Enio Lins
Fim de um sonho de um dia de verão?
Armagedons? No Rio Grande do Sul, o povo está se acabando pela água, e 100 pessoas já haviam morrido na contabilidade feita até quarta-feira, além de374 feridos e 130 desaparecidos. Na Faixa de Gaza, o povo está morrendo pelo fogo, com mais de 30 mil pessoas assassinadas e 67 mil feridas (em números de fevereiro deste ano).
PALESTINA EM CHAMAS
Em 1948, Oswaldo Aranha, Secretário-Geral da ONU (único brasileiro a ocupar esse posto até hoje), apresentou a proposta das Nações Unidas: 53% do território da Palestina para os judeus, 47% para os palestinos, administração internacional para Jerusalém, por ser sagrada para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Os árabes contestaram, pois perderiam 53% do território e porque acreditavam que os sionistas avançariam com gosto de gás sobre os 47% restantes. Os sionistas decretaram-se logo como país independente, formando Israel antes da ratificação do plano da ONU. Os países árabes vizinhos reagiram e a guerra interminável começou. Ao longo destes 76 anos, como os pessimistas previram, Israel avançou implacavelmente e tomou conta de praticamente todo espaço que seria do Estado Palestino.
ERA UMA VEZ A PALESTINA
Do que deveria ser o “Estado Palestino” havia sobrado apenas 25% antes da matança em curso. Até 2023, nos 365 km² da Faixa de Gaza, espremiam-se 2,1 milhões de árabes nativos, e sobre essa nesga superpovoada, na terça-feira, Israel marchou com seus modernos tanques sobre Rafah, fronteira com o Egito. Aquela terra palestina, na prática, já era, e caminha para ficar 100% sob comando israelense, no que se anuncia como mais uma tremenda tragédia humanitária. À leste, nos 5.640 km² da Cisjordânia, onde vivem 3,3 milhões de palestinos, Israel também avança rapidamente, mesmo sem guerra “oficial”, usando seus colonos (fortemente) armados como ponta-de-lança “civil”.
SAUDADES DA OLP?
Em 1964, quando os palestinos resolveram se organizar e falar por si, dispensando a voz dos países árabes “apoiadores”, a Organização para a Libertação da Palestina foi rotulada como “terrorista” pelos sionistas e pelos Estados Unidos. Depois de mais de 20 anos recusando-se a reconhecer Israel, a OLP passou a aceitar a “solução biestatal” em 1988. E, em 1993, Yasser Arafat, fundador e presidente da OLP, em carta oficial dirigida a Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, reconheceu o Estado de Israel, que em troca, reconheceu a OLP como a representante legítima do povo palestino. O sonho da paz no Oriente Médio voltou a acalentar o mundo. Mas se dissipou logo. Em 1995, Rabin foi assassinado por um terrorista judeu. Em 2004, Arafat morreu de forma misteriosa.
HAMAS AMA ISRAEL?
Depois das mortes de Rabin e Arafat, líderes que ousaram se entender, a OLP foi cercada e minada na liderança da Autoridade Palestina, e o Hamas – após o assassinato, por Israel, em 2004, de seu líder Hassan Yassin – cresceu militar e politicamente sob suspeitas de financiamento sionista, derrotando a OLP na administração de Gaza em 2007 e passando a confrontar Israel na forma que a poderosa extrema-direita israelense sempre desejou. Seu misterioso ataque em outubro de 2023 (quando, inexplicavelmente, furou o inexpugnável sistema de defesa de Israel) resultou na justificativa para o massacre imposto aos palestinos desde então. Como tem repetido o genocida Bibi Netanyahu, suas tropas não se deterão até alcançarem 100% de seus objetivos: ocupação de 100% do território palestino e destruição de 100% da identidade palestina na região, aí incluso o Hamas (que lhe tem sido tão útil).
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.