Enio Lins
Genocídio sem medo de reprimendas
Já ouviu falar na UNRWA? É a sigla, em inglês para United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East – em bom português: Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio. Pois essa entidade humanitária está na bica para ser detonada, liquidada, pelo sionismo.
No sábado (próximo-passado, como se escrevia), 27, o governo dos Estados Unidos, atendendo demanda israelense, lançou uma campanha para esvaziar monetariamente a entidade, cancelando seus repasses e cobrando que os países subservientes façam o mesmo. Sem grana, mata-se o trabalho de salvar vidas da UNRWA.
GENOCÍDIO GLOBALIZANTE
Diz-nos a Wikipédia: a UNRWA “é uma agência de desenvolvimento e de assistência humanitária que proporciona cuidados de saúde, serviços sociais, de educação e ajuda de emergência aos mais de 4 milhões de refugiados palestinos que vivem na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria”. Era – está sendo asfixiada.
É mais uma prova do objetivo genocida do governo israelense e de seus apoiadores (capitaneados pelos Estados Unidos). Impedir a assistência aos refugiados palestinos significa matar os sobreviventes do massacre em curso. Não existe “guerra ao grupo terrorista Hamas”, existe o extermínio de uma população.
EXTERMÍNIO EM MASSA
No site Outras Palavras, em entrevista ao jornalista Antonio Martins, o cientista político ítalo-brasileiro Giancarlo Summa (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris) declarou que as forças israelenses já mataram “mais de 26 mil pessoas e deixaram 95% da população desabrigada”, e esse boicote tornará o quadro ainda mais cruel.
Denuncia Summa que “o pretexto para sufocar a UNRWA é risível. Uma matéria publicada pelo New York Times, um dia antes de começar a debandada ocidental, aventava a hipótese de 12 funcionários da agência terem auxiliado o Hamas nos ataques a judeus, em 7/10. Os supostos responsáveis nunca foram nomeados, nem apresentadas as circunstâncias em que teriam agido. As ‘informações’, nunca checadas, teriam partido de fontes israelenses”.
LICENÇA PARA MATAR
Aventa o pesquisador que um dos motivos do boicote à UNRWA seria a posição do Tribunal Penal Internacional. Não é impossível que o governo israelense tenha se sentido desautorizado na matança, mas a decisão foi tão tímida, que é difícil crer que possa ter tido tamanha repercussão entre os genocidas. As acanhadas recomendações da Corte de Haia nem falaram em cessar-fogo e apenas solicitaram “evitar acusações de genocídio”.
Quem se acostumou a ser ovacionado a cada morte de “terroristas palestinos” pode ter se abusado com o não-aplauso à política de extermínio dos nativos e expropriação total de suas terras. Seja qual tenha sido a desculpa, o fato é que o governo Biden deu mais um passo ao lado do genocida Netanyahu e suas ações terroristas.
ASSASSINANDO A MEMÓRIA
Explica Summa que “a agência foi estabelecida logo após o Nakba – a grande tragédia palestina, que expulsou de suas casas e terras 500 mil pessoas [em 1948]. Atende cerca de 6 milhões de pessoas, atua não só em Gaza e na Cisjordânia, mas também no Líbano, Síria e Jordânia. A grande maioria vive em campos de refugiados, está forçada à desocupação e não tem condições de sobrevivência por seus próprios meios”.
“Mesmo assim, Tel Aviv quer extinguir a UNRWA, pois a existência do órgão traz à lembrança, automaticamente, a ocupação sofrida pelos palestinos… Além de expulsos, precisam, sob esta lógica, ser desreconhecidos, apagados”, prossegue Giancarlo Summa, que poderia ter acrescentado: depois de perderem suas terras, suas casas, suas economias, os palestinos estão sendo mortos em massa, daí Israel querer matar a agência que atrapalha esse plano, garantindo alguma sobrevida a essa população vilipendiada. Simples assim.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.