O olhar no infinito da existência passada busca, na memória religiosa, o centro da fé; procura Jesus Cristo, um homem adulto, jovem de 33 anos, que fora preso pelos romanos, acusado pelos sacerdotes judeus de contrariar as escrituras sagradas, cujo crime maior foi pregar o amor ao próximo, a ensinar à multidão que o acompanhava; submetido a julgamento por aclamação, foi trocado pela absolvição de um malfeitor, Barrabás. E o olhar encontra Jesus Cristo seminu numa câmara de tortura de uma prisão romana, sendo chicoteado, até verem abrir-lhe a pele de onde o sangue jorra.

Veem-se soldados despreparados, tomados de uma bestial criatividade e disposição para o mal, a provarem que o ser humano possui o instinto do animal irracional. A calma, a serenidade na face e a passividade do prisioneiro provocam e excitam mais ainda os soldados que O detém à disposição de suas atrocidades: batem, zombam e escarneiam, e numa criatividade mórbida, Lhe cravam uma coroa de espinhos sobre a Sua cabeça, de onde o sangue vermelho e viscoso que esguicha logo forma grumos sobre os olhos e cabelos.

E continuando com a seção de tortura, os guardas jogam-lhe sobre os ombros uma surrada capa vermelha servindo-lhe de manto, que logo é embebida de sangue, e um tosco pedaço de vara Lhe é colocado nas mãos como cetro. Horas de tortura se prolongam culminando em procissão do calvário, levando-O às ruas, carregando uma pesada cruz de madeira sob chicotadas, até ao Gólgota, para ser crucificado com a legenda: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus”.

Sobre esse contexto, o terror reflete-se nos arredores, Maria e Marias mãe e seguidoras amargam ao pé da cruz as cenas grotescas impostas ao Filho de Deus. Àquele a quem chamam de Mestre, filho e de o Messias prometido, o rabino que prega sobre o amor e o perdão, e distribui milagres por onde passa. Aquele que dizia “Eu vim para aperfeiçoar a Lei de Deus”. “Amai uns aos outros como Eu vos amei”.

E o olhar retoma o tempo presente, recai sobre a simbologia religiosa da cor roxa que cobre imagens nos altares e faz o itinerário quaresmal das cinco semanas que antecedem a sexta-feira santa. Por meio da fé, apresenta-se numa mostra da memória religiosa que sobre os ombros dos mais devotos ainda recai.

Fazem dos dias consagrados à semana santa uma espera de maneira interiorizada, compromissada com a leitura das narrativas dos evangelhos sobre a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo. Ainda se chora sobre as narrativas bíblicas atribuídas a provação de Cristo. As narrativas, que no momento fazem trabalhar o espírito, faz sentir e exprimir o que o mundo cristão realiza para lembrar o que não deve cair no esquecimento.

Faz-se crer que Deus, tendo Jesus como filho amado, não O abandona; dá-Lhe a Ressurreição, com o direito de escolha para formar os Seus seguidores. A escolha é de Cristo na formação de Seu rebanho; Ele escolhe paulatinamente e individualmente os Seus seguidores; nós não O escolhemos; somos escolhidos por Ele. Uma santa vontade revelada desde a escolha dos apóstolos. Então, a Semana Santa é propícia para compartilhar o itinerário de um novo começo sob o olhar de Jesus Cristo.