Petrucia Camelo

MULHER E MÃE

Petrucia Camelo 03 de maio de 2024

Um pequeno fragmento da palha de cebola eventualmente preso aos cabelos, como se fosse um transparente estandarte apresentava o que aquela mulher defendia ao trabalhar no dia, pois desde bem cedo ela estava disponível a preparar pratos deliciosos, à moda da casa, em comemoração ao Dia das Mães, atendendo ao apelo do seu coração e às vontades de sua prole, mesmo já crescida e bem orientada, mas ávida pelo desejo de sentir o sabor e o cheiro de suas origens gustativas.

É mesmo assim, que a figura materna sempre está a se propor fazer inúmeras coisas, lavrar para colher condições, para suprir necessidades, desenvolver inúmeros papéis na sociedade. Mas também sabe sacrificar-se, como a ajoelhar-se no Templo a orar, por dias, meses, anos a rogar em preces a Deus, a favor do filho, que esteja em dificuldades. Luta desesperadamente, não somente no sentido de proteger a prole, mas também para não deixar que o filho passe a vida de forma invisível na sociedade.

Deus usou de analogia entre os seres e bem o fez em relação à mulher e a terra, pois ambas se assemelham simbolicamente; a simbologia da terra é em geral semelhante à da mulher. A terra simboliza a função maternal, o animal fêmeo tem a natureza da terra. Positivamente, suas virtudes são doçura e submissão, firmeza e calma duradoura.

Para o hindu, imbuído do pensamento da região védica, segundo os ritos funerais, são recitados versos a respeito dessa analogia: vai sob esta terra, tua mãe/ às vastas moradas, aos bons favores! Doce como lã e quem soube dar/Que ela te proteja do nada /Forme arcos sobre ele e não o destruas/Recebe-o, terra, acolhe-o! Cobre-o com a barra do teu vestido/ como uma mãe protege o seu filho. (Rig Veda, Grhyasutra,4,1).

O amor de mãe é como a luz do candelabro: resiste aos ataques dos vândalos, mesmo que lhe quebrem a lâmpada; substituída, logo, logo a vemos acesa a iluminar o caminho; o amor de mãe é como a raiz que não se expõe ao solo, mas trabalha nos subterrâneos da terra para garantir a subsistência dos brotos.

Assim é a natureza materna, arraigada à luta, às aflições que não tiram dela o direito de querer o melhor para os filhos. A força da mãe ainda a torna sábia: o papel que desenvolve faz parte dos argumentos sociais em prol da construção de sua linhagem, mesmo não sendo letrada vale-se da persistência, reivindicando o direito ao bem-estar; é um ser defensor do coletivo, contra qualquer forma de destruição.

Mas o dia dedicado às mães não é para lamentos, e, sim, para reflexões. O dia é convidativo a adentrar a leitura de alguns pontos de incoerência em relação ao trato familiar e à sociedade organizada. Mas é, sobretudo, o dia de entre flores e mimos colher o sorriso maternal, pois o amor se faz notar. Um brinde de louvor às mães!