Enio Lins
Viva: mais um bem é considerado Patrimônio Nacional em Alagoas
Em sua 104ª Reunião, realizada em 9 de maio, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou “o tombamento definitivo da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Coqueiro Seco (AL)”. O imóvel estava sob proteção provisória desde 2011, e agora está inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes e no Livro do Tombo Arqueológico. João Ademar Sena Alves Júnior, superintendente do IPHAN/AL, acompanhou pessoalmente essa reunião decisiva.
MAIS UM AVANÇO
Alagoas passa a contar com mais um bem reconhecido como patrimônio nacional brasileiro, e a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, definitivamente, está sob a atenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Obviamente, o imóvel e seus bens móveis tombados continuam a ser propriedade da Arquidiocese Metropolitana de Maceió (tombar não é tomar), e sobre eles se estende agora a proteção federal.
AVANÇAR MAIS
Certo é que outros bens da Igreja Católica merecerem esse status, como a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres (fundação estimada em 1624), na foz do Rio Ipanema, objeto de bela campanha pró-tombamento liderada pela professora Girlene Monteiro. Mas é hora de ir além do patrimônio religioso e enxergar mais o patrimônio laico. Alagoas tem bens não-religiosos reconhecidos nacionalmente, como os inclusos nos perímetros tombados em Penedo e Marechal Deodoro. Mas são poucos. Imóveis importantes como o Palácio Floriano Peixoto, o Teatro Deodoro, o Palácio do Comércio e o Museu Théo Brandão (em Maceió) sobrevivem desprotegidos pelo IPHAN, assim como as antigas cadeias públicas nos municípios de Mata Grande, Pão de Açucar e Porto de Pedras. E o pedido de tombamento nacional para o povoado pão-de-açucarense Ilha do Ferro não foi adiante. E temos muito mais preciosidades laicas ao relento.
CUIDADOS COM O ANDOR
Sobrevêm, ainda por cima, equívocos sobre a laicidade de bens com conexão religiosa, embora o IPHAN tenha – até agora – tratado corretamente esta questão. É o caso da Serra da Barriga, cujo perímetro tombado nacionalmente (e internacionalmente, pelo Mercosul) se refere ao acontecimento histórico do Quilombo dos Palmares (destruído em 1694), mas também é referência para religiosidade afro-brasileira. Da mesma forma, a Coleção Perseverança, de propriedade do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, conservada exemplarmente ao longo de 112 anos (nas primeiras décadas pela Sociedade Perseverança), é testemunha viva da guerra política e da opressão racial/social em Alagoas, cujo epicentro foi a quebra da “Oligarquia Malta” em 1912 – coleção essa em processo de tombamento nacional, solicitado pelo IHGAL, e que tem a atenção de grupos religiosos de matriz africana. Na mesma toada, precisaria ser observada nacionalmente a história da Vila São Francisco e do Beato Franciscano e a tragédia histórica/política ali ocorrida em 1954. Nesses casos, com todo respeito às crenças envolvidas, o sentido do patrimônio é laico.
APLAUSOS POR COQUEIRO SECO
Retornando à vitória em Coqueiro Seco, o arquiteto Sandro Gama, do IPHAN, resume: “o Tombamento da Igreja se deu no Livro da Paisagem por sua localização e relação com a lagoa e o morro; e, no livro de Belas Artes Aplicadas, pelo conjunto decorativo interior de excelente feitura rococó, toda de um mesmo período e feitura. A construção iniciou no fim do século XVIII com conclusão pela metade do XIX, possuindo um excepcional conjunto de imaginária, e apresentando mais uma particularidade – o excelente trabalho de embrechamento [ornamentar com incrustações] nas torres”.
IPHAN, Alagoas lhe deve mais uma. Obrigado! E vamos para as próximas.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.