Enio Lins
Prefeituras e Câmaras Municipais: fisiologia, política e ideologia
Num estudo sobre o cenário das eleições municipais deste ano, o site Poder360 coletou e analisou números de várias pesquisas realizadas do meio de março até o início de maio. Desses dados, a reportagem assinada por Rafael Barbosa e Maicon Viana indica que o PL é o partido que mais tem nomes competitivos (sete) em 20 capitais pesquisadas, enquanto o PT disputa com chances de vitória em apenas duas nessas duas dezenas de cidades. Por outro lado, pesquisa da Genial/Quaest indica que Lula segue sendo o favorito para a eleição presidencial de 2026, com 47% da preferência contra 39% do Jair, e num cenário Lula x Tarcísio, esse percentual segue semelhante (46% x 40%).
AVALIAÇÕES SOBRE 2024
Centrando no estudo para o voto neste ano e lembrando os empates técnicos nalgumas capitais, o site Poder360 apresentou a seguinte listagem sigla/candidaturas nos primeiros lugares em duas dezenas de capitais: PL, sete; União Basil, cinco; MDB e PSD, quatro; PT, duas; e sete outras siglas aparecem com um nome cada. Nesse rol, vê-se ainda que o poderoso PP de Arthur Lira consta com apenas um nome bem postado nessas pesquisas (em João Pessoa). Uma leitura apressada dessa contabilidade pode levar a conclusões brutalmente equivocadas, pois política não se limita à aritmética, apesar da singela soma dos votos definir o jogo.
DETALHES NEM TÃO PEQUENOS
Cuidados a se considerar nas entrelinhas: Nem toda candidatura está perfeitamente alinhada com suas siglas, e quase nenhuma sigla pode ser considerada como partido com um mínimo de unidade real. Assim, em Maceió, JHC, prefeito e candidato à reeleição, apesar de filado ao PL por conveniência política, está à vontade em se chegar a Lula, como demonstrou na recente visita do presidente à Maceió. Em São Paulo, o MDB é Jair topado e o PSOL Lula fechado, sem que PL e PT tenham nomes próprios aptos para a batalha deste ano na Paulicéia Desvairada, onde a polarização se manifesta de forma aberta no empate Guilherme Boulos e Ricardo Nunes.
VÍCIOS ANTIGOS
Esse estudo do 360 reafirma a capacidade de articulação do extremo-fisiologismo, com o fortalecimento dos partidos do “centrão” indicando que esse tipo de sigla segue sendo a mais atraente do ponto de visa eleitoral, acolhendo as celebridades da extrema-direita, mas indo bem além dessas criaturas e ampliando suas raízes no chamado “baixo clero”. Confirma-se também as dificuldades das forças democráticas (centro, centro-esquerda e esquerda), em – mesmo ocupando a presidência da República – ampliar suas bases políticas e avançar na indispensável conquista de uma maior fatia dos votos no amplo cenário municipal. E notem que esse conjunto de pesquisas não toca numa questão estratégica: as tendências para ocupação das Câmaras nas capitais.
PARLAMENTO PARA LAMENTO
Não é coisa de somenos importância a composição das câmaras, e poucas pesquisas se aventuram nesse campo de difícil prospecção por conta da enorme capilaridade do voto, e da avassaladora prática do dito clientelismo, posto ser a vereança o espaço mais vulnerável ao pedido do favor pessoal. Como todo parlamento, é na ocupação das cadeiras da edilidade que o poder, de fato, começa a ser dividido pela raiz. Assim, resta o apelo para que as lideranças políticas democráticas deem mais atenção à formação de suas chapas proporcionais – sem esquecer das prefeituras, lógico, que é onde se manifestará a silhueta mais visível da política e da ideologia no Brasil 2024.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.