Enio Lins
Quando o buraco é muito mais embaixo
Muito se tem falado sobre a escolha de dois nomes da estrambólica-direita para comissões importantes na Câmara Federal (Comissão de Constituição e Justiça; Comissão de Educação). Deixemos nomes e sobrenomes dessas duas carnavalescas lideranças em respeitoso ocultamento, para evitar mais um like para cada – só como atitude de resistência, pois ambas as criaturas têm milhões de seguidores e, nem que quisessem, notariam uma conexão a menos.
Ambas são figuras nacionalizadas pelo mais espalhafatoso bolsonarismo, usando e abusando do que essa corrente de expressão tem de mais exibicionista e bizarro. Dessa dupla, mais conhecido é o moço, que chegou a ocupar a tribuna com um discurso homofóbico e misógino, em 8 de março de 2023, usando uma peruca loura e dizendo que se chamaria dali pra diante de “Nicole”, malgrado apresentar-se na vida irreal como “macho raiz” – e com esse gesto ganhou mais 20 mil seguidores no mesmo dia!
REPRESENTATIVIDADE DO MAL
Pois “Nicole” teria algo como 20 milhões se seguidores nas redes sociais – dizem os especialistas. Esse dado é um dos mais importantes, mesmo que o número não seja exato, para se analisar o porquê de uma pessoa chegar à presidência da Comissão de Educação da Câmara Federal quando afirma não saber se a terra é redonda ou plana, além de ser notório passador de fake news.
Fato é que personagens como esses representam muitos milhões de corações e mentes Brasil (e mundo) afora, e comprovam o crescente peso de um ideário capaz de reunir praticamente todas as desumanidades: preconceitos, fobias antissociais, arrogância, mentira, covardia, hipocrisia, aversão à ciência e à cultura – e a defesa da violência pela violência. São intérpretes legítimos, autênticos, da pura maldade.
IDEIAS EM LUTA, COMO SEMPRE
Entender esse avanço político e eleitoral dessas tendências junto ao povo é uma questão vital colocada para qualquer pessoa minimamente civilizada. Mais entendimento para um melhor combate, esse é o dever de casa, desafio que não se restringe à esquerda, mas também se aplica a segmentos conservadores. Não se esqueçam que Churchill, altamente conservador e anticomunista, foi um dos líderes mundiais mais importantes para o enfrentamento e a derrota de Hitler.
Não será possível um combate à altura dessas figuras sem construir uma frente ampla (e bem larga). Nunca se esqueçam que o falso messias arrebanhou 49,10% dos votos do eleitorado brasileiro em 2022, isso depois do quadriênio mais desmoralizado e improdutivo da história da República brasileira... É nessa realidade que o dito “Chupetinha” se elegeu como o deputado mais votado em todo país, arrebanhando 1.492.047 votos mineiros.
O MAL EM NÚMEROS FEDERAIS
Se alguém acha que esse resultado mineiro, em 2022, é um ponto fora da curva, algo “inesperado”, é só checar quem foi o nome mais votado – no país – para deputado federal na eleição anterior: Dudu Bananinha, o famigerado Zero-Três, que engoliu 1.814.443 votos paulistas em 2018. Ainda em 2022: Pazuello, o general do genocídio pelo Covid, foi o segundo deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, com 205.324 votos...
Essa é uma tendência deletéria que cresce e se fortalece, e por isso precisar ser melhor combatida. Ocupar presidências de comissões importantes no Congresso Nacional é detalhe – detalhe importante, é certo, mas reles reflexo de problema muito maior, uma doença moral que precisa de eficiente tratamento de choque para não continuar a se espalhar como metástase nas urnas Brasil afora.
E como em 2024 teremos as eleições, é momento de dar mais atenção ao voto para as Câmaras Municipais. Para não reclamar depois.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.