Enio Lins
Dois ícones do futebol de todos os tempos
Zagallo e Beckenbauer se foram nestes primeiros dias de janeiro, aos 92 e 78 anos, respectivamente. Escrevo essas linhas sobre ambos porque, em minha curta – porém abnegada – tentativa de gostar do futebol, os dois marcaram minhas lembranças para sempre por conta da Copa do Mundo de 1970.
Entre 1968 e 1974, fiz o maior esforço para gostar do ludopédio, antanho chamado também de bolapé e outros vocábulos que tentaram abrasileirar o termo britânico football. Findou na vocalização “futebol”, assim como goal virou gol, e tudo mais. Aos 11 anos, totalmente alheio à bola, senti a pressão: “Qual seu time?”, “Sabe jogar bola?”
Tomei minhas decisões: CRB (seguindo a matriarca da família, minha avó Dona Tila, que não estava nem aí para futebol, mas era do “cordão encarnado” no Pastoril) e, junto com meu irmão Élcio, procuramos os garotos da vizinhança (Marcus, Marlon e Dionel) para formarmos um time, posteriormente batizado como Mangabeiras.
Nas proximidades da Copa do Mundo de 1970 estava eu nos trinques em termos de acompanhamento futebolístico, apesar de jamais ter evoluído um mícron na habilidade em campo. Grosso, tinha lugar garantido no banco. Nesse cenário, só simpatizei com a escolha de Zagallo para técnico porque ele era alagoano.
Zagallo chegou já perto da Copa, substituindo João Saldanha – que tinha formado a seleção “dos feras” para a disputa da Jules Rimet no México. Gostava do Saldanha, mesmo sem saber, naquele tempo, do comunismo dele. Aplaudi Zagallo quando ele confirmou Pelé no time, cuja convocação estava sob risco por conta de uma hipotética miopia.
Quando a bola rolou no primeiro jogo em Guadalajara, sabia de cor a escalação da seleção, onde tinha três ídolos principais: Pelé, Tostão e Zagallo. Em seguida, virei fã também de Gerson, Rivelino, Jairzinho, Carlos Alberto e Clodoaldo (por ordem de admiração). Guardei tabelas dos jogos e cartazes desenhados por Otávio e encartados na Placar.
Das demais seleções, entrei para a legião de admiradores de Banks (goleiro da Inglaterra), Mazurkiewicz (goleiro do Uruguai), Didi (técnico brasileiro do Peru), Bobby Moore (zagueiro inglês) e o alemão Beckenbauer. Atacantes? Só os do Brasil. Os demais sumiram da lembrança, até porque valia-me basicamente do patriotismo.
Beckenbauer elevou seu conceito (que sempre foi alto) até níveis estratosféricos: a raça demonstrada numa partida essencial para a Alemanha onde ele jogou boa parte da etapa final com o braço destroncado, na tipoia. Foi impressionante pois seu talento não perdeu nada com tal condição adversa.
Publico, nesta página, uma foto dos dois ídolos cumprimentando-se em 1986, somada a duas caricaturas: Zagallo pelo mineiro Quinho (destacando o cabalístico número 13 do supersticioso Velho Lobo) e Beckenbauer pelo lusitano André Carrilho (com o icônico braço na tipoia da Copa 1970, no jogo Itália 4 x 3 Alemanha).
Zagallo, ao levantar a Jules Rimet em 1970, garantiu lugar eterno como um de meus raros ídolos esportivos. Beckenbauer também, por jogar ferido um jogo inesquecível. Hoje, ambos são memória. Memória mundial, memórias heroicas de um tempo de amor mais puro – por parte das torcidas e dos atletas – ao esporte.
Viva Zagallo! Viva Beckenbauer!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.