Enio Lins
Dia do Trabalho, uma data universal pouco compreendida
1º de maio, data universal, tem como ponto de partida o arriscado movimento obreiro americano no Século XIX. Naquele dia, no ano de 1886, em Chicago, foi iniciada uma greve por oito horas de trabalho (existiam jornadas de até 17 horas de batente). Segundo o costume americano, o pau cantou numa repressão violenta que resultou em grevistas agredidos, mortos, feridos e presos. Naquele embalo, cinco operários foram acusados de pela explosão de uma bomba e condenados à morte (sem provas). Eram os anarco-sindicalistas Albert Parsons, Adolph Fischer, George Engel, August Spies
e Louis Lingg. Apenas Lingg escapou da execução, mas pela via do suicídio. Os outros quatro foram enforcados no dia 11 de novembro de 1887. Seis anos depois, em 1893, o governo de Illinois os inocentou e reabilitou a memória dos cinco mártires, reconhecendo oficialmente que a acusação havia sido forjada pelo chefe da polícia local, um pilantra que plantara a bomba para justificar a repressão em seguida.
DATA MUNDIAL
Relata a nada proletária Wikipédia: “No dia 20 de junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu convocar anualmente uma manifestação, com o objetivo de lutar pela jornada de 8 horas de trabalho. A data escolhida foi o primeiro dia de maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1º de maio de 1891, uma manifestação no norte da França foi dispersada pela polícia, resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serviu para reforçar o significado da data como um dia de luta dos trabalhadores. Meses depois, a Internacional Socialista de Bruxelas proclamou a data como dia internacional de reivindicação de condições laborais [sic]. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de 8 horas e proclamou feriado o dia 1 de maio daquele ano. Em 1920, a então União Soviética adotou o 1º de maio como feriado nacional, sendo seguida por alguns países”. Em resumo, é isso.
NO BRASIL
Para não puxar a brasa para a própria carapeba, vamos novamente á insuspeita Wiki: “Com a chegada de imigrantes europeus no Brasil, as ideias de luta pelos direitos dos trabalhadores vieram junto. Em 1917, houve uma greve geral. Com o crescimento do operariado, o dia 1º de maio foi declarado feriado pelo presidente Artur Bernardes, em 1925. (...)”. Com o surgimento do Partido Comunista, em 1922, a data passou a ser vista como momento de perigosa agitação subversiva. Segue a enciclopédia digital: “[durante o Estado Novo] a propaganda trabalhista de Vargas, sutilmente, transformou um dia destinado a celebrar o trabalhador em Dia do Trabalho. Tal mudança, aparentemente superficial, alterou profundamente as atividades realizadas no 1º de maio. Até então marcado por piquetes e passeatas, o Dia do Trabalhador passou a ser comemorado com festas populares, desfiles e celebrações similares”. Confesso que gosto da denominação “do Trabalho” por eliminar o gênero da palavra, mas desgosto do tom meramente festivo que findou sendo incorporado pelo movimento sindical brasileiro (pela esquerda sindicalista, inclusive).
E HOJE, COMPANHEIRADA?
Neste 2024, o 1º de maio tem a marca adicional de transcorrer em meio a uma greve nas universidades federais, contra o governo Lula, com antigas e justas reivindicações, é certo. Mas é estranho que essas mesmas bandeiras não levaram a lutas semelhantes contra o governo federal nas recentes gestões do Michel (2016/2018) e do Jair (2019/2022), que passaram seus primeiros de maio em festa. ...Sei não, viu?
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.