Enio Lins

Um dia que só raia de quatro em quatro anos

Enio Lins 01 de março de 2024

Hoje é 29 de fevereiro, data que só é registrada de quatro em quatro anos – e nem sempre, pois é pulada em certos períodos seculares. É um dos dias mais instigantes da história, porque representa um grande avanço na forma de marcar o tempo e no estabelecimento de um calendário universal, simples e prático.

Esse dia é produto do esforço de Júlio César em aperfeiçoar o Calendário Romano, acrescentando ensinamentos da astronomia egípcia, para harmonizar e unificar as fórmulas solar e lunar. Até então os romanos usavam um calendário de 365 dias, mas com o passar dos anos, as estações “saiam do prumo”, prejudicando as plantações e colheitas no vasto império. Para economizar linhas, sugiro a leitura do excelente “Calendário”, livro de David Ewing Duncan.

UM RESUMO

Escreveu o cronista Plínio, o Velho (nascido no ano 23 e morto no ano 79), que Júlio César (então Pontífice Máximo da República Romana) contratou um astrônomo chamado Sosígenes de Alexandria para a tarefa. Segundo a Wikipédia, uma das medidas propostas foi “acrescentar 1 dia de 4 em 4 anos, resultante da diferença de aproximadamente 6 horas entre os 365 dias do novo calendário e o valor médio do ano trópico de 365 dias e 6 horas, ou 365 dias e 1/4 ou 365,25 dias. O dia a intercalar ocorria no 6º (sexto) dia (VI) antes das calendas
de março” – simples, não?

Apresentado por Sosígenes no ano 46 a.C., o novo calendário entrou em vigor no ano seguinte, em 1º de janeiro de 45 a.C., com março perdendo o posto de ser o primeiro mês. César foi assassinado nos idos de março de 44 a.C. O Calendário Juliano ficou em cartaz por 1.627 anos, até 24 de fevereiro de 1582, quando o Papa Gregório XIII, então Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, tendo contratado renomados especialistas, fez uma nova e definitiva mudança para ajustar o tempo que se descobriu perdido nesses 1,6 mil anos. Hoje, o mundo todo segue o Calendário Gregoriano.

DIA DO EQUILÍBRIO

Em 1235, surgiu a especulação que o segundo mês do ano teria tido, por 53 anos, de 45 a.C., a 8 d.C., 29 dias e o dia extra bissexto seria 30, mas Augusto, com inveja do padrinho e antecessor César, além de trocar o nome do mês Sextil para Agosto (em homenagem a si próprio), teria transferido um dia de fevereiro para seu próprio mês, para não ficar com um dia a menos que os 31 do mês de Julho (antes era Quintil e foi renomeado em homenagem a Júlio Cesar). Fica o registro por mera curiosidade.

Para cravar o 29 de fevereiro, não basta a norma “de quatro em quatro anos”. O site querobolsa.com.br explica algumas regras para a definição de qual ano é bissexto: “I) O ano deve ser divisível por 4. II) Se o ano também for divisível por 100, ele só será bissexto se também for divisível por 400. Por exemplo, o ano 2000 foi bissexto porque, embora seja divisível por 100, também é divisível por 400. Por outro lado, o ano 1900 não foi bissexto porque, apesar de ser divisível por 100, não é divisível por 400. Essa regra assegura que o calendário permaneça alinhado com as estações do ano e com os ciclos astronômicos”.

29/02 NA HISTÓRIA

Resumindo o lembrado pela Wikipédia para esse dia, na história: “Em 1504, Cristóvão Colombo usa seu conhecimento de um eclipse lunar
naquela noite para convencer os nativos jamaicanos a fornecer-lhe suprimentos. Em 1940, a atriz Hattie McDaniel torna-se a primeira pessoa afro-americana a ganhar um Oscar (por sua atuação no filme “E o vento levou”), mas como o teatro não permitia entrada de negros, ela não pode subir ao palco para receber a estatueta. Em1988, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu
é detido, junto com uma centena de clérigos, na Cidade do Cabo, África do Sul, por conta de protestos contra restrições estatais impostas às organizações antiapartheid
cinco dias antes” – tem mais, mas fiquemos por aqui. E viva 29 de fevereiro!