Enio Lins
Recordações da boemia alagoana na virada do século
Alípio Jorge se foi. Sobre a história do Bar do Alípio, pode e deve ser lido ótimo trabalho publicado por Edberto Ticianeli no site História de Alagoas – vai o link: https://www.historiadealagoas.com.br/bar-do-alipio-comemorou-as-diretas-recebeu-odorico-e-esteve-na-rota-turistica-de-maceio.html
Publicada em 22 de julho de 2017, a reportagem de Ticianeli informa que Alípio Barbosa da Silva, pai do nosso personagem, fundou o Bar do Alípio em 1951, “tendo como local o Mercado Público de Maceió. Antes de chegar ao endereço no bairro do Pontal, o Bar do Alípio passou pela Praça do Pirulito, pelo Motonáutica, Caiçara e na Lagoa consolidou-se como um dos bares mais conhecido da capital”.
BATENDO CONTINÊNCIA PARA ALÍPIO
Lauro Pedroza, médico e colega de Alípio na Escola de Ciências Médicas, lembra uma ocorrência: “Temos uma história engraçada com Alípio, entre tantas, no ECEM [Encontro Científico dos Estudantes de Medicina] de Belém do Pará”.
“Éramos uns 5/6 caminhando pela madrugada de volta para o alojamento. Todos devidamente alcoolizados. Passamos por um quartel das Forças armadas, e tivemos que atravessar a rua, pois era proibido andar na calçada do mesmo. Mais adiante, um outro quartel no caminho, e teríamos que atravessar novamente a calçada. Alípio Jorge liderou a revolta e disse: – ‘Não vamos atravessar a rua porra nenhuma. Sou um ex-aspirante do NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) e pronto’. Andamos alguns metros… quando pula na nossa frente um soldado com um fuzil, e manda atravessar a rua. Alipio, então, grita apontando o dedo para o militar: ‘ENQUADRE-SE, PORRA!!! – Aqui é o ex-aspirante Alípio Jorge, caralho!’ – isso em 1978, em plena ditadura militar.”
“Ficamos olhando entre nós, sem acreditar naquilo, quando o colega Paulo Alfredo, hoje ortopedista, pegou Alípio pelas pernas e o colocou nas costas, pediu desculpas ao soldado, e atravessamos a rua. Dali seguimos até o alojamento, rindo da valentia alcoólica de Alípio”.
UMA REFERÊNCIA INCONTESTÁVEL
Ticianeli: “De um pequeno bar que, por volta de 1977, reunia as lideranças do movimento estudantil e os militantes do PCdoB, o Bar do Alípio se transformou num dos principais locais para se provar o melhor na cozinha alagoana, onde no auge da temporada passava por sua cozinha uma média de 100 quilos diários de camarão”.
Segue Edberto: “E não é pequena a galeria de personalidades que já provaram do tempero do Alípio e que deram sua aprovação as principais iguarias da casa como o Camarão à Moda da Casa, o Camarão Acebolado, a Caranguejada ou o Siri ao Molho de Coco. Lima Duarte, Mário Covas, Bruna Lombardi, Franco Montoro, Caetano Veloso, Orestes Quércia, Chico Buarque de Holanda, Nara Leão, Djavan e João Bosco”. Acrescento eu, por conta própria: José e Guta Mindlin, Paulo e Chico Caruso, Calos Militerno e Anilda Leão, Cacá Diégues... sem falar nos grandes artistas que se apresentaram lá, como os saudosos Baden Powell e Moreira da Silva, dentre outras estrelas nacionais.
ALÍPIO JORGE E A POLÍTICA
Militante das causas democráticas, “Alípio e seu bar eram referências para todas as correntes políticas”, escreveu o boêmio também conhecido como “Galego da Levada”: “Fernando Collor, em 1987, foi pessoalmente levar ao restaurante o convite para que representasse Alagoas na Feira Internacional de Turismo, no Rio de Janeiro. ‘E nós aceitamos o convite do governador e o nosso stand fez o maior sucesso no Hotel Nacional’, conta Alipinho”.
“Para o engenheiro Rui Guerra, aquele foi “um lugar único na cidade”. Ele lembra que gostava de frequentar o bar para tomar Noa-Noa, coquetel de cor avermelhada que misturava rum, conhaque, suco de maracujá e groselha. ‘Eu gostava muito de ir lá com o Guilherme [Palmeira] e quando o pessoal do PCdoB estava eu aproveitava para conversar com eles’ (...), ‘nós nos xingávamos muito uns aos outros, mas aqui tudo terminava numa boa’”, registra o site História de Alagoas.
MEMÓRIAS IMORTAIS
Para Alípio Jorge, os tributos da coluna e deste frequentador do chalé no Pontal, na beira do canal da Lagoa Mundaú, de onde guardo as lembranças dos papos com Alípio e o sabor das inigualáveis fritadas que só aquela cozinha sabia fazer. – VIVA ALÍPIO!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.