Enio Lins
Primeiras lições deste primeiro de maio de 2024
Findo o feriado do 1º de maio, é hora de se trabalhar mais pelo que se acredita. Para as obras de contenção contra retrocessos políticos não existe momento de folga, e a versão paulistana 2024 do Dia do Trabalhador oferece ensinamentos preciosos.
MEMÓRIAS DE LUTA
Lembram-se dos primeiros de maio no ABC paulista, especialmente em 1979 e 1980? Ah, é bom não esquecer. Eram daquelas multidões de número impossível de ser calculado com precisão, e foram referências para a fusão entre luta sindical e luta democrática contra a ditadura militar. Fizeram história. É hora de fazer novamente, precisamente porque os tempos mudaram – e muito, e para melhor (do ponto de vista da cidadania, do social e do econômico, sim). Porém, novos problemas se alevantaram.
NOVA ALFABETIZAÇÃO
Mudou o perfil econômico do país e do mundo, e isso obriga a mudanças no sindicalismo e nos movimentos democráticos, e nas esquerdas, aqui e alhures. Não olvidem que a base dos anos 70/80 do século passado não mais existe. Leituras adequadas dessa nova realidade, que nem é tão nova assim, precisam ser feitas, com urgência e profundidade, pelas lideranças sociais, sindicais e políticas. Faz-se necessária uma nova Cartilha do ABC das lutas populares.
METAMORFOSE AMBULANTE
Diferentemente dos primeiros de maio na Vila Euclides nos anos 70/80, os primeiros de maio deste século XXI têm sido chochos e chatos. Há coisa de meio século, o operariado ainda era a força motriz e inspiradora do sindicalismo, e as forças democráticas (centro-esquerda e esquerda) estavam na oposição à direita extremada (e militarizada) no poder. Hoje, o trabalho precarizado é a moda da hora, as forças democráticas estão no governo federal (mas não no poder) e a extrema-direita (poderosa e organizada) faz uma oposição milionária e sem tréguas nem regras. Pois é: o mundo mudou por aqui.
LIÇÕES DO AMANHÃ
Deste primeiro de maio de 2024 emanam duas reações: a esquerda reclama, amua-se com os atos minguados Brasil afora; a direita exulta, anima-se e centra sua cantilena com o que considera deslizes paulistanos, pois – verdade seja escrita – a visão destra está mais acurada ao enxergar a importância nacional da eleição para a prefeitura da capital paulista – o olho direito foca o 1º de maio no Estádio do Corinthians mirando no 6 de outubro. Daí que o que mais incomodou ao bolsonazismo foi o abraço de Lula em Boulos. E não estão errados, pois jair perdendo a prefeitura da maior cidade da América do Sul é a maior derrota que a extrema-direita poderá sofrer nas eleições deste ano.
CORRIGIR RUMOS
Reconhecer o revés é um primeiro passo acertado para evitar novos tropeços, e isso precisa ser feito com atos, com atitudes objetivas, e não com meras palavras. De nada servem lamentações, autoacusações, expiações. Não existem penitências que sejam úteis para outra coisa além de alimentar vícios religiosos. “Levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima” é a lição da sabedoria popular, como canta a composição de Paulo Vanzolini popularizada pelas pretas vozes de Noite Ilustrada e Beth Carvalho. As esquerdas no particular, e as forças democráticas no geral, têm perdido espaço nas ruas, nas mobilizações, nas lutas sociais. Ganhar a presidência da República foi uma tremenda vitória, mas não é tudo. Ouvir atentamente, e interpretar corretamente, os ecos desse pífio 1º de maio paulistano é gesto indispensável, urgente e estratégico.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.