Enio Lins
Dramas do desplanejamento urbano
Do ponto de vista econômico, alegra os olhos de qualquer pessoa a grande quantidade de prédios (enormes) que estão sendo construídos em Maceió. É impressionante a força da estrutura imobiliária para atender às demandas da explosão populacional.
Do ponto de vista urbanista, fere os olhos de qualquer pessoa a grande quantidade de prédios (enormes) que estão sendo construídos em Maceió. É impressionante a fraqueza da infraestrutura ambiental para suportar tamanha explosão populacional.
PLANO DIRETOR SEM DIREÇÃO
Existe mesmo algum Plano Diretor em vigência por aqui? Fica ainda mais complicado ter respostas convincentes para essa pergunta se considerarmos que já passou da hora de se planejar, como um todo articulado, o crescimento urbano da Região Metropolitana de Maceió, envolvendo os municípios de Rio Largo, Satuba, Marechal Deodoro, Pilar, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco, Paripueira...
Salvo ilusões de ótica, o que se vê a olho despido, em Maceió, é uma tremenda bagunça urbana, a cidade inchando, aos pulos, numa anarquia imobiliária incrível. Arranha-céus brotam do dia pra noite em áreas já superpovoadas, e com tráfego já superengarrafado, como se não houvesse amanhã.
INFRAESTRUTURA PRECÁRIA
Apesar do desconforto urbano se manifestar com força particular no caótico trânsito, os problemas maiores são invisíveis aos olhos e se manifestam na alma subterrânea de toda Região Metropolitana: escoamento de água pluvial, fornecimento de água potável e o esgotamento sanitário. Aí é onde mora o perigo, que pode se complicar ainda mais por conta dos desencontros políticos e administrativos próprios da transição entre os formatos público e privado dos serviços de água e esgoto nesses perímetros em efervescências urbanas/imobiliárias. E nem falemos, agora, na rede elétrica...
ESGOTO EM PAUTA
Numa rápida visita ao site www.aguaesaneamento.org.br
(escolhido ao acaso) encontramos na capital alagoana: 1.031.597 habitantes (segundo o IBGE, em 2021). E, nessa população, 13,17% sem água encanada; 76,27% sem esgoto sanitário (!). No quesito pessoas desabastecidas d’água, estamos dentro da média nacional (15,8%), mas quanto ao saneamento ficamos bem abaixo, pois a média nacional é 33,5% de desatendimento sanitário. Maceió, segundo a fonte citada, é humilhada por um índice negativo maior que dobro da média brasileira.
É uma tragédia que se aguça proporcionalmente ao adensamento urbano, pois uma coisa é o produto de um arruado de casas que usa fossas (mesmo que precárias) numa média de uma privada por residência; e coisa muito diferente é um único prédio de mais de 10 andares, reunindo centenas de vasos sanitários que despejam seus conteúdos num mesmo ponto, ao mesmo tempo – e o que acontece a partir daí?
E esse crescimento alucinante está cravejando grandes edifícios na beira-mar de Maceió, como Guaxuma, totalmente à revelia do saneamento urbano...
AONDE VAI BOIAR?
Para encerrar essas reflexões, por ora, nada mais indicado que uns versos da canção carnavalesca “Emissário Submarino”, composta por Ricardo Mota para o bloco Meninos da Albânia, no ano da graça de 1986:
“Eles disseram que iam jogar
No fundo do mar
O que ninguém quer guardar
Fizeram propaganda na televisão
De que não haveria mais poluição
E que Maceió, cidade mais cheirosa
Teria um futuro cor-de-rosa
E eu acreditei, joguei meu penico fora
Falei: ‘este emissário chegou em boa hora’
Mas cadê, cadê
Onde é que está?
Nosso dinheiro a Casal jogou no mar
Me diga agora, me diga já:
Aonde é que a nossa merda vai boiar?”
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.