Enio Lins
As milícias bolsonaristas e o ódio à educação cidadã
Mentes ingênuas seguem imaginando que a guerra da Democracia e da Liberdade contra as falanges do bolsonarismo estaria finda depois das vitórias nos dois turnos das eleições 2022 e na derrota do golpe miliciano de 8 de janeiro de 2023. Erro infantil.
Repetindo o já escrito aqui e alhures, o bolsonarismo apenas canaliza a maldade, a degenerescência, a corrupção e a covardia que saíram do armário ao longo dos últimos 10 anos – e eclodiram dessas trevas num desbunde apoteótico.
Essas variadas excrescências existem para além do falso messias e tão-somente encontraram em Jair o ser maldoso, degenerado, corrupto e covarde feito sob medida para representar esses ideários em nome “da pátria, de deus e da família”.
DESEDUCAR COMO PRINCÍPIO
Reportagem publicada no site The Intercept, segunda-feira, 15, desnuda as iniciativas de infiltração de grupos bolsonaristas na Conferência Nacional da Educação (CONAE), a ser concluída nos dias 29 e 30 de janeiro.
Escreve o jornalista Paulo Motoryn: “Uma mobilização secreta de grupos bolsonaristas está se preparando para influenciar a Conferência Nacional de Educação com pautas de extrema direita. O objetivo declarado da força-tarefa é ‘formar famílias em todos os estados brasileiros’ para lutar contra o ‘aparelhamento ideológico da educação’”.
Secreta não é mais, isto é certo. O incerto é se a subversão bolsonarista vai conseguir melar o CONAE, e frente a esse risco não cabe vacilação – 8 de janeiro tem de servir como alerta permanente. Golpe é o nome dessa familícia espelhada e espalhada Brasil afora.
Alvo estratégico dessa turma (que inventou falsidades como o “Kit Gay”) é a educação cidadã, laica e libertária – que, por sinal, não é praticada inteiramente em nenhum lugar do Brasil. Mas esses grupos reacionários querem impedir qualquer chance de desenvolvimento de processos educacionais mais elaborados em solo nacional.
Questões essenciais da civilidade, como educação sexual, filosofia e outras temáticas humanistas são demonizadas e vociferadas em contrário a plenos pulmões por grupos que silenciam sobre abusos de religiosos, são coniventes com tentativas de golpe, e têm como mito um miliciano que, acintosamente, é usuário confesso dos 10 pecados capitais.
NÃO FUGIR DA LUTA É A QUESTÃO
Esses grupos precisam ser enfrentados cotidianamente, pois é o futuro que está em jogo. Ter uma educação isenta de preconceitos e doutrinações é a meta. E o que são preconceitos e doutrinações nas escolas? São todos os formatos excludentes, proposições pedagógicas que cerceiem o debate e discriminem a cultura universal.
Essas tendências partidárias, reunidas no tal “Escola sem Partido”, estiveram à frente do MEC entre 2019 e 2022, na gestão mais desastrosa da história, onde quatro desqualificados ocuparam o posto de Ministro (um quinto bolsonarista não tomou posse porque teria falsificado o currículo) e meteram as patas traseiras pelas dianteiras.
Um dos ministros bolsonaristas dessa safra podre, Milton Ribeiro, chegou a ser preso pela Polícia Federal, no dia 22 de junho de 2022, juntamente com dois outros pastores, por suspeita de “operar um ‘balcão de negócios’ no MEC e na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)” – reportou a BBC.
A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
É essa turminha abominável que quer voltar a crescer e manipular os destinos da educação no Brasil. Tendência que não sumiu do mapa com as derrotas nos dias 2 e 30 de outubro de 2022, e nem após a frustrada tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.
Querem porque querem impor suas pautas de deseducação, como analisado por Rafael Guimarães e Cleber Oliveira (Revista Eletrônica da Educação, 29/10/2020), “a deslegitimação do conhecimento, em especial das Ciências Humanas e Artes, as teorias alarmistas sobre balbúrdia nas Universidades, a inversão acusatória contra opositores”.
Alerta total contra essa gente! Impedir qualquer retrocesso na Conferência Nacional da Educação é a missão cidadã da hora.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.