Enio Lins

Viva: mais um bem é considerado Patrimônio Nacional em Alagoas

Enio Lins 13 de maio de 2024

Em sua 104ª Reunião, realizada em 9 de maio, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou “o tombamento definitivo da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Coqueiro Seco (AL)”. O imóvel estava sob proteção provisória desde 2011, e agora está inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes e no Livro do Tombo Arqueológico. João Ademar Sena Alves Júnior, superintendente do IPHAN/AL, acompanhou pessoalmente essa reunião decisiva.

MAIS UM AVANÇO

Alagoas passa a contar com mais um bem reconhecido como patrimônio nacional brasileiro, e a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, definitivamente, está sob a atenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Obviamente, o imóvel e seus bens móveis tombados continuam a ser propriedade da Arquidiocese Metropolitana de Maceió (tombar não é tomar), e sobre eles se estende agora a proteção federal.

AVANÇAR MAIS

Certo é que outros bens da Igreja Católica merecerem esse status, como a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres (fundação estimada em 1624), na foz do Rio Ipanema, objeto de bela campanha pró-tombamento liderada pela professora Girlene Monteiro. Mas é hora de ir além do patrimônio religioso e enxergar mais o patrimônio laico. Alagoas tem bens não-religiosos reconhecidos nacionalmente, como os inclusos nos perímetros tombados em Penedo e Marechal Deodoro. Mas são poucos. Imóveis importantes como o Palácio Floriano Peixoto, o Teatro Deodoro, o Palácio do Comércio e o Museu Théo Brandão (em Maceió) sobrevivem desprotegidos pelo IPHAN, assim como as antigas cadeias públicas nos municípios de Mata Grande, Pão de Açucar e Porto de Pedras. E o pedido de tombamento nacional para o povoado pão-de-açucarense Ilha do Ferro não foi adiante. E temos muito mais preciosidades laicas ao relento.

CUIDADOS COM O ANDOR

Sobrevêm, ainda por cima, equívocos sobre a laicidade de bens com conexão religiosa, embora o IPHAN tenha – até agora – tratado corretamente esta questão. É o caso da Serra da Barriga, cujo perímetro tombado nacionalmente (e internacionalmente, pelo Mercosul) se refere ao acontecimento histórico do Quilombo dos Palmares (destruído em 1694), mas também é referência para religiosidade afro-brasileira. Da mesma forma, a Coleção Perseverança, de propriedade do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, conservada exemplarmente ao longo de 112 anos (nas primeiras décadas pela Sociedade Perseverança), é testemunha viva da guerra política e da opressão racial/social em Alagoas, cujo epicentro foi a quebra da “Oligarquia Malta” em 1912 – coleção essa em processo de tombamento nacional, solicitado pelo IHGAL, e que tem a atenção de grupos religiosos de matriz africana. Na mesma toada, precisaria ser observada nacionalmente a história da Vila São Francisco e do Beato Franciscano e a tragédia histórica/política ali ocorrida em 1954. Nesses casos, com todo respeito às crenças envolvidas, o sentido do patrimônio é laico.

APLAUSOS POR COQUEIRO SECO

Retornando à vitória em Coqueiro Seco, o arquiteto Sandro Gama, do IPHAN, resume: “o Tombamento da Igreja se deu no Livro da Paisagem por sua localização e relação com a lagoa e o morro; e, no livro de Belas Artes Aplicadas, pelo conjunto decorativo interior de excelente feitura rococó, toda de um mesmo período e feitura. A construção iniciou no fim do século XVIII com conclusão pela metade do XIX, possuindo um excepcional conjunto de imaginária, e apresentando mais uma particularidade – o excelente trabalho de embrechamento [ornamentar com incrustações] nas torres”.

IPHAN, Alagoas lhe deve mais uma. Obrigado! E vamos para as próximas.