Enio Lins

Quem não se comunica se trumbica, já dizia o filósofo Chacrinha

Enio Lins 21 de março de 2024

Rolou (como diz a garotada) a aguardada primeira reunião do ano do ministério Lula. Segundo a mídia, com os debates internos norteados por um leve refluxo na popularidade do presidente – contrariando os bons resultados até agora de seu terceiro governo. Segundo o G1, Lula cobrou de ministros para que “falem de todos os assuntos do governo com o objetivo de melhorar a comunicação e ações serem vistas pelo povo”.

Diz o UOL: “Lula tem repetido durante todo o mandato que os feitos do governo não chegam à população. Nos encontros, costuma dizer que o governo tem diversas conquistas em diferentes setores, mas que o povo não percebe essa ‘sensação’”. É isso mesmo, o governo federal não está se comunicando adequadamente.

REUNIÃO SEM CIRCO

Uma questão sempre importante a destacar é que as reuniões ministeriais com a presidência da República voltaram a ser coisa séria, deixando de ser os apalhaçados e pornográficos encontros presidenciais, ocorridos, sem exceção, entre 2019 e 2022. Esta é uma imensa vantagem para o País. Outro mérito é que o presidente Lula identificou, com acerto, os principais nós que amarram a performance federal; resta, porém, desatá-los com rapidez e eficiência.


Com o cuidado de poupar o bravo Pimenta, Lula repetiu observações críticas sobre a necessidade do governo se comunicar melhor, espalhando essas picantes notas para o conjunto do ministério. É fato que o governo federal tem patinado na comunicação, ficando muito aquém do exigido pela grande guerra midiática em curso, numa debilidade que tem sido marca das forças democráticas e de esquerda, há anos comendo poeira em relação aos velozes e furiosos grupos de extrema-direita.

INFALIBILIDADE É MITO

Lula é gênio, mas não é infalível. E os ajustes na comunicação do governo federal devem começar por ele próprio, organizando ainda mais seus “improvisos”, valorizando parcerias com a mídia tradicional e alianças entre influencers, e evitando exprimir intensidade semelhante entre temas dessemelhantes – como o genocídio na Palestina e as eleições na Venezuela, aquele um crime contra a humanidade (que precisa ser denunciado) e essa uma disputa eleitoral (que precisa ser democrática).


Lula tem experiência de sobra e cada declaração sua – informal ou oficial – ocupa generosos espaços em todas as mídias, e em todo mundo. Mas a comunicação oficial não consegue fazer algo semelhante com as realizações governamentais, é frouxa e ineficaz. O UOL chamou a atenção para a fala do presidente na abertura da reunião: “Se as pessoas não falam bem da gente, ou bem das coisas que a gente fez, nós é que temos que falar” ... Luiz, é hora de mudanças nesse setor.

COMUNICAÇÃO PÍFIA

Não é de agora, faz tempo que os segmentos democráticos, do dentro e da esquerda, vêm apanhando mais que pandeiro de chegança. A extrema-direita segue dando surras no cyberespaço e contaminando a opinião pública. De nada adianta tentar responder acusando esses gabinetes do ódio de propagarem fake news, porque eles vivem disso e com isso alcançam milhões de pessoas a mais que todas as demais forças, alimentando bolhas gigantescas com ignorância e manipulação.

Nesse quesito “comunicação contemporânea de massas”, em todas as mídias, a equipe Lula consegue ser menos eficiente que as forças não-governamentais da esquerda e do centro, que já não é esse balaio todo – e isso é um problema. Já passa da hora do governo federal, institucionalmente, sair da própria bolhinha e entrar nessa guerra contra a desinformação como gente grande, de forma inovadora e eficiente.