Enio Lins

Um patrimônio nacional e um exemplo a ser seguido

Enio Lins 09 de abril de 2024

No domingo, 7 de abril, em Palmeira dos Índios, sob a batuta do prefeito Júlio César, foi reaberta a Casa Museu Graciliano Ramos. Acontecimento memorável, pelo que o imóvel representa, e pelo fato de sua trajetória ser um exemplo que precisa ser estudado com toda atenção. Nos preâmbulos, o maestro Wellington Canuto inovou ao acompanhar, juntamente com a Orquestra Municipal, o multiartista Cosme Rogério num coco de embolada em tributo a Jacinto Silva.

MARCO HISTÓRICO

Um dos primeiros imóveis alagoanos tombados nacionalmente, com processo iniciado em 1963 e concluído positivamente dez anos depois, a Casa de Graciliano Ramos é o primeiro bem “não-colonial” a ser reconhecido pelo IPHAN em Alagoas, e nossa segunda edificação não-religiosa tombada, antecedida na listagem (sem data do processo) apenas por uma “vila colonial - remanescentes” em Porto Calvo, mas da qual não se sabe o destino. A casa é um marco em si, e deve ser considerada, na prática, o primeiro imóvel laico tombado nacionalmente em Alagoas.

IMÓVEIS LAICOS

Numa rápida vista d’olhos à lista de tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Alagoas, se nota que, para edificações laicas, outros quatro (importantes) pedidos foram apresentados nos anos 60, e negados pelo órgão. Foi negado tombamento para: Teatro 7 de Setembro (Penedo), em 1953; Casa da Aposentadoria (Penedo), em 1956; Teatro Deodoro (Maceió), em 1963; e, pasmem, a Penitenciária Pública e casario circundante (Maceió), teve indeferido seu pedido de proteção em 1966! – ô IPHAN, foste tu cúmplice do assassinato da Cadeia Velha??

HISTÓRICO A CONSIDERAR

Destes monumentos laicos cujos tombamentos foram pedidos antes dos anos 1970, a Cadeia Velha foi demolida até aos alicerces, em 1972, num prejuízo irrecuperável. Os demais imóveis citados salvaram-se: os de Penedo, incluídos no tombamento por perímetro; e o Teatro Deodoro graças a resistência do Governo do Estado que o mantém por conta própria até hoje. No ano seguinte ao pedido para a Casa de Graciliano, em Palmeira dos Índios, foi solicitado o tombamento da Casa de Deodoro, em Marechal Deodoro – e, felizmente, aprovado. No mais, a mão protetora do IPHAN tem sido estendida em privilégio de bens religiosos, prática que precisa ser revista.

MEIO SÉCULO

Enfim, há mais 61 anos Palmeira dos Índios procura cuidar da Casa de Graciliano da forma que pode, e desde a aprovação do tombamento nacional em 1973, essa responsabilidade cidadã é compartilhada com o IPHAN. Isto é uma referência para a Cultura e política alagoana. Os períodos de interdição por conta de problemas de conservação são uns maus momentos, recorrentes, nesse longo histórico de bons exemplos públicos. É seguir, daqui pra frente, copiando apenas as boas lições.

MÉRITOS A RECONHECER

Devem ser aplaudidas, como atitudes exemplares: a resiliência dos movimentos culturais palmeirenses, que nunca deixaram de reivindicar os direitos da Casa de Graciliano; a disposição da prefeitura municipal, hoje sob gestão do jornalista Júlio César, que se empenhou – em seus dois mandatos – para recuperar e modernizar o museu do Mestre Graça; os parlamentares que destinaram emendas federais à Casa ao longo dos últimos anos, nomeadamente o deputado federal Paulão e o então senador Fernando Collor; e dever ser aplaudida a presença ativa do IPHAN/AL, parceria imprescindível para a valorização e conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.