Enio Lins
Raízes do mal, ou mal-gema, em Maceió
Pelo menos três elementos devem ser considerados essenciais para o entendimento de como as coisas chegaram aonde chegaram em Maceió, com a comprovação do crime ambiental Salgema/Braskem.
1) SONHO ANTIUSINEIRO – O velho anseio alagoano por outra opção econômica que não a cana-de-açúcar é (ainda hoje) o motor que impulsiona as mais variadas experimentações. Perigosa era a aventura do sal-gema, mas foi apresentada como a redenção econômica contra a “terrível opressão dos usineiros”. A classe média embarcou com gosto rumo a um futuro dito promissor e emancipado das usinas.
2) MANU MILITARI – Os anos 70 marcaram com o fake “milagre econômico”, numa realidade corruptora que a censura à imprensa e a subjugação do judiciário garantia o silêncio absoluto. Nessa cena autoritária, a cloroquímica tinha papel estratégico, mirando o mercado bélico dos organoclorados (em uso pelos americanos na Guerra do Vietnã). Tão importante era essa questão, que o general Geisel, depois de deixar a presidência da República, virou o gestor da Norquisa, holding que controlava a então Salgema. Conforme pode ser lido no site Intercept, o SNI monitorou todas as manifestações contra o projeto Salgema, chegando a detalhar em seus informes de polícia política o desfile do bloco carnavalesco “Meninos da Albânia”, já em 1986.
3) PRECONCEITO CONTRA AMBIENTALISTAS – Mesmo em seus primeiros passos, os movimentos ambientalistas cumpriram seu papel em Maceió, denunciando o que estava em curso, e os famigerados relatórios – então secretos – do SNI comprovam isso. Sofria, o ativismo ecológico, duas pressões distintas: da ditadura militar brasileira e das classes médias alagoanas, estas considerando que “os barbudinhos viados do meio-ambiente” (como lembrou Géo Bentes) atrapalhavam o futuro radioso da indústria química local.
E AGORA? – Desses três fatores, deixou de existir o regime ditatorial-militar. Apesar da unânime grita contra a Braskem, seguem vivos o anseio por novas alternativas econômicas (muito justo) e o preconceito contra ambientalistas (muito injusto). Descartar esse preconceito, unindo ambientalismo aos projetos econômicos inovadores é o caminho para eliminar crimes ambientais – que seguem sendo cometidos noutros campos, além das minas oca
HOJE NA HISTÓRIA
8 de dezembro – Nalgum momento da história multirracial do Brasil, esta data foi escolhia pelos cultos afro-brasileiros como um de seus marcos, camuflando sob o manto dos festejos cristãos os rituais herdados da África autêntica, pré-cristã.
Na liturgia cristã, 8 de dezembro é comemorado desde 1477, quando o Papa Sisto IV criou naquela data a “festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria”.
Traficados como escravos para o Brasil desde o século XVI, os africanos tiveram que “embutir” suas divindades na mitologia católica. Nas comemorações da Imaculada Conceição foram “escondidos” os ritos à Iemanjá (cultura bantu) e a Oxum (cultura iorubá). Para garantir alguma segurança frente à repressão senhorial, os cultos bantus criaram uma imagem de Iemanjá à semelhança de “Nossa Senhora”, como jovem branca vestida num azul virginal.
Em Alagoas, particularmente em Maceió, o Dia de Iemanjá, 8 de dezembro, é a única festa religiosa de rua da matriz africana. Momento histórico muito significativo e que merece ser reconhecido oficialmente como Patrimônio Imaterial.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.