Enio Lins
Nem um só capítulo encerrado na novela Braskem
No domingo, 10, a expectativa sobre a Mina 18 se concretizou – parcialmente – na forma de um visível engolimento abruto de água e mais coisas naquele ponto. Alívio por não ter acontecido algo mais catastrófico, mas segue a tensão.
Tensão permanente porque são insuficientes e nebulosos os dados conhecidos sobre a real situação das cavernas deixadas ocas pela extração de sal-gema. Como há meio século, a base para prognósticos se apoia em teorias, prognoses.
Hipóteses baseadas na ciência e nas poucas informações disponíveis, o que obriga à formulação de teses e teses como projeções – pela falta de mais dados objetivos de acompanhamento dessa realidade.
Quanto teria sido preenchido da Mina 18 depois do desabamento? O principal pesquisador sobre esse tema, o professor Abel Galindo declarou ao G1: “Eu imagino que a profundidade [do que cedeu] seja em torno de uns 150 metros”.
Mas, como disse o pesquisador, esse pressuposto se dá sobre os dados disponíveis e que, diligentemente, ele próprio coletou ao longo de décadas. Em detalhes, apenas a Braskem conhece a extensão do problema.
Não se tem certeza nem sobre uma sonda (da Braskem?) que existiria no monitoramento intestino da finada 18. Se existia, foi engolida anteontem – ou não? E quantas minas ocas têm esse tipo de acompanhamento?
Todo pânico é alimentado pela desinformação, e isso continua a acontecer em relação ao quadro geral das áreas comprometidas, e no tocante a cada mina no particular. A insegurança é total, absoluta, em termos de opinião pública.
As estruturas locais (municipal e estadual) de Defesa Civil não têm como coletar esses dados por conta própria. Quem tem tecnologia para isso? Agência Nacional de Mineração (ANM)? Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)?
Só quem tem pleno e minucioso conhecimento sobre o problema é a Braskem, a não ser que tenha feito extração do mineral com total irresponsabilidade ao longo de meio século (o que industrialmente não se explicaria).
Durante 33 anos, desde quando o risco das cavernas foi levantado, até as rachaduras em 2018, a Salgema/Braskem garantia que as minas eram seguras – não tinha dados ou mentia? A coisa segue no mesmo tom, e essa é a maior tragédia.
HOJE NA HISTÓRIA
12 de dezembro de 1098 – vindas da Europa, as tropas cristãs da Primeira Cruzada rompem as muralhas da cidade de Maarate Anumane (localizada na atual Síria), e – depois da rendição dos defensores – massacram cerca de 20 mil habitantes, cometendo toda uma série de atrocidades em massa, inclusive o canibalismo.
Esses excessos das tropas invasoras e sua aceitação pelas autoridades da Igreja Católica na época deixaram abertas feridas que jamais cicatrizaram no mundo muçulmano. Autorizada pelo Papa Urbano II, em 1095, as Cruzadas seguiram barbarizando a região da Palestina ao longo de dois séculos – até 1291, quando os sarracenos reconquistaram a fortaleza de Acre, o último reduto invadido pelos cristãos europeus.
Quase mil anos depois do massacre cometido pelas tropas católicas em Maarate Anumane, a lembrança das barbaridades dos cruzados seguem sendo referência de terror para as populações do Oriente Médio.
Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Maarate_Anumane
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.