Enio Lins
As grandes enchentes e o navio gaúcho para Alagoas
Relembrou o notável jurista Marcos Bernardes de Mello, em pequena crônica postada no grupo de integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, histórias que circularam amplamente em Maceió nos tempos idos. São narrações quase desaparecidas sobre a grande tragédia da tromba d’água desabada sobre a capital alagoana em maio de 1949, provocando prejuízos nunca dantes vistos nessas paragens e causando a morte de muitas pessoas, várias soterradas pelo deslizamento da barreira do Poço, mais ou menos defronte à antiga Escola Industrial (hoje IFAL, ex- Escola Técnica Federal). E a grande ponte do Salgadinho, riacho que acabara de ser “retificado” foi simplesmente engolida pelas águas.
AJUDA DO RIO GRANDE DO SUL
“Diante da tragédia lembro-me de que os gaúchos mandaram para nossos flagelados um navio carregado de doações”, escreveu Marcos Mello, sem se esquecer do folclore político: “corria na cidade que uma Comissão foi ter com o Governador Silvestre Péricles para saber a quem entregar as doações. E o encontrou no Palácio procurando alguma coisa sobre o birô coberto de papel. À pergunta de onde entregar as doações ele teria dito: ‘Só não entreguem aqui no Palácio, porque já roubaram minha tesourinha de unha’”. O fato é que esse navio gaúcho abarrotado com doações para Alagoas marcou profundamente nossa sociedade e, em boa hora, o episódio foi relembrado.
AJUDA AO RIO GRANDE DO SUL
“Mesmo que nossa pobreza não nos permita uma doação significativa, parece-me ser hora de sermos solidários com nossos irmãos do Sul, que sofrem demais, estimulando quem possa fazê-lo”, conclui Marcos Bernardes de Mello em seu texto aos membros do IHGAL. Essa é a ideia: solidariedade sempre, solidariedade efetiva (material) para uma comunidade vitimada. Mesmo que nossa memória histórica não tivesse o registro do navio gaúcho em 1949, é nossa obrigação “chegar junto” dos pampas nesse momento de dor coletiva. Não podemos esquecer dos inúmeros outros gestos de solidariedade recebidos pela população alagoana quando de nossas cheias tão recorrentes – nunca faltaram ajudas importantes vindas de fora.
AJUDA PÚBLICA E PRIVADA
Sobre o atual desastre gaúcho, é importante destacar que a tragédia comprova, positivamente, que o Brasil voltou a ter um presidente da República depois de quatro anos de acefalia moral no Palácio do Planalto. Alagoas sabe da importância da visita de um presidente da República em situações semelhantes: Fernando Henrique Cardoso visitou a região alagada em São Luiz do Quitunde no ano 2000 e Lula esteve presente nas áreas inundadas de Rio Largo em 2010, e um aspecto não é mero detalhe: nesses dois casos, os presidentes da República e os governadores alagoanos eram adversários políticos (FHC x Ronaldo Lessa e Lula x Téo Vilela) mas eram humanistas e cidadãos capazes de compreender a função de estadista como indispensável a quem quer que esteja investido do poder constituído.
COMO AJUDAR
Informa a Agência Brasil: “O governo do Rio Grande do Sul reativou a chave Pix para doações em dinheiro para ajudar as vítimas de enchentes no estado. A conta bancária nomeada como SOS Rio Grande do Sul, aberta no Banrisul, receberá os valores pelo Pix do CNPJ número 92.958.800/0001-38”. Mas, antes de mandar algo, confira e confirme os dados do destinatário, pois vivemos tempos encharcados de golpes digitais.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.