Petrucia Camelo

Carnavalizando

Petrucia Camelo 07 de fevereiro de 2024

Estandartes a postos, a hora é momesca, dias de folia, loucura, carnaval... Não existe outra festa popular com tantas denominações como o carnaval; esse destempero é próprio da natureza da festa
carnavalesca, que parece começar na inquietude de suas denominações.

E chama a atenção a resistência desse fato social, em acompanhar os séculos, em seu sentido e significado, talvez porque sempre está em consonância com a época, acompanhando as modificações do evolucionismo, fazendo as alterações de seus costumes e práticas; basta cascavilhar nos escritos dos literatos dos séculos passados, para se identificarem as modificações sofridas.

Dentre outros, podemos citar Raul Pompéia e Machado de Assis, literatos que relatam em seus contos e crônicas as façanhas das personagens de seu imaginário, reais ou fictícias, construídas em cenários de festas do entrudo.

Segundo se registra, essa festa popular tinha a duração de três dias e constava de brincadeiras animadíssimas de batalhas de banhos de bacias d’água, preparo dos limões de cheiro, uma arma feita de limões e laranjas mergulhados em cera derretida e que eram atirados nos familiares ou transeuntes.

Entretanto, no decorrer do tempo, houve alterações grosseiras em sua prática, gerando controvérsias, que culminaram em levante de opiniões contrárias, até sua total proibição.

A partir daí, os literatos contemporâneos, segundo o que se escreve, passaram a se esforçar para dar uma melhor conotação àquela brincadeira, mais civilizada e moderna. Passaram a se ocupar de um novo contexto em seus escritos, que explicitavam o carnaval como uma festa de luxo e que representava uma nova sociedade, deixando para trás as consideradas maneiras aberrantes, grosseiras,
das brincadeiras da época.

Embora se saiba que há de se considerar que o processo de mudanças comportamentais de uma sociedade, somente poderá ser validado com o decorrer do tempo e com o auxílio das mentalidades
das novas gerações.

Tinham-se, ainda, no passado, desde os carnavais do BrasilImpério, mesmo em épocas diferenciadas, sem contudo perder a  tradição, os dias de carnaval como desprendimento na vida do brasileiro, que caía no frevo dos blocos de carnaval de rua acompanhando o cortejo do Deus-Momo, arrancando aplausos da multidão que se aglomerava nas calçadas ou mesmo nos salões de festas usando máscaras, jogando serpentinas ao cheiro de lança perfume e de concursos de fantasias riquíssimas.

Na época atual, nota-se uma mudança comportamental considerável posta em prática como novas opções de entretenimento para os dias carnavalescos: uma grande massa procura afastar-se do centro das cidades para o litoral, completando a capacidade dos hotéis e pousadas à procura de mar e sol, sombra e água fresca, ou melhor, “à procura de água que passarinho não bebe”.

Os carnavalescos também atentam para a precaução dos exageros, ou, mais ainda, dirigem-se ao sambódromo para desfilar por sua escola de samba, acompanhando os carros alegóricos, comprando fantasias, camisetas e outras coisas mais.

E revalidando a nossa tese de que é o carnaval um expert em evolução de formas de comportamento, acompanhando o tempo e promovendo situações a serem vivenciadas, tal qual faz o camaleão, que muda de cor, conforme o ambiente, encerro estas considerações a respeito do carnaval citando a frase escrita por Machado de Assis quando comentava o carnaval de 1896: O carnaval é o momento histórico do ano: paixões, interesses, mazelas, tristezas tudo pega em si e vai viver em outra parte. (Registrada em Carnaval das Letras Pereira, Leonardo Afonso de Miranda, 1968).