Universidade. Aplausos respeitosos ao Pastor Anderson Nunes, ao espírita Ricardo Santos, ao Padre Everaldo Rodrigues, ao professor Moésio Vasconcelos – membros da Mesa Redonda –, intelectuais dedicados ao tema e à filosofia das religiões. Saudação à Mãe Neide, ausente por motivos de saúde. Agradecendo a honra de ter participado do citado momento, este acima-assinado, ateu juramentado, torce por mais eventos do tipo.