Enio Lins
Um velho tema sempre na ordem do dia
“Quem é Deus? A diversidade filosófica e religiosa” foi o enunciado da mesa redonda que lotou o Auditório João Sampaio, do CESMAC, na quarta-feira, 22. Tamanha foi a procura que foi aberta uma nova sala para receber o público extra, que acompanhou a discussão por transmissão simultânea. A iniciativa teve o pioneirismo de incluir o pensar ateu entre os pronunciamentos, coisa inédita por aqui. O debate pode ser assistido na íntegra pelo Youtube, no link https://www.youtube.com/live/GD3csIYtXGQ?si=OGt45D_oNcDwT-fS
TEMA ANTIQUÍSSIMO
Desde que a humanidade passou a registrar seus pensares, a questão da fé foi colocada. Platão (427 a.C. – 348 a.C.) avançou na filosofia da religião, isso 500 anos antes de nossa era. Mas, muito antes disso, há 3 mil anos a.C., os pensadores hindus já elucubravam sobre as divindades, e o faraó Akhenaton, que reinou no Egito entre 1.351 a.C. e 1.334 a.C., filosofou sobe o tema e determinou a substituição dos cerca de dois mil deuses egípcios por uma única divindade (Aton). Pense num tema antigo! E desde o início, filósofos ateus – como Tales de Mileto (624 a.C. – 546 a.C.) e Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.) – discordaram de todo esse criacionismo.
TEMA ATUALÍSSIMO
Independente das crenças, e dependendo das crenças, os mais antigos conceitos sobre deuses estão presentes, vivos e se bulindo, em pleno Século XXI. E nesse ano da graça de 2024, se mata e se morre usando a fé em deus como se pode testemunhar no presente conflito entre sionistas e palestinos. E cá, no Brasil, preconceitos religiosos seguem sendo fartamente utilizados como arma de ataque (circulam postagens de vários “influencers” apontando como causas da tragédia gaúcha “a prática de macumbas” e a “alta quantidade de ateus” no Rio Grande do Sul. Lógico que, simultaneamente, a maioria das crenças desempenha papel altamente positivo, seja na luta contra as guerras, seja na solidariedade a todas as pessoas que sofrem em qualquer parte do mundo.
DEUS É ALAGOANO?
Nosso tradicional ufanismo talvez tenha sido o primeiro a produzir a pérola “Deus é brasileiro”. Consigna usada à larga na cultura popular, inclusive como título de filme de Cacá Diégues, cujas locações se deram, majoritariamente, nas paradisíacas paisagens alagoanas, que antes haviam inspirado o jornalista paraibano Noaldo Dantas a escrever um pequeno e delicioso texto intitulado “O dia em que Deus criou Alagoas”. O território alagoano tem uma longa história sobre as religiões, como o alegado sacrifício do Bispo Dom Pero Fernandes Sardinha (versão oficial da qual discordo), em 1556, a “Quebra de Xangô”, em 1912, o assassinato do Beato Franciscano, em 1954 – e muito mais. Enfim, é um dos melhores lugares do mundo para discutir esse tema universal.
APLAUDINDO
Parabéns ao CESMAC, nomeadamente ao Reitor João Sampaio, ao Vice-Reitor Douglas Apratto Tenório, ao Pró-Reitor Rodrigo Guimarães, à Pró-Reitora Acadêmica Adjunta Cláudia Medeiros, e a toda equipe daquela Universidade. Aplausos respeitosos ao Pastor Anderson Nunes, ao espírita Ricardo Santos, ao Padre Everaldo Rodrigues, ao professor Moésio Vasconcelos – membros da Mesa Redonda –, intelectuais dedicados ao tema e à filosofia das religiões. Saudação à Mãe Neide, ausente por motivos de saúde. Agradecendo a honra de ter participado do citado momento, este acima-assinado, ateu juramentado, torce por mais eventos do tipo.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.