Enio Lins
Um dia que só raia de quatro em quatro anos
Hoje é 29 de fevereiro, data que só é registrada de quatro em quatro anos – e nem sempre, pois é pulada em certos períodos seculares. É um dos dias mais instigantes da história, porque representa um grande avanço na forma de marcar o tempo e no estabelecimento de um calendário universal, simples e prático.
Esse dia é produto do esforço de Júlio César em aperfeiçoar o Calendário Romano, acrescentando ensinamentos da astronomia egípcia, para harmonizar e unificar as fórmulas solar e lunar. Até então os romanos usavam um calendário de 365 dias, mas com o passar dos anos, as estações “saiam do prumo”, prejudicando as plantações e colheitas no vasto império. Para economizar linhas, sugiro a leitura do excelente “Calendário”, livro de David Ewing Duncan.
UM RESUMO
Escreveu o cronista Plínio, o Velho (nascido no ano 23 e morto no ano 79), que Júlio César (então Pontífice Máximo da República Romana) contratou um astrônomo chamado Sosígenes de Alexandria para a tarefa. Segundo a Wikipédia, uma das medidas propostas foi “acrescentar 1 dia de 4 em 4 anos, resultante da diferença de aproximadamente 6 horas entre os 365 dias do novo calendário e o valor médio do ano trópico de 365 dias e 6 horas, ou 365 dias e 1/4 ou 365,25 dias. O dia a intercalar ocorria no 6º (sexto) dia (VI) antes das calendas de março” – simples, não?
Apresentado por Sosígenes no ano 46 a.C., o novo calendário entrou em vigor no ano seguinte, em 1º de janeiro de 45 a.C., com março perdendo o posto de ser o primeiro mês. César foi assassinado nos idos de março de 44 a.C. O Calendário Juliano ficou em cartaz por 1.627 anos, até 24 de fevereiro de 1582, quando o Papa Gregório XIII, então Sumo
Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, tendo contratado renomados especialistas, fez uma nova e definitiva mudança para ajustar o tempo que se descobriu perdido nesses 1,6 mil anos. Hoje, o mundo todo segue o Calendário Gregoriano.
DIA DO EQUILÍBRIO
Em 1235, surgiu a especulação que o segundo mês do ano teria tido, por 53 anos, de 45 a.C., a 8 d.C., 29 dias e o dia extra bissexto seria 30, mas Augusto, com inveja do padrinho e antecessor César, além de trocar o nome do mês Sextil para Agosto (em homenagem a si próprio), teria transferido um dia de fevereiro para seu próprio mês, para não ficar com um dia a menos que os 31 do mês de Julho (antes era Quintil e foi renomeado em homenagem a Júlio Cesar). Fica o registro por mera curiosidade.
Para cravar o 29 de fevereiro, não basta a norma “de quatro em quatro anos”. O site querobolsa.com.br explica algumas regras para a definição de qual ano é bissexto: “I) O ano deve ser divisível por 4. II) Se o ano também for divisível por 100, ele só será bissexto se também for divisível por 400. Por exemplo, o ano 2000 foi bissexto porque, embora seja divisível por 100, também é divisível por 400. Por outro lado, o ano 1900 não foi bissexto porque, apesar de ser divisível por 100, não é divisível por 400. Essa regra assegura que o calendário permaneça alinhado com as estações do ano e com os ciclos astronômicos”.
29/02 NA HISTÓRIA
Resumindo o lembrado pela Wikipédia para esse dia, na história: “Em 1504, Cristóvão Colombo usa seu conhecimento de um eclipse lunar naquela noite para convencer os nativos jamaicanos a fornecer-lhe suprimentos. Em 1940, a atriz Hattie McDaniel torna-se a primeira pessoa afro-americana a ganhar um Oscar (por sua atuação no filme “E o vento levou”), mas como o teatro não permitia entrada de negros, ela não pode subir ao palco para receber a estatueta. Em1988, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu é detido, junto com uma centena de clérigos, na Cidade do Cabo, África do Sul, por conta de protestos contra restrições estatais impostas às organizações antiapartheid cinco dias antes” – tem mais, mas fiquemos por aqui. E viva 29 de fevereiro!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.