Enio Lins
Segue em cartaz a enchente de notícias falsas
Por ter sido intensificada, a tempestade de notícias falsas merece mais um comentário, pois nesses trágicos tempos tem como alvo o povo gaúcho. A enchente de mentiras procura desacreditar e desperdiçar os esforços de socorro às áreas alagadas e de salvamento das vidas em risco. O objetivo dessa operação criminosa, ainda em pleno desenvolvimento, é político: visa ampliar prejuízos, sofrimentos e mortes para, simultaneamente, acusar os poderes públicos como responsáveis por isso.
ORQUESTRAÇÃO ASSASSINA
Há uma semana, o jornal Folha de São Paulo informava da virulência e da organização dos disseminadores de falsas notícias, grupos que plantam informações mentirosas contra quem esteja em trabalho solidário às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Os alvos recorrentes eram/são o governo e instituições federais e seus correspondentes estaduais. Profissionais das fake news chegaram a se se deslocar ao território gaúcho para mentir ao vivo, debaixo d’água, visando assim ampliar a “credibilidade” de suas manipulações.
ONDA DE MENTIRAS
No dia 8 de maio a Folha noticiou: “Circula nas redes o discurso de que é só ‘o povo quem está se salvando’ no RS, mas segundo balanço de ontem à noite, somente os trabalhos conjunto de Forças Armadas, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar, PF, PRF e voluntários resgataram 50 mil pessoas. As forças de segurança estaduais, incluindo Brigada Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, mobilizaram mais de 2.000 servidores. O governo federal tem cerca de 14,5 mil pessoas ajudando no estado, sendo 13,6 mil militares”. Desconstruir essa realidade é o objetivo da turma das fakes.
ALVOS PREFERENCIAIS
Há dois dias, ainda acompanhando a atividade desses grupos criminosos, a Folha/UOL informava que nas áreas contaminadas pelas falsificações, além dos ataques aos governos federal e estadual, “70% das menções ao Exército são negativas” e que “para especialistas consultados pelo UOL, por trás desses comentários há uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição da informação”. Sugere, tal constatação, que as Forças Armadas também viraram alvo da extrema-direita, por não terem se engajado no golpe de estado como desejado pelos “patriotários” em 8 de janeiro de 2023, ou para tentar desmoralizar o trabalho militar humanitário, considerado “mimimi” pelos “treinados para matar”.
INTENSIDADE CHOCANTE
Segundo o “Fantástico”, veiculado pela Rede Globo, no domingo, 12, pesquisa da consultoria Quaest identificou que 31% das pessoas entrevistadas receberam notícias falsas sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. Para esse universo de vulnerabilidade, o levantamento apontou “os grupos de WhatsApp como os principais meios de propagação de fake news sobre a tragédia”, com 35% de ocorrência, seguido de 24% que tiveram acesso à desinformação “por amigos”, enquanto políticos e colegas de trabalho empataram como transmissores de mentiras para 11% dos entrevistados. Explicou a Quaest que o levantamento “ouviu 2.045 pessoas, em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos”. Dispensa-se fazer a conta exata sobre quantos milhões no Brasil estão sendo alcançados pelas fábricas de mentiras, mas – grosso modo – corresponde, nesse caso, a uma audiência com mais de 60 milhões de pessoas.
Como dizia uma personagem de velha novela global, “não é brinquedo não”. É crime, e dos grandes, e a Lei não pode deixar essa lama escorrer pelo ralo.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.