Enio Lins

Uma história que nunca deve ser esquecida

Enio Lins 27 de janeiro de 2024
Soldados soviéticos se confraternizam com os prisioneiros libertados de Auschwitz

Em 27 de janeiro de 1945 o Exército Vermelho alcançou o campo de concentração de Auschwitz, libertando os prisioneiros sobreviventes. Em 2002, a UNESCO declarou as ruínas e o sítio arquitetônico de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade e em 2005, a ONU designou a data como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.

Naquele dia, a 322ª Divisão de Rifles do 60º Exército Vermelho encontrou 7.500 esqueléticas pessoas às portas da morte. Os soviéticos localizaram 348.840 ternos masculinos e 836.255 vestidos femininos, montanhas de cabelos humanos, óculos e calçados (muitos de tamanhos infantis) – evidências das proporções do genocídio.

Rudolf Höss, principal comandante de Auschwitz, confessou que teriam sido executadas ali cerca de 3 milhões de pessoas, a maioria judeus, além de soviéticos prisioneiros de guerra. Desses, 2,5 milhões foram assassinados por gás e carbonizados em seguida, e mais meio milhão mortos pela fome e doenças.

TESTEMUNHO DOS SOBREVIVENTES

Posteriormente, dos sobreviventes que passaram em Auschwitz-Birkenau, destacaram-se, dentre outras grandes personalidades, Elie Wiesel (Nobel da Paz, 1986) e Imre Kertész (Nobel de Literatura, 2002), Simone Veil (primeira mulher a presidir o Parlamento Europeu, entre 1979 e 1982), Józef Cyrankiewicz (comunista e membro da Resistência Polonesa, primeiro-ministro e presidente da Polônia).

Primo Levi, cientista e escritor judeu italiano, autor do considerado pela Academia Real Inglesa como melhor livro de ciências do mundo (A Tabela Periódica), também estava entre as esquálidas pessoas libertadas pelo Exército Vermelho, e escreveu o mais marcante livro de memórias sobre aquele campo: “É isto um homem?”, além de contar o duro processo de recuperação e reinserção na sociedade pós-guerra em “A Trégua”.

HORROR RESILIENTE

Apesar de todas as leis em quase todos os países do mundo proibindo o culto ao Nazismo, o neonazifascismo segue vivo: avança nas eleições alemãs, está nos governos da Itália, Hungria e Ucrânia e – por incrível que possa parecer, deixa sua digital no Oriente Médio, com os palestinos hoje sendo massacrados como os judeus foram ontem.

No mundo, voltaram a circular slogans nazifascistas usados entre 1920 e 1945, como “Deus, Pátria, Família” (lema de Mussolini, Itália, e de Plínio Salgado, no Brasil) e/ou “Alemanha acima de tudo” (Deutschland über alles), marca de Hitler. Símbolos nazistas como o “Wolfsangel” (Gancho do Lobo) e o "Schwarze Sonne" (Sol Negro) reaparecem nas fardas e bandeiras das milícias neonazistas, como o ucraniano Batalhão Azov.

TERROR PERSISTENTE

Racismo, supremacismo, ultranacionalismo, machismo, armamentismo, culto à violência, desrespeito às instituições, idolatria das forças armadas – tudo isso é caldo de cultura capaz de fazer brotar novos Auschwitz, pois nega a quem se julga “raça impura”, “comunista”, “vagabundo”, “terrorista”, o elementar direito de viver.

Para o nazifascismo original, os seres impuros eram os judeus, assim como não mereciam existir comunistas, socialistas, democratas, negros, ciganos, índios, mestiços em geral, e até capitalistas que não rezassem na cartilha do Führer e/ou Duce e/ou Divino Imperador do Japão. Para o neonazifascismo, são “indignos de viver”: comunistas, socialistas, democratas, árabes, negros, pobres, ciganos, índios, mestiços, pessoas não-binárias, e até capitalistas que não rezem na cartilha dos novos mitos fanfarrões.

Frente a tudo isso, não se esqueçam de Auschwitz.