Enio Lins
Quem não se comunica se trumbica, já dizia o filósofo Chacrinha
Rolou (como diz a garotada) a aguardada primeira reunião do ano do ministério Lula. Segundo a mídia, com os debates internos norteados por um leve refluxo na popularidade do presidente – contrariando os bons resultados até agora de seu terceiro governo. Segundo o G1, Lula cobrou de ministros para que “falem de todos os assuntos do governo com o objetivo de melhorar a comunicação e ações serem vistas pelo povo”.
Diz o UOL: “Lula tem repetido durante todo o mandato que os feitos do governo não chegam à população. Nos encontros, costuma dizer que o governo tem diversas conquistas em diferentes setores, mas que o povo não percebe essa ‘sensação’”. É isso mesmo, o governo federal não está se comunicando adequadamente.
REUNIÃO SEM CIRCO
Uma questão sempre importante a destacar é que as reuniões ministeriais com a presidência da República voltaram a ser coisa séria, deixando de ser os apalhaçados e pornográficos encontros presidenciais, ocorridos, sem exceção, entre 2019 e 2022. Esta é uma imensa vantagem para o País. Outro mérito é que o presidente Lula identificou, com acerto, os principais nós que amarram a performance federal; resta, porém, desatá-los com rapidez e eficiência.
Com o cuidado de poupar o bravo Pimenta, Lula repetiu observações críticas sobre a necessidade do governo se comunicar melhor, espalhando essas picantes notas para o conjunto do ministério. É fato que o governo federal tem patinado na comunicação, ficando muito aquém do exigido pela grande guerra midiática em curso, numa debilidade que tem sido marca das forças democráticas e de esquerda, há anos comendo poeira em relação aos velozes e furiosos grupos de extrema-direita.
INFALIBILIDADE É MITO
Lula é gênio, mas não é infalível. E os ajustes na comunicação do governo federal devem começar por ele próprio, organizando ainda mais seus “improvisos”, valorizando parcerias com a mídia tradicional e alianças entre influencers, e evitando exprimir intensidade semelhante entre temas dessemelhantes – como o genocídio na Palestina e as eleições na Venezuela, aquele um crime contra a humanidade (que precisa ser denunciado) e essa uma disputa eleitoral (que precisa ser democrática).
Lula tem experiência de sobra e cada declaração sua – informal ou oficial – ocupa generosos espaços em todas as mídias, e em todo mundo. Mas a comunicação oficial não consegue fazer algo semelhante com as realizações governamentais, é frouxa e ineficaz. O UOL chamou a atenção para a fala do presidente na abertura da reunião: “Se as pessoas não falam bem da gente, ou bem das coisas que a gente fez, nós é que temos que falar” ... Luiz, é hora de mudanças nesse setor.
COMUNICAÇÃO PÍFIA
Não é de agora, faz tempo que os segmentos democráticos, do dentro e da esquerda, vêm apanhando mais que pandeiro de chegança. A extrema-direita segue dando surras no cyberespaço e contaminando a opinião pública. De nada adianta tentar responder acusando esses gabinetes do ódio de propagarem fake news, porque eles vivem disso e com isso alcançam milhões de pessoas a mais que todas as demais forças, alimentando bolhas gigantescas com ignorância e manipulação.
Nesse quesito “comunicação contemporânea de massas”, em todas as mídias, a equipe Lula consegue ser menos eficiente que as forças não-governamentais da esquerda e do centro, que já não é esse balaio todo – e isso é um problema. Já passa da hora do governo federal, institucionalmente, sair da própria bolhinha e entrar nessa guerra contra a desinformação como gente grande, de forma inovadora e eficiente.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.