Enio Lins

Quando o buraco é muito mais embaixo

Enio Lins 14 de março de 2024

Muito se tem falado sobre a escolha de dois nomes da estrambólica-direita para comissões importantes na Câmara Federal (Comissão de Constituição e Justiça; Comissão de Educação). Deixemos nomes e sobrenomes dessas duas carnavalescas lideranças em respeitoso ocultamento, para evitar mais um like para cada – só como atitude de resistência, pois ambas as criaturas têm milhões de seguidores e, nem que quisessem, notariam uma conexão a menos.

Ambas são figuras nacionalizadas pelo mais espalhafatoso bolsonarismo, usando e abusando do que essa corrente de expressão tem de mais exibicionista e bizarro. Dessa dupla, mais conhecido é o moço, que chegou a ocupar a tribuna com um discurso homofóbico e misógino, em 8 de março de 2023, usando uma peruca loura e dizendo que se chamaria dali pra diante de “Nicole”, malgrado apresentar-se na vida irreal como “macho raiz” – e com esse gesto ganhou mais 20 mil seguidores no mesmo dia!

REPRESENTATIVIDADE DO MAL

Pois “Nicole” teria algo como 20 milhões se seguidores nas redes sociais – dizem os especialistas. Esse dado é um dos mais importantes, mesmo que o número não seja exato, para se analisar o porquê de uma pessoa chegar à presidência da Comissão de Educação da Câmara Federal quando afirma não saber se a terra é redonda ou plana, além de ser notório passador de fake news.

Fato é que personagens como esses representam muitos milhões de corações e mentes Brasil (e mundo) afora, e comprovam o crescente peso de um ideário capaz de reunir praticamente todas as desumanidades: preconceitos, fobias antissociais, arrogância, mentira, covardia, hipocrisia, aversão à ciência e à cultura – e a defesa da violência pela violência. São intérpretes legítimos, autênticos, da pura maldade.

IDEIAS EM LUTA, COMO SEMPRE

Entender esse avanço político e eleitoral dessas tendências junto ao povo é uma questão vital colocada para qualquer pessoa minimamente civilizada. Mais entendimento para um melhor combate, esse é o dever de casa, desafio que não se restringe à esquerda, mas também se aplica a segmentos conservadores. Não se esqueçam que Churchill, altamente conservador e anticomunista, foi um dos líderes mundiais mais importantes para o enfrentamento e a derrota de Hitler.

Não será possível um combate à altura dessas figuras sem construir uma frente ampla (e bem larga). Nunca se esqueçam que o falso messias arrebanhou 49,10% dos votos do eleitorado brasileiro em 2022, isso depois do quadriênio mais desmoralizado e improdutivo da história da República brasileira... É nessa realidade que o dito “Chupetinha” se elegeu como o deputado mais votado em todo país, arrebanhando 1.492.047 votos mineiros.

O MAL EM NÚMEROS FEDERAIS

Se alguém acha que esse resultado mineiro, em 2022, é um ponto fora da curva, algo “inesperado”, é só checar quem foi o nome mais votado – no país – para deputado federal na eleição anterior: Dudu Bananinha, o famigerado Zero-Três, que engoliu 1.814.443 votos paulistas em 2018. Ainda em 2022: Pazuello, o general do genocídio pelo Covid, foi o segundo deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, com 205.324 votos...

Essa é uma tendência deletéria que cresce e se fortalece, e por isso precisar ser melhor combatida. Ocupar presidências de comissões importantes no Congresso Nacional é detalhe – detalhe importante, é certo, mas reles reflexo de problema muito maior, uma doença moral que precisa de eficiente tratamento de choque para não continuar a se espalhar como metástase nas urnas Brasil afora.


E como em 2024 teremos as eleições, é momento de dar mais atenção ao voto para as Câmaras Municipais. Para não reclamar depois.